Por: Carlos Silva
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De 8 a 15 de junho, o Critérium du Dauphiné volta a assumir o seu habitual papel de grande ensaio para a Volta a França. Em 2025, a corrida francesa ganha ainda maior destaque com a confirmação da presença dos três maiores nomes do ciclismo atual: Tadej Pogacar, Jonas Vingegaard e Remco Evenepoel. Apresentamos uma antevisão dos 8 dias de corrida.
A corrida arranca com uma etapa montanhosa que termina em Montluçon. Embora dificilmente venha a ser decisiva para a classificação geral, o perfil, com um final nervoso ao estilo das Ardenas, poderá animar o dia. Espera-se que os ciclistas da geral estejam atentos, com possíveis ataques nos quilómetros finais, enquanto os puncheurs e os homens rápidos com capacidade de resistir às subidas leves tentarão jogar a sua carta. Um sprint selectivo é uma forte possibilidade para definir o primeiro camisola amarela.
A segunda etapa apresenta características semelhantes, mas com um início muito mais exigente em termos de altimetria. As fugas terão mais oportunidades de sucesso, dadas as dificuldades iniciais, mas o traçado torna-se progressivamente mais plano à medida que a meta se aproxima. Isso aumenta a possibilidade de vermos um sprint de grupo a decidir o vencedor do dia, num cenário em que equipas com sprinters que sobrevivam ás dificuldades da etapa, poderão assumir o controlo.
O terceiro dia de corrida mantém a linha dos anteriores, embora apresente um início mais exigente e um final ligeiramente mais selectivo. É mais uma oportunidade para o êxito da fuga, mas a realidade é que a subida final, bastante íngreme, pode desencadear ataques entre os favoritos. O desfecho promete ser marcado por movimentações tácticas, onde a astúcia poderá ser tão decisiva quanto a força.
Um exigente contrarrelógio de
17 quilómetros. O percurso terá uma curta, porém agressiva subida a meio da
prova, que exigirá potência e explosividade aos ciclistas. Sem uma verdadeira
descida após o topo, os especialistas terão de manter um ritmo elevado até à
meta, tornando este teste individual num primeiro filtro para os candidatos à
vitória final.
Mais um dia exigente para o
pelotão. A etapa apresenta um início relativamente plano, mas rapidamente
surgem algumas subidas que poderão endurecer a corrida e provocar seleções.
Espera-se que seja uma jornada destinada aos sprinters, embora o terreno acidentado levante dúvidas sobre quem terá pernas para disputar a vitória. O ritmo que venha a ser imposto nas subidas poderá eliminar vários homens rápidos, tornando a luta pela etapa imprevisível
Estão programadas três chegadas em alto consecutivas, com a primeira a ter lugar em Combloux, local onde Jonas Vingegaard consolidou uma vantagem significativa sobre Tadej Pogacar na Volta a França de 2023. Este ano, o final será novamente em subida, prometendo uma selecção natural e a possibilidade de serem feitas diferenças importantes na classificação geral.
A etapa rainha da prova, sem margem para dúvidas. Apesar da curta extensão, o percurso apresenta três exigentes ascensões alpinas. Cada subida é longa e selectiva, ideal para os trepadores puros se destacarem. Num dia de elevada exigência física, é o terreno perfeito para abrir diferenças significativas na classificação geral.
A derradeira etapa da corrida
apresenta um perfil menos exigente do que os dias anteriores, mas está longe de
ser um desafio acessível. Com 133 quilómetros predominantemente em subida, o
percurso conduzirá os ciclistas até Mont-Cenis já com elevada fadiga acumulada.
Apesar de a ascensão não apresentar uma dificuldade extrema em termos de
inclinação, o desgaste provocado pela dureza da semana, o esforço do próprio
dia e a altitude poderão desempenhar um papel determinante no desfecho da
etapa.
Os
Favoritos
Tadej Pogacar - O Campeão do Mundo Tadej Pogacar enfrenta no Critérium du Dauphiné um momento singular da sua carreira. Apesar das três conquistas na Volta a França, o esloveno nunca triunfou nesta corrida, um dado curioso que adiciona alguma expectativa à sua participação. Desde 2020 que não marcava presença no Dauphiné, e a sua decisão de incluir esta prova no caminho de preparação para o Tour deste ano surpreendeu muitos, tendo em conta o seu habitual sucesso ao chegar às Grandes Voltas sem competir nas semanas anteriores.
Com o núcleo duro da equipa
destinado à Volta a França a apoiá-lo, Pogacar será o único elemento da UAE
Team Emirates com liberdade para lutar pela classificação geral. Ainda assim,
poderá sentir a pressão acrescida de estar frente a frente com alguns dos seus
maiores rivais para julho.
Conhecido pelo seu estilo
agressivo, Pogacar terá de dosear energias. Uma abordagem demasiado ofensiva
poderá ser contraproducente a longo prazo, e o mais prudente será manter a
estratégia controlada, poupando forças e evitando gastos desnecessários.
Jonas Vingegaard - No lado
oposto temos Jonas Vingegaard, que assinou vitórias no Critérium du Dauphiné em
2022 e 2023, antes de vencer a Volta a França. A Visma parece ter encontrado
uma fórmula vencedora e será provavelmente por isso que regressa em força à
corrida francesa.
O dinamarquês sofreu uma queda
grave em março e não voltou a competir desde então, mas, nos dias que correm, a
falta de ritmo de corrida já não é um entrave considerável para ciclistas deste
nível. Com a alta montanha como objetivo, Vingegaard poderá seguramente medir
forças com Tadej Pogacar nesta temporada.
Além disso, a Visma apresenta
uma vantagem estratégica importante, contando com Matteo Jorgenson como uma
opção muito sólida para o pódio e um ciclista extremamente completo. A equipa
poderá ainda apoiar-se num Sepp Kuss determinado em reencontrar o seu melhor
nível competitivo, reforçando assim as ambições coletivas para o Dauphiné.
Remco Evenepoel - As
expectativas em torno de Remco Evenepoel são, este ano, bastante equilibradas.
Em 2024 ele venceu o contrarrelógio, mas revelou dificuldades nas montanhas,
muito por causa de ainda não ter atingido o peso ideal. Contudo, depois de ter
afinado a forma após o Dauphiné, fez uma excelente Volta a França.
A Soudal - Quick-Step
certamente não se importaria de repetir esse guião, mas ao que tudo indica,
Evenepoel vai apresentar-se no Dauphiné 1,5 kg mais leve do que na mesma altura
do ano passado. Esta diferença pode ser um sinal encorajador para as suas ambições
na corrida, até porque, desta vez, pôde preparar-se especificamente para as
montanhas, em contraste com o foco que dera às Clássicas da primavera.
Ainda assim, a quase dois
meses da partida da Volta a França, é legítimo perguntar se Evenepoel não
estará já com a sua forma física bastante apurada nesta fase. A gestão da forma
será crucial para que não atinja o pico demasiado cedo.
Pela positiva, Evenepoel
contará com o apoio de um trepador de excelência: Valentin Paret-Peintre, um
reforço valioso quando o terreno empinar e que poderá ser determinante nas
etapas de montanha mais decisivas.
A corrida contará com um
pelotão recheado de trepadores de topo, muitos deles a utilizar este importante
compromisso como preparação para a Volta a França, mas também motivados a lutar
por um resultado de prestígio numa das provas chave do calendário.
Matteo Jorgenson chega com a
companhia de Florian Lipowitz, segundo classificado na Paris-Nice, e o jovem
alemão tem mostrado uma consistência tal que um lugar no pódio aqui é
perfeitamente plausível. Para o Tour, o cenário mais provável para Lipowitz
será uma co-liderança com Jorgenson.
Na Movistar, Enric Mas
assumirá a liderança, embalado pela sua melhor primavera de sempre. Mattias
Skjelmose também surge como nome forte, depois de bater Tadej Pogacar e Remco
Evenepoel na Amstel Gold Race, somando essa vitória à sua reconhecida qualidade
como trepador e no contrarrelógio.
Carlos Rodríguez, vencedor da
etapa rainha desta corrida no ano passado, comandará as ambições da INEOS
Grenadiers. Já a Bahrain-Victorious aposta numa dupla de luxo: Santiago
Buitrago e Lenny Martínez, ambos com exibições impressionantes em subidas durante
a primavera e agora com oportunidade de se testarem frente a adversários que
encontrarão na Volta a França.
Entre os candidatos à
classificação geral, nomes como Eddie Dunbar, Max Poole, Harold Tejada e
Guillaume Martin também merecem atenção, numa corrida que se promete intensa e
seletiva desde os primeiros metros.
Previsão
- Classificação Geral Critérium du Dauphiné 2025:
*** Tadej Pogacar, Jonas
Vingegaard
** Remco Evenepoel, Matteo
Jorgenson, Florian Lipowitz
* Santiago Buitrago, Lenny
Martínez, Carlos Rodríguez, Mattias Skjelmose, Enric Mas, Eddie Dunbar, Max
Poole, Harold Tejada
Escolha: Tadej Pogacar
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