Maximino Pereira contou ao tribunal que pernoitava "no quarto da equipa" e disse que não se revia na gestão que era feita
Por: Lusa
Um antigo elemento dos órgãos
sociais da W52-FC Porto classificou esta sexta-feira de "ditadura" a
gestão de Adriano Quintanilha da equipa de ciclismo, exercendo "muita
pressão para ganhar" as provas, durante as quais havia ampolas, seringas e
comprimidos.
Ouvido enquanto testemunha
abonatória arrolada pelo ex-diretor desportivo da equipa Nuno Ribeiro, no
julgamento da operação 'Prova Limpa', com 26 arguidos, incluindo ex-ciclistas,
e que decorre num pavilhão anexo ao Estabelecimento Prisional de Paços de
Ferreira, Maximino Pereira nunca assumiu ter conhecimento ou ter visto práticas
dopantes no seio da W52-FC Porto, mas admitiu sentir que isso acontecia quando
acompanhou a equipa em várias provas nacionais.
A testemunha, conhecida no
pelotão como 'Max', disse que em setembro de 2021 se demitiu por "ser uma
pessoa de bem" e por razões familiares, mas também devido ao "mau
ambiente" que se vivia dentro da W52-FC Porto e pela "vergonha"
que afirmou sentir quando era confrontado, no decorrer das provas, como a Volta
a Portugal, pelo público com acusações de que "a equipa estava toda
dopada".
Maximino Pereira contou ao
tribunal que pernoitava "no quarto da equipa", nos hotéis onde esta
ficava instalada durante as competições, e no qual eram guardados produtos,
como água, fruta e suplementos energéticos, mas também ampolas, seringas e
comprimidos, que os ciclistas iam buscar após as etapas.
Questionado pelo coletivo de
juízes sobre a finalidade das seringas e ampolas, a testemunha, atualmente com
61 anos e mais de 40 anos ligados à modalidade, respondeu: "devia ser para
se doparem, mas eu nunca vi", admitindo haver, contudo,
"rumores" sobre doping na equipa, prática que, referiu, ser
transversal a todas as equipas e mesmo a nível mundial.
O tribunal perguntou à
testemunha sobre se nunca se questionou ou procurou saber qual o objetivo de
uma equipa de ciclismo ter à disposição dos atletas ampolas, seringas e
compridos.
"Nunca perguntei, nunca
quis saber. Não tinha nada que me meter, era um assunto tabu, sigiloso e
passava-me tudo ao lado. Ficava no meu cantinho", respondeu Maximino
Pereira.
Adriano Teixeira de Sousa,
conhecido como Adriano Quintanilha, era o dono da equipa e é um dos arguidos
neste processo.
O antigo elemento dos órgãos
sociais da W52-FC Porto indicou ao tribunal que, à exceção da gestão
desportiva, "passava tudo" por Adriano Quintanilha que, segundo a
testemunha, exercia "muita pressão" ao staff e aos ciclistas para
ganharem, dando conta da existência de "um mau ambiente, de um ambiente
pesado" e até de intimidação dentro da equipa.
"Não me revia na gestão.
Era tipo ditadura", declarou Maximino Pereira que, mais à frente no seu
depoimento referiu: "nós fugíamos do senhor Adriano".
Na sessão de hoje estava
prevista a inquirição de Pinto da Costa, arrolado também pelo arguido Nuno
Ribeiro como sua testemunha abonatória, mas o tribunal não conseguiu notificar
o antigo presidente do FC do Porto.
Os 26 arguidos respondem por
tráfico de substâncias e métodos proibidos, mas apenas 14 por administração de
substância e métodos proibidos.
Entre estes estão Adriano
Teixeira de Sousa, conhecido como Adriano Quintanilha, a Associação Calvário
Várzea Clube De Ciclismo - o clube na origem da equipa -, o então diretor
desportivo Nuno Ribeiro e o seu 'adjunto' José Rodrigues.
João Rodrigues, Rui Vinhas,
Ricardo Mestre, Samuel Caldeira, Daniel Mestre, José Neves, Ricardo Vilela,
Joni Brandão, José Gonçalves e Jorge Magalhães são os ex-ciclistas da W52-FC
Porto julgados por tráfico de substâncias e métodos proibidos, assim como
Daniel Freitas, que representou a equipa de 2016 a 2018.
Fonte: Record on-line
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