Por: Miguel Marques
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
A inclusão de etapas em
gravilha nas Grandes Voltas, como a recente "mini Strade Bianche" na
9.ª etapa da Volta a Itália 2025, continua a dividir o pelotão internacional.
Ciclistas, adeptos e dirigentes têm opiniões polarizadas, mas para Brian Holm,
uma das vozes mais respeitadas do ciclismo dinamarquês, estas inserções
representam um desrespeito pelas equipas e pelos seus investimentos.
A etapa em questão, disputada
nas estradas brancas da Toscânia, voltou a trazer à tona os riscos associados
ao uso de gravilha em provas por etapas. Nomes sonantes como Primoz Roglic e
Tom Pidcock perderam tempo significativo, vítimas de quedas ou problemas
mecânicos em setores onde o controlo está longe de ser absoluto. Para Holm,
este é o cerne da questão.
“Para um patrocinador que
investe milhões, não devia ser decidido por um acidente ou um furo naquelas
malditas estradas brancas”, desabafou Holm no mais recente episódio do podcast
Café Eddy. "Acho que não faz sentido. Sei que é divertido, mas mostra uma
falta de respeito pelas equipas e pelo investimento colossal que fazem no
ciclismo".
A posição de Holm não é
isolada. Johan Bruyneel, antigo diretor desportivo e analista habitual,
reforçou a crítica com uma perspetiva mais técnica e estrutural.
“Está a acrescentar fatores
incontroláveis”, afirmou após a conclusão da 9.ª etapa. "Apesar de saber
que, quando corria bem, até podia ser bom para nós, nunca fui fã. Nunca se sabe
o que vai acontecer".
Bruyneel propõe inclusivamente
auscultar o pelotão de forma direta: "Vamos fazer uma sondagem entre os
ciclistas profissionais. Posso dizer com confiança que 75% seriam contra".
A questão central não é apenas
estética ou desportiva, mas também filosófica. As Grandes Voltas são
competições de resistência, estratégia e constância - onde idealmente o mais
forte, mais inteligente e mais bem preparado vence ao fim de três semanas. Mas
quando um pneu furado ou uma rampa de gravilha comprometem dias ou mesmo meses
de preparação, levanta-se a questão da legitimidade da decisão organizativa.
Roglic, por exemplo, que luta
por um novo pódio na Corsa Rosa, viu-se penalizado por um incidente sem culpa
direta, algo que levanta dúvidas sobre a justiça competitiva. Pidcock, um dos
maiores especialistas em superfícies mistas e ciclocrosse, também não escapou
incólume, o que reforça o argumento de que a gravilha pode ser implacável,
mesmo para quem está à vontade nesse tipo de terreno.
Por outro lado, há quem veja
nestas etapas um refrescar do formato tradicional. Os defensores argumentam que
os setores de gravilha acrescentam variedade, espetáculo televisivo e
imprevisibilidade - ingredientes que, dizem, tornam o ciclismo mais emocionante
e atrativo para um público mais vasto.
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