Portugal
é o terceiro principal país europeu a produzir bicicletas, mas menos de um por
cento dos portugueses usa este meio de transporte. “Exportamos oito vezes mais bicicletas
que as que consumimos”, lembra o diretor da Órbita, que pôs mais bicicletas a
pedalar em Paris que por cá.
Começam
a multiplicar-se em Portugal as iniciativas municipais e governamentais para a
criação de ciclovias e projetos de bicicletas partilhadas, mas o país continua
atrasado neste campo quando comparado com o resto da Europa. Por cá estima-se
que menos de 1% da população utilize a bicicleta como meio de transporte,
enquanto a média europeia ronda 7%. Paradoxalmente, somos o terceiro maior produtor
de bicicletas da Europa, atrás de Itália e da Alemanha.
“Exportamos
oito vezes mais bicicletas do que as que consumimos”, afirma ao Expresso Paulo
Monteiro Rodrigues administrador da empresa Órbita, que há 44 anos fabrica
bicicletas em Águeda. O também ex-dirigente da ABIMOTA - Associação Nacional
das Indústrias de Duas Rodas, Ferragens, Mobiliário e Afins, considera que
assim é porque, em Portugal, por um lado “as pessoas sempre associaram,
sobretudo nos anos 80 e 90, a aquisição do automóvel a uma questão de estatuto
social”, e por outro, “só se começou a pensar reorganizar o espaço urbano e em
soluções de mobilidade suave há meia dúzia de anos”, quando outros países,
sobretudo os do Norte da Europa, levam décadas de avanço.
Porém,
“estamos a evoluir devagar, mas positivamente”, considera Paulo Rodrigues,
lembrando que “quando se investe em mobilidade suave, ganha-se em saúde,
descongestionamento de tráfego e qualidade de vida”. Além de economicamente,
uma vez que “se a média de utilização de bicicleta duplicasse na Europa, de 7
para 15%, o potencial de criação de emprego passaria dos atuais 650 mil para um
milhão”.
Aliás,
o tema este ano da Semana Europeia da Mobilidade (SEM), que começou esta
sexta-feira e se estende até 22 de setembro, é “Mobilidade Inteligente.
Economia Forte”, chamando a atenção para a diminuição dos impactos negativos do
uso do automóvel e lembrando que andando mais a pé ou de bicicleta, contribui
para aumentar em dois anos, reduzir em 15% os dias de baixa por doença e
contribuir para o comércio local. Os especialistas não têm dúvidas de que é
muito mais eficiente percorrer distâncias entre 800 metros e cinco quilómetros
de bicicleta que de carro.
Este
ano, 53 cidades aderiram à semana da mobilidade sustentável, propondo um conjunto
de eventos perenes no tempo, mas também de iniciativas duradouras, onde se
encaixam novas ciclovias e projetos de bicicletas partilháveis.
De
bicicleta para a universidade
O
ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, assinou esta sexta-feira o contrato
do Governo com as universidades que aderiram ao projeto U-Bike, que prevê
distribuir 3234 bicicletas partilháveis por 15 universidades. O projeto conta
com um investimento, numa primeira fase de 6,1 milhões de euros (dos quais 4,8
financiados pelo fundo de coesão) que inclui bicicletas, manutenção e lugares
de parqueamento.
“No
início de 2017 poderemos ver estudantes a circular em bicicletas do programa
U-Bike. É uma semente. Queremos por mais pessoas a andar de bicicleta”, garante
o secretário de Estado Adjunto e do Ambiente, José Mendes.
Este
projeto merece o aplauso de José Carlos Mota, diretor da Plataforma Tecnológica
da Bicicleta da Universidade de Aveiro e um dos mentores do Compromisso pela
Bicicleta, que sublinha também o “envolvimento de perto de cem municípios nos
planos de desenvolvimento urbano sustentáveis” e segundo o qual “a mudança para
a mobilidade sustentável está sobre rodas”.
Mais
cético em relação ao programa U- Bike está José Manuel Caetano, presidente da
Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta. “A ideia
parece-me interessante, mas espero para ver”, afirma, lembrando que “os parques
de estacionamento estão cheios de automóveis e os estudantes parecem gostar
mais de carros topo de gama pagos pelos avós”.
Das
Bugas às Biclas
Vários
municípios têm apostado nos últimos anos na criação de ciclovias e em programas
de bicicletas partilháveis. A começar por Aveiro, cidade pioneira no sistema de
bike sharing com as suas 300 “Bugas”; passando pelas “Agostinhas” em Torres Vedras
(260 bicicletas standard e 30 elétricas) ou pelas bikes partilhavéis de
Vilamoura (200). Entre o final deste ano e início de 2017 mais dois municípios
vão ter a funcionar projetos idênticos.
Cascais
espera ter nas ruas, até ao final do ano, um projeto intermodal que alia 1200
“Bicas” partilháveis, suportes de estacionamento e transportes públicos. E
Lisboa anuncia que terá a circular 1440 “Biclas” em sistema de bike sharing, a
partir de 2017 e que quer duplicar os atuais 60 km de ciclovias.
“Com
o projeto a avançar em Lisboa, haverá um efeito multiplicador no território”,
sublinha Paulo Monteiro Rodrigues. A empresa que dirige, a Órbita, ganhou o
concurso para fornecer as bicicletas partilháveis de Lisboa, mas antes disso já
tinha conquistado projetos semelhantes noutras localidades portuguesas, como
Ovar, Estarreja, Viseu ou Oliveira de Azeméis, e em cidades europeias como
Paris, Málaga ou Bilbau.
Segundo
Paulo Rodrigues, as infraestruturas cicláveis são importantes, mas não o único
fator potenciador de um maior uso da bicicleta: “Se olharmos para Paris, vemos
que a aposta foi feita na massificação do uso da bicicleta (tem 25 mil
bicicletas partilháveis), o que obrigou a uma convivência funcional com os
automóveis”.
Mais
céticos sobre esta convivência mostram-se outros especialistas do sector. “Tem
sido mais fácil empurrar as bicicletas para cima do passeio, convivendo com os
peões, que para as estradas, retirando espaço aos automobilistas”, sublinha
Mário Alves, dirigente da MUBI -Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta,
que considera que “as estradas são sempre cicláveis, e tirando de lá os carros,
melhor ainda”.
José
Manuel Caetano, por seu lado, considera que “se se conseguir fazer cumprir o
código da estrada e impedir ultrapassagens de ciclistas a menos de 1,5 metros,
já será melhor”. E conclui: “Com calma isto vai.”
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