'Vingou' a frustração de 2020, quando acabou em segundo atrás do britânico Tao Geoghegan Hart, que o superou no 'crono' do último dia
Por: Lusa
Foto: Reuters
O ciclista Jai Hindley venceu
este domingo a 105.ª Volta a Itália ao leme de uma BORA-hansgrohe
irrepreensível, com uma performance em crescendo que mostrou, como tinha
garantido, que não veio "para calçar
centopeias", mas para ganhar.
Na senda de Cadel Evans, até
aqui o único australiano a vencer uma grande Volta, após triunfar no Tour2011,
Hindley 'vingou' a frustração
de 2020, quando acabou em segundo atrás do britânico Tao Geoghegan Hart, que o
superou no 'crono' do último
dia, para dar nova alegria à Austrália.
Confiante, o ciclista de
Perth, que fez 26 anos um dia antes do arranque da 'corsa
rosa' em Budapeste, surpreendeu os jornalistas que o entrevistavam
durante o último dia de descanso, a caminho da terceira semana da prova.
"Não estamos cá para calçar meias em centopeias, viemos para ganhar a corrida. Por que não?", atirou, antes de explicar esta expressão típica de 'down under': "Quer dizer que não estamos cá para brincar".
A seriedade que Hindley coloca
na estrada contrasta com a abertura que demonstra ao falar dos sucessos e
fracassos, nomeadamente no Giro2020, perdido na última etapa, e com paralelos
com esta edição aí, também chegou à 'maglia
rosa' na 20.ª e penúltima
tirada, apenas para ficar em segundo após o exercício contra o cronómetro.
Nesse ano, na Sunweb, corria
ao lado de Wilco Kelderman, a quem 'roubou',
não sem polémica, a liderança da geral, antes de acabar em segundo e o
neerlandês, que também se mudou para a BORA-hansgrohe e o tem ajudado na
demanda hoje concretizada, em terceiro.
Outro paralelo é a forma como
a história se cruza com a de João Almeida, que há dois anos se mostrava ao
mundo do ciclismo ao vestir a 'maglia rosa' durante 15 dias: nessa edição,
Hindley fez de tudo para 'roubar'
a camisola ao português, acabando por alcançar o seu objetivo no Stelvio, com a
ajuda de outros rivais mesmo que o casaco o tenha 'travado' momentaneamente, numa 'luta' que será perpetuada cada vez que o
seu perfil for escrito.
Também nesta 105.ª edição, em
várias etapas, se juntou ao equatoriano Richard Carapaz (INEOS) e ao espanhol
Mikel Landa (Bahrain-Victorious), seus colegas de pódio, para distanciar o
luso, superior no contrarrelógio.
Longe dos grandes destaques,
das vitórias isoladas e das desgastantes entrevistas e reportagens contínuas,
Jai Hindley passou vários a crescer no World Tour, já depois de fazer 'top 10'
na Volta a França do Futuro e no Giro sub-23.
Em 2018, quando passou pela
Volta ao Algarve, estreou-se em 'grand tours',
na Vuelta, com um 32.º lugar, tendo como líder Wilco Kelderman, que acabou a
prova espanhola em 10.º. No ano seguinte, quase vencia a Volta à Polónia foi
segundo, já depois de se estrear no Giro, com um 35.º posto, bem longe de
Richard Carapaz, nesse ano campeão e neste um adversário destronado.
'Explodiu' em
2020, numa 'corsa rosa' que o revelou, mas também a João Almeida e a Tao
Geoghegan Hart, entre vários outros nomes de futuro que 'abrilhantaram' um Giro quase invernal,
realizado em outubro devido à pandemia de covid-19.
Em 2021, o ano não lhe correu
bem, sem uma única vitória e um abandono na Volta a Itália, gerando dúvidas
sobre o que seria realmente capaz de fazer.
Uma mudança da DSM/Sunweb, que
representou entre 2018 e 2021, após um ano na Mitchelton-Scott, foi exatamente
aquilo de que precisava, juntando-se a uma BORA-hansgrohe que soube correr de
feição para o australiano.
Uma vitória com autoridade no
Blockhaus, na nona etapa, e uma presença segura, sem fraquezas ao longo de toda
a prova, paciente, calculista e cerebral uma prestação mais condizente com a
nacionalidade (alemã) da sua equipa do que com a afabilidade australiana e à
espera do 'colapso' de
Carapaz, acabou por dar frutos.
O campeão olímpico cedeu na
20.ª tirada, após um ataque do australiano, lançado por um colega de equipa, e
deu-lhe a margem necessária para encarar o 'crono'
com tranquilidade.
"Queria
provar a mim mesmo que sou capaz de correr a este nível. Que não foi um golpe
de sorte, como as pessoas nas redes sociais pensam",
declarou, nesse dia de descanso.
Hoje, confirmou os galões de
vencedor de uma grande Volta e encerrou a procura por um novo herói da
Austrália, após Evans e o 'fracasso' de
Richie Porte.
No sábado, tinha prometido "morrer pela camisola", mas não
precisou - a prova de vida está dada, resta saber qual o próximo objetivo do 'sério' Jai Hindley.
Fonte: Record on-line
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