Por Rui Sousa
Adriano Quintanilha e Nuno
Ribeiro não quiseram prestar declarações esta quinta-feira durante a primeira
sessão do julgamento da W52-FC Porto, no qual antigos ciclistas da equipa
respondem pelo crime de tráfico de substâncias e métodos proibidos, com os dirigentes
a responderem ainda por administração de substância e métodos proibidos. O 'patrão' da W52-FC Porto e o então diretor
desportivo apresentaram-se esta manhã no julgamento que decorre no pavilhão
anexo ao Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira.
Durante a manhã já foram
ouvidos Rui Sousa, professor e antigo presidente da Associação de Ciclismo de
Braga, e Marco Vilela, primo de Ricardo Vilela, um dos ciclistas envolvidos.
Carina Lourenço, técnica auxiliar de farmácia, cunhada de Samuel Caldeira,
também já falou.
Os ciclistas Rui Vinhas, João
Rodrigues, Samuel Caldeira, Ricardo Mestre, Ricardo Vilela, Daniel Mestre e
Daniel Freitas aguardavam para prestar declarações durante a parte da tarde.
Na sala estão presentes os 26
arguidos.
O processo
Todos os 26 arguidos vão
responder pelo crime de tráfico de substâncias e métodos proibidos, mas apenas
14 deles respondem pelo de administração de substância e métodos proibidos.
Entre estes estão Adriano
Teixeira de Sousa, conhecido como Adriano Quintanilha e patrão da W52-FC Porto,
a Associação Calvário Várzea Clube De Ciclismo - o clube na origem da equipa -,
o então diretor desportivo Nuno Ribeiro e o seu adjunto José Rodrigues.
Já João Rodrigues, Rui Vinhas,
Ricardo Mestre, Samuel Caldeira, Daniel Mestre, José Neves, Ricardo Vilela,
Joni Brandão, José Gonçalves e Jorge Magalhães são os antigos ciclistas da
W52-FC Porto que vão a julgamento pelo crime de tráfico de substâncias e
métodos proibidos, assim como Daniel Freitas, que representou os dragões entre
2016 e 2018.
A 29 de setembro de 2023, o
Tribunal de Instrução Criminal de Penafiel pronunciou todos os arguidos do
processo 'Prova Limpa' "nos exatos termos da acusação do Ministério
Público [MP]".
Segundo o MP, Adriano
Quintanilha, Nuno Ribeiro e Hugo Veloso, o contabilista e diretor geral da
equipa, terão formulado, "pelo menos
desde o ano de 2020", o propósito "de aumentarem a rentabilidade dos seus ciclistas
[...] com o intuito de obterem melhores resultados".
Assim, "na prossecução do seu desígnio",
os três arguidos "elaboraram um esquema
mediante o qual os ciclistas por si dirigidos" passariam "a utilizar práticas dopantes, designadamente o
recurso persistente à manipulação sanguínea, o que constitui um método
proibido, bem como a administração e consumo de substâncias proibidas".
O MP considera que Nuno
Ribeiro, "fazendo uso da ascendência
profissional que detinha sobre os ciclistas da sua equipa, [...] promoveu entre
estes o consumo de substâncias proibidas", nomeadamente
betametasona, hormonas de crescimento, testosterona e insulina, entre outras,
bem "como a extração e reintrodução de
sangue", prática comummente denominada transfusão
sanguínea.
A acusação do MP, para a qual
remete o despacho de pronuncia, considera indiciada "a
existência de um verdadeiro 'esquema de doping', que de tal forma se encontrava
vulgarizado no seio da equipa, que foi possível recolher elementos de prova
essenciais no autocarro, no carro de apoio, nos locais onde os atletas se
encontravam hospedados e na residência da maior parte deles",
no decurso da operação 'Prova Limpa'.
A 24 de abril de 2022, no
decorrer do Grande Prémio O Jogo, a Polícia Judiciária realizou "várias dezenas de buscas domiciliárias e não
domiciliárias em diversas regiões do território nacional",
envolvendo cerca de 120 elementos e visando maioritariamente as residências dos
ciclistas e dirigentes da W52-FC Porto, e apreendeu várias centenas de seringas
e agulhas de vários tipos, material para transfusão de sangue ou mesmo bolsas
usadas com vestígios hemáticos, e substâncias dopantes como betametasona,
somatropina, menotropina, TB 500, insulina ou Aicar, entre outras.
À exceção de Jorge Magalhães,
cujo processo ainda decorre na instância desportiva, todos os outros ciclistas
estão a cumprir sanções por dopagem, sendo que sete deles Rodrigues, Vinhas,
Ricardo e Daniel Mestre, Caldeira, Neves e Vilela reconheceram a culpa perante
a Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP), que lhes reduziu a pena em um ano.
Fonte: Record on-line
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