Por: AMG
O britânico William Bjergfelt
(SwiftCarbon) desafiou o destino e, hoje, concilia a carreira na estrada com a
de paraciclista de sucesso, uma missão que abraçou para demonstrar que o
impossível é possível.
Em setembro de 2015, a vida do
ciclista mais velho da 82.ª Volta a Portugal mudou radicalmente: enquanto
descia uma colina perto da sua casa de Mendips, na Grã-Bretanha, a alta
velocidade, foi abalroado por um carro. O impacto do acidente foi tal que os
médicos tiveram de reconstruir-lhe a parte inferior da perna direita com
titânio, recorrendo ainda a um excerto muscular.
“Quando
sofri o acidente, disseram-me que nunca mais poderia andar de bicicleta, e que,
provavelmente, poderia não voltar a caminhar. E eu queria demonstrar às pessoas
que quando traças um objetivo na tua cabeça, podes alcançar coisas
maravilhosas”, confessou à agência Lusa.
E conseguiu-o: compete na
categoria C5, na qual, entre outros feitos, conquistou a prata em scratch nos
Mundiais de paraciclismo de pista em 2019, é financiado pela UK Sports, a
agência governamental responsável pelos atletas olímpicos e paralímpicos
britânicos, o que lhe permite “ter um salário
constante”, e ainda trabalha em ‘part-time’ na GKN Aerospace,
onde está há 21 anos.
Em estreia na Volta a
Portugal, o ciclista de 42 anos reconheceu à Lusa que a participação na prova
“tem sido uma experiência de aprendizagem”.
“O nível
aqui é muito elevado. Esta é a nossa primeira grande corrida da época, estamos
a usá-la como preparação para a Volta à Grã-Bretanha. É uma corrida incrível
para participar. Sabia ao que vinha, porque tive amigos que correram aqui
antes. É lendária, tem a alcunha de ‘a quarta grande Volta’ por algum motivo. Sabíamos
o que nos esperava e tem sido uma experiência para absorver e desfrutar”,
revelou.
Bjergfelt esteve há menos de
dois meses em Portugal, a participar nos Mundiais de Paraciclismo, que
decorreram em Cascais, uma experiência que descreveu como “muito agradável”.
“Estava a
regressar de lesão – parti a perna em abril – e foi bom poder apenas ganhar
ritmo, sabendo que não estava bem o suficiente para garantir um lugar em
Tóquio2020. Estou a fazer isto [a Volta] em vez de ir aos Paralímpicos
[Tóquio2020] e participar na Volta à Grã-Bretanha estava no topo da minha
lista”, vincou.
Acostumado a contrariar o
destino, o ciclista da SwiftCarbon já decidiu que, tendo falhado os Jogos
Paralímpicos Tóquio2020, vai continuar até Paris2024.
“Esse é o
próximo objetivo. E sempre sonhei correr a Volta à Grã-Bretanha, e, com sorte,
após tantos anos a sonhar, vai mesmo acontecer. E também quero passar alguma
experiência aos miúdos [da equipa]. Na quinta etapa [da Volta], houve um
momento em que percebi que a fuga iria formar-se e disse no rádio ao Alex
[Peters] ‘é este o momento em que tens de sair’ e ele foi. Ouviu-me e foi
perfeito”, contou.
Poder “transmitir esse ‘feeling’, essa perceção de que algo
pode acontecer aos mais jovens e ajudá-los e incentivá-los durante a corrida” tem um grande significado para Bjergfelt, que
encontra aí a motivação para continuar o seu percurso no pelotão profissional,
onde chegou pela mão da SwiftCarbon em 2019.
“Adoro
ciclismo, é um desporto tão incrível. Eu era um adolescente com algum excesso
de peso, descobri o BTT e apaixonei-me. Nessa altura, também andava na escola
com um amigo que era ciclista profissional de estrada. Competimos na Taça do
Mundo de XCO durante vários anos. É um desporto fantástico. A camaradagem entre
os ciclistas, os diretores desportivos, e todos no mundo do ciclismo é
incrível”, salientou.
O veterano da formação
britânica vai partir hoje para a sétima etapa da 82.ª Volta a Portugal, uma
ligação de 193,2 quilómetros entre Felgueiras e Bragança, na 81.º posição da
geral, a mais de uma hora do camisola amarela, o espanhol Alejandro Marque
(Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel).
Fonte: Lusa
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