Como
treinador não era tão conhecido como hoje no mundo desportivo, mas foi sempre
movido por princípios de honestidade na sua profissão: e não é por atualmente
treinar o Campeão Olímpico e vencedor do IRONMAN do Hawai, Jan Frodeno, ou ser
coordenador técnico da equipa do Pro Tour, Bora Hansgrohe, a equipa de ciclismo
de Peter Sagan, que alterou a sua forma de trabalhar. Para o coach, o mais
importante são os objetivos dos atletas e todos sem exceção são merecedores do
mesmo grau de empenho e atenção.
Peter Sagan foi campeão
do mundo de ciclismo de estrada três vezes consecutivas
A
FTP convidou Dan Lorang para estar em Lisboa em janeiro de 2019 para uma ação
de formação dirigida a treinadores de triatlo interessados em melhorar e
aperfeiçoar as suas competências em treino de ciclismo no triatlo, o segmento
da modalidade que pode fazer a diferença numa prova.
Dan
nunca tinha estado em Lisboa, e estava particularmente curioso com a formação,
porque ainda para mais seria o seu primeiro contacto com a cultura desportiva
portuguesa. «O meu objetivo principal era que as pessoas levassem desta
formação alguma coisa diferente para aplicarem nas suas vidas profissionais».
Dan
tinha preparado um programa flexível de dois dias que se fosse adaptando às
questões que fossem surgindo. O workshop correu muito bem segundo o treinador:
«A sala estava cheia, as pessoas muito interessadas desde o primeiro dia e
percebia-se que os treinadores queriam aprender porque colocavam questões para
saber mais.»
A
impressão de Dan era que havia um interesse real que originou discussão de
ideias, criando-se um ambiente de uma saudável partilha de aprendizagem. Desta
forma, espera ter contribuído para o desenvolvimento das competências dos
treinadores, não apenas com o programa do workshop propriamente dito, mas
igualmente com as diferentes e enriquecedoras experiências partilhadas por
todos.
Falamos com Dan Lorang na Cruz Quebrada, perto do local onde
ficou instalado
O Ciclismo no Triatlo
O
workshop tinha um tema principal e específico que era o ‘Ciclismo no Triatlo’,
mas passou por vários temas como o diagnóstico da performance, as várias
hipóteses para orientar treinos diferentes, ou ainda, o sistema em que o treino
se encontra inserido, abordando-se também a nutrição e fisioterapia.
Colocando
um pouco de lado a parte técnica, falou-se também sobre a relação treinador /
atleta: «Se analisarmos o comportamento dos atletas chegamos à conclusão que a
motivação é um dos pontos que têm em comum: os atletas treinam porque querem
alcançar sucesso, não colocam problemas por seguir um plano nutricional,
deitar-se cedo ou treinar com cargas elevadas. Tudo isto faz parte dos seus
objetivos, pelo que os atletas profissionais conseguem facilmente atingir este
patamar» afirma Dan Lorang.
Segundo
a opinião do treinador, os atletas só necessitam de ser motivados quando algo
não corre bem, como por exemplo um problema familiar, uma lesão ou um mau
resultado inesperado. «Nestes casos o treinador tem que estar presente para
motivar o atleta!» O treinador faz uma ressalva em relação aos atletas mais
jovens que necessitam de uma orientação que deve ser realizada
preferencialmente em presença, pois a necessidade de acompanhamento é diferente.
«Os atletas mais novos precisam de mais atenção e de uma presença constante, já
que a sua motivação tem habitualmente outras condicionantes, sendo mais volátil
do que a dos adultos».
Dan
orienta muitos dos seus atletas à distância, usando o telefone, e-mail,
plataformas online para programar o treino ou Skype quando é necessário,
utilizando a sua intuição para uma situação diferente que possa surgur. «Ligo
uma vez por semana, os atletas contam-me como correram os treinos, as suas
impressões e ajustamos o plano de treinos para a semana ou semanas seguintes».
O
treinador segue vários atletas um pouco por todo o mundo, seis da equipa de
ciclismo e oito do triatlo de longa distância, treinando 14 no total. E não
está diariamente com os atletas, convive apenas com eles em estágios ou em
algumas provas.
A
maioria treina onde vive, sendo por isso importante conhecê-los e perceber os
sinais que lhes vão enviando nos contactos semanais estabelecidos. «Um atleta
pode dizer que está bem de várias maneiras, mas a função dos treinadores é
reconhecer quando efetivamente as coisas podem não estar a correr assim tão bem».
Por
isso, quando existe desmotivação é necessário saber orientar para outras
direções e motivar com uma abordagem diferente, indo desta forma ao encontro
das necessidades do atleta na obtenção de uma performance mais elevada. «O modo
como comunico com os meus atletas mudou nos últimos cinco anos, eu adapto-me
consoante a melhor maneira de orientar os seus treinos. Já conheço há bastante
tempo os atletas que estão a treinar atualmente comigo, o que facilita a
comunicação, com exceção da Sarah True, que treina comigo há dois anos e com
quem só estive presencialmente por breves momentos em alguns triatlos.»
As
grandes provas em que os atletas pretendem participar funcionam como objetivos:
«No ciclismo é mais complicado porque há muitas competições, no triatlo
torna-se mais simples porque as provas são mais limitadas».
Depois
de estabelecidos os objetivos é necessário alinhar o planeamento do treino para
concretizar as metas propostas. «E depois da prova é necessário avaliar o
processo e os resultados alcançados; é que existem bons atletas em treinos que
não conseguem boas performances em prova. É necessário reajustar o planeamento
e começar tudo de novo».
Quem são os principais atletas de Dan Lorang?
O
trabalho principal do treinador é a equipa de ciclismo do Pro Tour e alguns
triatletas de distância longa. O primeiro contacto com Frodeno surgiu por acaso
na piscina. «Ele abordou-me no sentido de eu o treinar, mas como não estava na
melhor forma, eu disse-lhe que era melhor recuperar primeiro e depois podíamos
falar nisso. Acho que gostou da minha atitude porque fui sincero com ele.
Falei-lhe como faço sempre com qualquer atleta!» disse Lorang.
Dan
considera que a relação treinador / atleta deve ser profissional, embora haja
algumas pessoas com quem se ‘estabelece uma relação mais próxima’ em que existe
um contacto em algumas datas festivas, mas prevalecendo sempre a relação
profissional.
Tenho
muito respeito pelo trabalho dos atletas, pelas muitas horas de treino semanais
e por todo o staff que os acompanha. «Estou sempre disponível, inclusive fora
de horas, até porque sei que eles só ligam quando necessitam. A ideia que tenho
do treinador é alguém que cuida do atleta em vários sentidos, sabe se ele ou
ela está bem para as provas e orienta-o/a antes de depois das competições.
Neste
momento, Dan Lorang não consegue ‘aceitar’ mais atletas, dado que já treina um
número considerável, o que requer bastante dedicação, mas tem a certeza que
para funcionar o atleta tem que sentir que o treino resulta desta forma.
Tal
como acontece noutras profissões, ser treinador não é um processo garantido, é
um trabalho contínuo que se mantenha o interesse do atleta e de quem o treina!
«Às vezes converso sobre a possibilidade de treinar mais algum atleta, mas
rapidamente chegamos à conclusão que não vai funcionar porque é necessário
fornecer skills que eu não posso disponibilizar online».
Dan
afirma que compreende perfeitamente que haja atletas que não se sintam
confortáveis com uma orientação à distância ou mesmo que deixem de querer ser
treinados desta forma porque precisam de um apoio personalizado. «É uma decisão
do atleta, é a sua carreira, e eu estarei a treiná-lo apenas se sentir que é
benéfico para ele. E pergunto todos os anos aos meus atletas se querem
continuar comigo, pus essa questão no caso de Jan Frodeno no Campeonato do
Mundo do Hawai. Coloco apenas uma vez por ano a questão, mas a pergunta é
sempre feita!»
Pela
Federação de Triatlo de Portugal esperamos conseguir agendar outra visita do
treinador Dan Lorang a quem agradecemos a simpatia e empenho demonstrados.
Fonte:
FTP
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