O ex-ciclista espanhol considera que Tadej Pogacar "é um ganhador e tem caráter" para igualar os seus cinco triunfos no Tour
Por: Lusa
O ex-ciclista espanhol Miguel
Indurain disse, em entrevista à Lusa, que o esloveno Tadej Pogacar "é um ganhador e tem caráter" para igualar os seus cinco triunfos no Tour, no
meio de uma "mudança geracional" na modalidade.
Em entrevista à Lusa, em Vila
Nova de Gaia, à margem do Porto-Gaia Granfondo, uma prova de 156,6 quilómetros
em que o antigo vencedor de cinco Voltas a França consecutivas vai hoje
participar, 'Miguelón' elogiou
o ciclista da UAE Emirates, vencedor das últimas duas edições da 'Grande Boucle', mas também o português
João Almeida (UAE Emirates) e o belga Wout van Aert (Jumbo-Visma).
Se 'Big Mig' vê
em 'Pogi' "um ganhador", já com dois 'Monumentos' ao lado dos Tour, notando que
o esloveno "sempre que luta é para
ganhar, não para ser segundo ou terceiro", ressalva,
contudo, que as comparações com o belga Eddy Merckx, cada vez mais frequentes,
incluindo pela voz do próprio 'Canibal',
são "um pouco difíceis".
"Porque
Merckx foi o melhor da história. [Pogacar] tem caráter, tem uma forma de correr
muito atacante, mas ainda tem muito para correr. Veremos como vai ser, é
difícil, com o passar dos anos, manter-se a este nível. O primeiro Tour
ganhou-o no último dia, daí para cá tem estado muito bem",
analisa.
O esloveno "já leva dois" triunfos seguidos
no Tour, está "a andar muito bem, com
muita confiança e uma boa equipa", avisa, quando
questionado sobre se poderá chegar aos 'seus'
cinco triunfos consecutivos.
"Se
as lesões o respeitarem... Mathieu van der Poel teve de parar, por exemplo. O
problema, a esse nível, é que uma lesão te atira para fora. Mentalmente, está
forte, vê-se pelo arranque de temporada que fez. Ganhar um Tour é sempre
difícil, e ele leva dois", comenta.
O jovem de Komenda, que se
estreou a vencer no pelotão mundial na Volta ao Algarve de 2019, parece "saber gerir os momentos de tensão e pressão" e "a
equipa tem-no rodeado de gente boa", num "desporto exigente e duro em que, no fim de contas,
sobrevive o que é forte mentalmente".
Questionado sobre a forma como
Pogacar pode lidar com as derrotas, atira logo: "Tem
ganho tudo".
"Mas
chegará o momento em que as coisas não lhe saem bem. Tudo muda, os rivais
competem de outra forma. Chegará, acontece a todos, uma lesão, um problema, uma
má corrida. Veremos como vai gerir. Gerir quando se vai bem é difícil, mas
ainda assim é mais fácil", explica.
Tadej Pogacar é a face visível
de uma nova geração de ciclistas que despontaram muito cedo, como o belga Remco
Evenepoel (QuickStep-Alpha Vinyl), outro 'candidato'
a novo Merckx, ou o português João Almeida (UAE Emirates), para não falar de
outros nomes como o espanhol Juan Ayuso, o dinamarquês Jonas Vingegaard ou o
suíço Marc Hirschi.
"Houve
uma mudança geracional. Há alguns anos que não mudava muito, mas há dois ou
três anos começou. Nestes anos, tenho estado um pouco desligado, não tenho ido
muito às competições, devido às 'bolhas' que as provas foram obrigadas a manter
[pela covid-19]. Não tenho ido às corridas, tem sido pela televisão e pela
imprensa. Há muitos jovens que estão a mexer com tudo", analisa.
Se dantes "em jovem ia-se mais tranquilo, a amadurecer",
agora, sem saber identificar uma razão, e sem ser num ou noutro país mas "em todo o lado", surgem jovens
a mostrar "uma mudança definitiva" no pelotão.
Quanto a João Almeida, que foi
quarto na Volta a Itália de 2020 e sexto em 2021, entre outros resultados de
monta, Indurain vê-o a ter "uma boa
carreira, mas com altos e baixos", com "muita qualidade quando anda bem"
e "muitos anos pela frente no
ciclismo".
"É
um bravo corredor, e também é um ganhador. Quando está bem, vai para ganhar.
Quando não está...", refere.
O português das Caldas da
Rainha partilha a afinidade com o contrarrelógio com 'Miguelón', que analisa o ciclismo atual
também à luz da 'era da televisão',
em que as corridas, tanto os 'cronos'
como etapas de montanha, "têm de ser
explosivas, curtas", para "agarrar
os espetadores".
Mesmo que lhe agradassem
exercícios contra o relógio mais longos, como no seu tempo, em que se faziam
mais diferenças e geravam "um grande
ambiente, com a luta do corredor, em individual, sem táticas, contra o
tempo", compreende que hoje em dia a televisão "dita muito as
regras".
"Dita
horários, tudo o que sai, como boas imagens, que seja um bom espetáculo... é
preciso adaptar-se para se vender. É tudo mais explosivo",
nota, bem como a multiplicidade de documentários e grandes reportagens, que
considera ainda assim atingirem apenas "um público muito de
'aficionados'.
Questionado sobre quem seria o
ciclista mais parecido com as suas características, não um sucessor mas um
modelo próximo do corredor completo que tentou ser, 'escuda-se' de novo nos contrarrelógios
mais curtos, mas menciona o britânico Chris Froome (Israel-Premier Tech), um
tetracampeão do Tour que "fazia muito
bons contrarrelógios longos e é um bom escalador".
Ainda assim, num mundo em que
nas grandes Voltas os escaladores são reis, diz, há uma exceção: o belga Wout
van Aert (Jumbo-Visma), que "faz de
tudo". “'Crono',
clássicas... é um corredor todo-o-terreno. Na montanha, não é um escalador mas
defende-se bem, vai a clássicas, Mundiais. Esse pode ser um pouco o novo
ciclista completo", elogia.
Fonte: Record on-line
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