sexta-feira, 15 de novembro de 2019

“FIGURAS MARCANTES DO CICLISMO LUSO”

Hoje falamos de: JOSÉ BENTO PESSOA

Foram várias as figuras do pelotão nacional que marcaram as principais fases da evolução do ciclismo português, e das quais nos iremos ocupar neste capítulo, desde as proezas de José Bento Pessoa, nos finais do Século XVIII, aos inesquecíveis José Maria Nicolau e Alfredo Trindade, até aos históricos Alves Barbosa, Joaquim Agostinho e Marco Chagas.

Pelo meio ficaram Ribeiro da Silva, a dinastia dominadora do FC Porto (dos Moreira, Dias Santos, Sousa Cardoso, Mário Silva, José Pacheco, entre outros), os dois José Martins (o do Benfica e o da Coelima), José Albuquerque (o popular “Faísca”), o “leão” João Roque e os benfiquistas Peixoto Alves, Fernando Mendes e Francisco Valada, para terminar em Joaquim Gomes, Fernando Carvalho, Jorge Silva, Orlando Rodrigues, Vítor Gamito, Nuno Ribeiro e José Azevedo. 

Todos eles estão envolvidos na reconstituição, que a seguir fazemos, das breves biografias daqueles que elegemos como principais marcos históricos da evolução do ciclismo português

JOSÉ BENTO PESSOA RECORDISTA MUNDIAL EM 1899

José Bento Pessoa, natural da Figueira da Foz, aos 24 anos de idade bateu o recorde do mundo dos 500 metros, no Velódromo de Chamartin, em Madrid e foi o primeiro campeão de Espanha, ao vencer, em 12 de Abril de 1897, os 100 Km de Madrid-Ávila-Madrid, feitos que marcaram uma época do ciclismo em Portugal e que contribuíram decisivamente para a fundação da União Velocipédica Portuguesa, libertando-nos da dependência espanhola.

Dados biográficos:

Nome: José Bento Pessoa Nascimento: 7 de Março de 1874

Naturalidade: Figueira da Foz (Rua da Oliveira). Filiação: Ricardo Lourenço Pessoa (Proprietário de uma sapataria) e de Maria da Guia do Espírito Santo (Doméstica). Irmão: Constantino Pessoa, dois anos mais novo. Profissional de ciclismo: Aos 22 anos.


DE RECORDISTA MUNDIAL DOS 500 METROS A CAMPEÃO DE ESPANHA

Depois de uma infância vivida entre a Rua da Oliveira, onde residia, e a sapataria do pai, e concluída a instrução primária, seguiu-se um período em que prosseguiu os estudos, recebendo lições de química, física e francês, alternando com presenças na loja. A grande aspiração do pai era que o José Bento assumisse a sua carreira profissional na condução dos negócios da loja.

Na biografia de José Bento Pessoa, o autor da obra, Romeu Correia, traça este perfil do biografado na fase da adolescência, para explicar a frustração que o pai sofreu por o filho não revelar aptidão profissional para dar continuidade ao negócio da comercialização de calçado: “Um nada comodista, todo habilidades de mãos e paciência para ferramentas e motores, não era da sua natureza pertencer ao comércio de sapataria.

Era um moço de belas feições, elegante, sensível e de falas cuidadas. Muito cedo caprichou pelo bem vestir, por se puxar, entre a rapaziada da sua geração. Convivia com assiduidade e proveito, todos os verões, com a colónia balnear espanhola. Pertencia aos finitos da Figueira, isto é, ao grupo dos jovens das melhores famílias.”

Aos 17 anos, a recuperar de uma queda em que fracturou um tornozelo, José Bento Pessoa foi aconselhado pelo médico a fazer exercício para recuperar a articulação, indicando-lhe que a prática do ciclismo seria o ideal. E assim principiaria a sua espectacular carreira no desporto do pedal, que esteve na origem do movimento que levaria à fundação da União Velocipédica Portuguesa.

A primeira prova oficial em que participou foi em Coimbra, no dia 23 de Fevereiro de 1894 (tinha 20 anos). Alinhou como júnior numa corrida de 13 Km, na qual conquistou a primeira medalha de ouro, êxito que repetiu no ano seguinte.

Com a morte do pai (1896), José Bento Pessoa abandonou o estabelecimento de Manuel Beirão, em Lisboa, onde trabalhava, para deixar de correr com bicicletas da marca “Brennabor” para assinar contrato com a marca “Raleigh”, da “Casa Esteves”, e tornar-se ciclista profissional, filiado na União Velocipédica Espanhola, pois ainda não tinha sido fundada a União Velocipédica Portuguesa, e o nosso ciclismo, por determinação da UCI, dependia de Espanha.

José Diogo de Orey, o melhor corredor e velocidade português, que foi destronado por José Bento Pessoa, apontou-lhe as seguintes características: “Tem o corpo de perfeito atleta adequado a exercícios de tal ordem como o do

velocípedo e a sua posição sobre a máquina é das melhores que tenho admirado e à primeira vista um conhecedor dirá que é um bom sprinter”. Mas observa: “No entanto tem um defeito que o prejudica, quer correr em tudo que seja corridas, o que é um engano.”

A primeira experiência do ciclista figueirense teve lugar no dia 9 de Setembro de 1896, em Vigo, vencendo a Corrida Peninsular, mas veio a ser desclassificado e multado por irregularidades cometidas no “sprint”, ficando ainda proibido, durante oito meses, de participar em corridas na pista de Vigo.

José Bento Pessoa, no Velódromo de Jonction, em Genebra (Suíça), no dia 10 de Abril de 1898, confirmou o título de campeão do mundo dos 500 metros, que havia arrebatado ao francês Jacquelin no Velódromo de Chamartin (Madrid), ao bater, de forma categórica, o suíço, de 21 anos e grande porte atlético, a quem fora dada a alcunha de “Champion”, e depois de o ter também derrotado no contra-relógio de 500 metros.

A mais retumbante das vitórias que, naquela altura, José Bento Pessoa coleccionava no seu palmarés, foi conquistada no dia 12 de Abril de 1897, nos “100 Km de Ávila” (Madrid-Ávila-Madrid) que correspondia ao 1º Campeonato de Espanha em estrada, no qual, ao que rezam as crónicas da época, teria participado com uma bicicleta de pista e cruzado a meta com uma roda vazia.

O ciclista da Figueira da Foz, para certa imprensa dado como sendo “espanhol”, apresentou-se naquela cidade helvética à beira do Lago Leman, com um palmarés recheado de vitórias, conquistadas em França e em Espanha, mas nem assim mesmo os suíços vacilaram em dar total favoritismo ao seu “Champion”, que ele só conheceu já na pista momentos antes do palpitante duelo luso-suíço.

No entanto, houve um jornal suíço que veio a lume esclarecer que José Bento Pessoa não era “espanhol”, mas sim português, tendo nascido “na cidade ribeirinha da Figueira da foz, estância balnear na costa ocidental da Península Ibérica” e que, portanto, “pertencia ao pequeno povo da monarquia portuguesa, país que outrora tivera grandes navegadores e fora berço de um poeta chamado Luís de Camões, autor do livro ‘Os Lusíadas’, muito traduzido em línguas cultas.” Tudo terminou em ambiente de total frustração para os suíços

Fonte: FPC

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