Veteranos ciclistas galegos, de 40 e 38 anos, respetivamente, tinham anunciado o pendurar das bicicletas para este ano, mas mudaram de ideias.
A pandemia de covid-19
arruinou a época de despedida de Gustavo Veloso e Alejandro Marque e ‘forçou’
os dois veteranos galegos a reconsiderar o seu futuro, sendo “quase certo” que
ambos vão continuar no pelotão no próximo ano.
O anúncio estava feito: esta seria
a última temporada de Veloso, de 40 anos, e Marque, 38, no pelotão nacional.
Contudo, as semanas de confinamento, a ausência de competição, os dias passados
nos rolos e não na estrada, os estágios desperdiçados e o cenário desolador de
uma Volta a Portugal sem alma, ‘escondida’ atrás de máscaras, com medidas
severas e restritivas que impedem o convívio entre ciclistas e destes com o
público, fizeram-nos repensar a decisão.
“Creio que nos acontece a
todos. Quando chega a hora, reconsideramos. Este ano também foi um ano
especial, que não nos deixou correr e participar nas corridas que desejávamos.
Estamos a um bom nível, e isso inclina a balança para continuar, é quase certo
que ficamos mais um ano”, confirmou ‘Alex’ à agência Lusa.
A metáfora da balança já tinha
sido a escolhida há uns dias por Veloso (W52-FC Porto) para, de amarela
vestida, após vencer o prólogo, confessar que a cabeça e o coração estavam mais
inclinados para continuar e, à Lusa, o ciclista mais consistente na última
década na Volta a Portugal – venceu em 2014 e 2015, foi segundo em 2013 e 2016,
e terceiro no ano passado – garantiu que, quase de certeza, por cá andará em
2021.
“Sabemos que a Federação fez
um grande esforço para pôr a corrida na estrada, coisa que é de agradecer, e a
situação é esta [de pandemia]. Subimos a Senhora da Graça sem sentir as
barreiras a vibrar e aquele apoio de perto que sempre sentimos. Não seria o
melhor palco para deixar o pelotão”, justificou Marque, sempre o mais expansivo
dos dois amigos.
Enquanto para o ‘dragão’ de
Vilagarcía de Arousa era o desgaste psicológico de duas décadas de profissão,
nas quais venceu a Volta à Catalunha ou uma etapa da Volta a Espanha, que o
empurrava para a despedida, no caso do vencedor da edição de 2013 da Volta a
Portugal e terceiro classificado em 2015 era o desejo de desenhar o seu futuro
a motivar a decisão.
“Sinto que, se quisesse, podia
estar mais quatro ou cinco anos e a um bom nível, porque também comecei tarde
no ciclismo - não me iniciei de cadete, comecei logo nos sub-23 e passei a
profissional. Penso que o ‘motor’ ainda aguenta. O facto de não correr corridas
de três semanas também faz com que pudesse alongar mais a minha carreira. No
entanto, penso que temos de olhar além do desporto. Tenho um pai que se quer
reformar, que tem um negócio que está a funcionar bem, e, pronto, chega a uma
altura em que é preciso olhar para o futuro a longo prazo”, defendeu o ciclista
de A Estrada.
Para Marque, a cumprir, nesta
edição especial, a sua 16.ª Volta a Portugal (só desistiu numa ocasião), deixar
o pelotão nacional é “a lei da vida”.
“Isto acaba por ser uma cadeia
que tem o seu fim. O meu momento está a chegar e vou ter muitas saudades disto.
Falava com o [David] Blanco, perguntava-lhe as sensações depois de deixar o
ciclismo, e ele e outros dizem que se sente muita falta. O primeiro ano é muito
difícil, sobretudo para se orientar. Já não há aquela obrigação de sair para
treinar, é preciso mudar o ‘chip’ daquilo que fizeste durante 20 e tal anos”,
vincou o ciclista que a 23 de outubro faz 39 anos.
O corredor do Atum
General-Tavira-Maria Nova Hotel sabe que, no dia em que abandonar o ciclismo,
terá de voltar a começar do zero. “E com esta idade, o que se torna mais
difícil. Se fores um rapaz de 20 anos, trabalhaste aqui e ali, mas não
estiveste a vida toda a fazer a mesma coisa. Refazer tudo, ter outros hábitos,
é difícil”, sustentou.
“Apesar de termos estado em
equipas diferentes toda a carreira, à exceção de um ano, temos uma amizade
construída em muitos anos de trilhos juntos, de muitas confidências. O que fica
do trabalho são os grandes amigos. Eu percebo-o, ele percebe-me e há muitos
momentos em que nos apoiamos mutuamente. Acabamos sempre por puxar um pelo
outro. Se ele continuar e eu também, pelo menos podemos continuar a treinar
juntos”, referiu Veloso.
Embora assegure que a decisão
final de ‘Alex’ não vai influenciar a sua, o mais velho dos dois amigos não
esconde que “gostava e seria bonito” ambos deixarem o ciclismo no mesmo ano.
Fonte: Sapo on-line
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