Hugo Houle tinha o sonho de ganhar para homenagear o irmão e hoje concretizou-o, na 16.ª etapa, tornando-se no segundo ciclista canadiano a vencer na história da Volta a França
Por: Lusa
Foto: AFP
Hugo Houle (Israel-Premier
Tech) tinha o sonho de ganhar para homenagear o irmão que morreu e hoje
concretizou-o, na 16.ª etapa, tornando-se no segundo ciclista canadiano a
vencer na história da Volta a França.
Se o Canadá teve de esperar 34
anos para voltar a ter um ciclista vencedor, depois de Steve Bauer em 1988,
Houle precisou de uma década para honrar o irmão Pierrick, morto por um
condutor embriagado em 2012.
“Estava
receoso, porque comecei a sentir algumas cãibras e não me alimentei
propriamente, porque não consegui ir ao carro nos últimos 60 quilómetros, mas consegui.
Significa muito para mim. Tinha um sonho: ganhar a etapa pelo meu irmão, que
morreu quando me tornei profissional. Trabalhei durante 10, 12 anos e hoje
alcancei a vitória para ele”, disse o corredor de 31 anos,
que se superiorizou a dois companheiros de fuga, o francês Valentin Madouas
(Groupama-FDJ) e o colega e compatriota Michael Woods.
Quando era miúdo, Houle
sentava-se, todas as manhãs, com o irmão diante da televisão para ver a ‘Grande Boucle’
e, hoje, em Foix, onde Jonas Vingegaard (Jumbo-Visma) chegou na
companhia de Tadej Pogacar (UAE Emirates) e Geraint Thomas (INEOS), estreou-se
a vencer numa prova que não os campeonatos nacionais de contrarrelógio do seu
país, nos quais foi primeiro em 2015 e 2021.
“Nunca
ganhei uma corrida, por isso penso que é o sítio ideal para ganhar a minha
primeira”, notou o discreto trabalhador da
Israel-Premier Tech, que até se isolou para servir de ponte para Woods.
No regresso à estrada, após o
derradeiro dia de descanso, o pelotão enfrentava a primeira de três jornadas
nos Pirenéus, mas os 178,5 quilómetros entre Carcassonne e Foix eram mais
interessantes para ‘caça etapas’ do que para os candidatos à geral, uma vez que as
duas contagens de montanha de primeira categoria estavam espalhadas pelo
percurso, com a última delas a menos de 30 quilómetros da meta.
E não foi preciso esperar
muito para uma ‘multidão’ se aventurar na frente da corrida: entre os 29
ciclistas que, ao quilómetro oito, já tinham uma vantagem superior a dois
minutos sobre o pelotão, estavam, além dos três primeiros da tirada, o
inesgotável camisola verde Wout van Aert (Jumbo-Visma), o líder da montanha
Simon Geschke (Cofidis), Damiano Caruso e Dylan Teuns (Bahrain-Victorious),
Brandon McNulty (UAE Emirates), Philippe Gilbert e Tim Wellens (Lotto Soudal)
ou Aleksandr Vlasov (BORA-hansgrohe), o então 11.º classificado na geral.
Representada na frente, a
Jumbo-Visma deixou os fugitivos ganharem uma diferença superior a oito minutos,
tentando que outras equipas prejudicadas pela presença de Vlasov assumissem as
despesas da perseguição, que a formação neerlandesa foi partilhando com a INEOS
do terceiro classificado Geraint Thomas.
Numa jornada em que o espanhol
Marc Soler, afetado por problemas gástricos e visivelmente combalido (vomitou
várias vezes), desfalcou ainda mais a UAE Emirates e a guarda de honra de
Pogacar, ao chegar fora do controlo, a Movistar passou ao ataque no Port de
Lers, algo raríssimo de ver na formação espanhola integrada pelo português
Nelson Oliveira, hoje 61.º, a 20.45 minutos do vencedor.
Enquanto Enric Mas, muito
criticado pela sua ‘eterna’ falta de ambição, tentava segurar o seu lugar no ‘top 10’, numa missão falhada, os 11,4
quilómetros da contagem de primeira categoria faziam a seleção entre os
escapados, com Vlasov a quebrar depois do ataque de Caruso, ao qual responderam
‘WVA’, Woods, Geschke, McNulty, Matteo Jorgenson (Movistar) e Michael Storer
(Groupama-FDJ).
O Port de Lers testemunhou o
primeiro ‘round’ do assalto de ‘Pogi’ à amarela: a mais de 50 quilómetros da meta, o
esloveno acelerou, Vingegaard respondeu e o grupo do camisola amarela ficou
ainda mais reduzido, com Romain Bardet (DSM), o quarto da geral, a passar mal.
O atual bicampeão do Tour
estava ‘endiabrado’ e atirou-se à descida de modo a distanciar o
dinamarquês, sem sucesso. O pequeno respiro entre montanhas de primeira
categoria permitiu à fuga ganhar elementos e a Houle isolar-se, o mesmo
acontecendo ao grupo dos dois primeiros da geral.
No Mur de Péguère, a Movistar
assumiu a perseguição, antes de Bardet voltar a quebrar devido ao ritmo imposto
por Rafal Majka (UAE Emirates) caiu para o nono lugar da geral, depois de
perder quase quatro minutos para o camisola amarela e o experiente Thomas, de
36 anos, a dar sinais de debilidade, sendo ajudado pelo colega Adam Yates, para
não perder as opções de pódio.
Majka sofreu uma avaria e foi
por pouco que não derrubou o seu líder. Afastado o polaco, foi Sepp Kuss a
levar os dois ciclistas mais fortes desta edição do Tour, num dia em que o
colombiano Nairo Quintana (Arkéa Samsic) surpreendeu, sendo o quarto elemento
do grupo, que no final dos 9,3 quilómetros da subida recebeu a companhia de Van
Aert.
Os fugitivos do dia, ainda
espalhados pela estrada, foram reforços de peso para os seus líderes, com
Martínez também a esperar por Thomas e a descida e plano até à meta a
permitirem ainda a ‘reentrada’ de David Gaudu (Groupama-FDJ), novo quinto da
geral, atrás de Quintana.
Até Foix não houve tempo para
mais ataques entre os cinco primeiros da geral, nem para os perseguidores
alcançarem Houle, que cortou a meta com o tempo de 4:23.47 horas, sendo 1.10
minutos melhor do que Madouas e Woods e 5.54 do que o grupo do camisola
amarela.
Depois de passar com distinção
o primeiro teste pirenaico, Vingegaard enfrenta na quarta-feira um novo desafio
nos curtos, mas duros 129,7 quilómetros entre Gaudens e o alto de Peyragudes, a
última das três contagens de montanha de primeira categoria da jornada, com os
mesmos 2.22 minutos de vantagem sobre o esloveno da UAE Emirates e 2.43 sobre o
campeão de 2018.
Fonte: Sapo on-line
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