Também nas camisolas secundárias o cenário foi 'negro', com todas a serem conquistadas por estrangeiros e, mais, envergadas sempre por um corredor de outro país
Por: Lusa
Foto: NUNO VEIGA/LUSA © 2024 LUSA
A 85.ª Volta a Portugal em
bicicleta, terminou com o triunfo do russo Artem Nych (Sabgal-Anicolor), foi
pouco portuguesa, com apenas uma vitória em etapa e nenhuma classificação final
conquistada por corredores nacionais.
O arranque dificilmente
poderia ter sido melhor, com o 'automático' Rafael Reis a dar a vitória a
Portugal no prólogo, um exercício que costuma dominar, mas, daí para a frente,
viveu-se uma autêntica 'razia', sem que qualquer ciclista luso tenha conseguido
voltar a erguer os braços.
Apesar de tudo, os seis dias
com Afonso Eulálio (ABTF-Feirense) na liderança da classificação geral, depois
da amarela inaugural de Rafael Reis, deram cor às aspirações de corredores
portugueses, alimentando o sonho de um vencedor nacional na corrida de proa do
ciclismo em Portugal.
Também nas camisolas
secundárias o cenário foi 'negro', com todas a serem conquistadas por
estrangeiros e, mais, envergadas sempre por um corredor de outro país o
argentino Nicolás Tivani (Aviludo-Louletano-Loulé Concelho) venceu nos pontos,
o espanhol Luis Ángel Maté (Euskaltel-Euskadi) na montanha, o também espanhol
Jaume Guardeño (Caja Rural-Seguros RGA) triunfou na juventude e a
Euskaltel-Euskadi, de Espanha, venceu por equipas.
No final, Gonçalo Leaça
(Credibom-LA Alumínios-MarcosCar) foi o melhor português, no quarto posto, e
Eulálio fechou o top 10, dois únicos lusos nos primeiros lugares da geral, e a
Aviludo-Louletano-Loulé Concelho venceu os pontos, ainda que com o argentino
Nicolás Tivani.
Para o diretor da prova,
Joaquim Gomes, estes resultados atestam não só o trabalho das equipas
estrangeiras, que “afinal não são tão más” e têm mostrado evidentes recursos,
além de quatro equipas espanholas chegarem do segundo escalão do ciclismo
mundial, mas também o controlo do passaporte biológico colocado em prática em
2023 pela Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC).
Na sequência do ‘escândalo’
W52-FC Porto, que ainda decorre na justiça depois de a equipa ter sido
‘forçada’ a fechar, com buscas no hotel durante uma prova e os ciclistas
suspensos por vários anos de correr, além das responsabilidades de diretores e
administradores, estes meios antidopagem colocados em prática, também pela
Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP), “apresentam uma competição muito
mais justa”.
“Estou confiante, finalmente,
que o atual método vai apresentar uma competição mais saudável, mais justa, que
nos vai confortavelmente permitir encarar o futuro com mais tranquilidade. Só
um louco, e esses não fazem falta na modalidade, é que hoje dá positivo num
controlo antidoping”, declarou o também antigo ciclista, duas vezes vencedor da
Volta.
Para Joaquim Gomes, que tem
décadas de ligação à corrida, “o que se passou com a W52-FC Porto já se tinha
passado antes com a Liberty ou a Maia-Milaneza”, com a notoriedade e
popularidade da Volta a Portugal a permitir ‘aguentar’ o choque e o afastamento
quer do público quer de jovens ciclistas.
“Quando estes escândalos
surgem, é vulgar ver muitos corredores em que as famílias têm influência. Às
vezes, corredores de enorme qualidade decidem continuar a estudar, enveredar
por outras áreas profissionais, e não entrar numa modalidade em que está criado
um pântano, digamos assim”, critica.
Depois, numa altura “mais
pacífica”, surgem jovens valores que apresentam qualidade, lembrando Joaquim
Gomes os casos de sucesso no estrangeiro, como os de João Almeida (UAE
Emirates), que aliás também servem de ‘chamariz’ e para que o fenómeno de
abandono “não seja ainda mais grave”.
“Vamos ter de cumprir o tal
período de nojo que falei há pouco, e esta Volta também deu um contributo
decisivo para que isso ocorra. (...) Há uma coisa importante. O ciclismo, até
pela sua exigência, transmite valores de elevada nobreza aos seus praticantes.
Só tenho pena que alguns destes manchem estes valores”, reforçou.
Apesar de ver o ‘apagão’ luso
“com preocupação”, mostra-se confiante na “resiliência” não só do pelotão
nacional como da Volta a Portugal, e da credibilidade que empresta à
modalidade, tendo já passado por vários casos.
“Quando ainda há tão pouco
tempo tivemos um tão grande escândalo no desporto nacional, com um período de
nojo ainda tão curto, e hoje celebramos uma Volta com enorme sucesso, só o peso
da Volta permite batalhar contra estas notoriedades”, acrescentou.
Fonte; Sapo on-line
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