terça-feira, 19 de julho de 2022

"Tinha um sonho: ganhar a etapa pelo meu irmão, que morreu quando me tornei profissional"


Hugo Houle tinha o sonho de ganhar para homenagear o irmão e hoje concretizou-o, na 16.ª etapa, tornando-se no segundo ciclista canadiano a vencer na história da Volta a França

 

Por: Lusa

Foto: AFP

Hugo Houle (Israel-Premier Tech) tinha o sonho de ganhar para homenagear o irmão que morreu e hoje concretizou-o, na 16.ª etapa, tornando-se no segundo ciclista canadiano a vencer na história da Volta a França.

Se o Canadá teve de esperar 34 anos para voltar a ter um ciclista vencedor, depois de Steve Bauer em 1988, Houle precisou de uma década para honrar o irmão Pierrick, morto por um condutor embriagado em 2012.

“Estava receoso, porque comecei a sentir algumas cãibras e não me alimentei propriamente, porque não consegui ir ao carro nos últimos 60 quilómetros, mas consegui. Significa muito para mim. Tinha um sonho: ganhar a etapa pelo meu irmão, que morreu quando me tornei profissional. Trabalhei durante 10, 12 anos e hoje alcancei a vitória para ele”, disse o corredor de 31 anos, que se superiorizou a dois companheiros de fuga, o francês Valentin Madouas (Groupama-FDJ) e o colega e compatriota Michael Woods.

Quando era miúdo, Houle sentava-se, todas as manhãs, com o irmão diante da televisão para ver a ‘Grande Boucle’ e, hoje, em Foix, onde Jonas Vingegaard (Jumbo-Visma) chegou na companhia de Tadej Pogacar (UAE Emirates) e Geraint Thomas (INEOS), estreou-se a vencer numa prova que não os campeonatos nacionais de contrarrelógio do seu país, nos quais foi primeiro em 2015 e 2021.

“Nunca ganhei uma corrida, por isso penso que é o sítio ideal para ganhar a minha primeira”, notou o discreto trabalhador da Israel-Premier Tech, que até se isolou para servir de ponte para Woods.

No regresso à estrada, após o derradeiro dia de descanso, o pelotão enfrentava a primeira de três jornadas nos Pirenéus, mas os 178,5 quilómetros entre Carcassonne e Foix eram mais interessantes para ‘caça etapas’ do que para os candidatos à geral, uma vez que as duas contagens de montanha de primeira categoria estavam espalhadas pelo percurso, com a última delas a menos de 30 quilómetros da meta.

E não foi preciso esperar muito para uma ‘multidão’ se aventurar na frente da corrida: entre os 29 ciclistas que, ao quilómetro oito, já tinham uma vantagem superior a dois minutos sobre o pelotão, estavam, além dos três primeiros da tirada, o inesgotável camisola verde Wout van Aert (Jumbo-Visma), o líder da montanha Simon Geschke (Cofidis), Damiano Caruso e Dylan Teuns (Bahrain-Victorious), Brandon McNulty (UAE Emirates), Philippe Gilbert e Tim Wellens (Lotto Soudal) ou Aleksandr Vlasov (BORA-hansgrohe), o então 11.º classificado na geral.

Representada na frente, a Jumbo-Visma deixou os fugitivos ganharem uma diferença superior a oito minutos, tentando que outras equipas prejudicadas pela presença de Vlasov assumissem as despesas da perseguição, que a formação neerlandesa foi partilhando com a INEOS do terceiro classificado Geraint Thomas.

Numa jornada em que o espanhol Marc Soler, afetado por problemas gástricos e visivelmente combalido (vomitou várias vezes), desfalcou ainda mais a UAE Emirates e a guarda de honra de Pogacar, ao chegar fora do controlo, a Movistar passou ao ataque no Port de Lers, algo raríssimo de ver na formação espanhola integrada pelo português Nelson Oliveira, hoje 61.º, a 20.45 minutos do vencedor.

Enquanto Enric Mas, muito criticado pela sua ‘eterna’ falta de ambição, tentava segurar o seu lugar no ‘top 10’, numa missão falhada, os 11,4 quilómetros da contagem de primeira categoria faziam a seleção entre os escapados, com Vlasov a quebrar depois do ataque de Caruso, ao qual responderam ‘WVA’, Woods, Geschke, McNulty, Matteo Jorgenson (Movistar) e Michael Storer (Groupama-FDJ).

O Port de Lers testemunhou o primeiro ‘round’ do assalto de ‘Pogi’ à amarela: a mais de 50 quilómetros da meta, o esloveno acelerou, Vingegaard respondeu e o grupo do camisola amarela ficou ainda mais reduzido, com Romain Bardet (DSM), o quarto da geral, a passar mal.

O atual bicampeão do Tour estava ‘endiabrado’ e atirou-se à descida de modo a distanciar o dinamarquês, sem sucesso. O pequeno respiro entre montanhas de primeira categoria permitiu à fuga ganhar elementos e a Houle isolar-se, o mesmo acontecendo ao grupo dos dois primeiros da geral.

No Mur de Péguère, a Movistar assumiu a perseguição, antes de Bardet voltar a quebrar devido ao ritmo imposto por Rafal Majka (UAE Emirates) caiu para o nono lugar da geral, depois de perder quase quatro minutos para o camisola amarela e o experiente Thomas, de 36 anos, a dar sinais de debilidade, sendo ajudado pelo colega Adam Yates, para não perder as opções de pódio.

Majka sofreu uma avaria e foi por pouco que não derrubou o seu líder. Afastado o polaco, foi Sepp Kuss a levar os dois ciclistas mais fortes desta edição do Tour, num dia em que o colombiano Nairo Quintana (Arkéa Samsic) surpreendeu, sendo o quarto elemento do grupo, que no final dos 9,3 quilómetros da subida recebeu a companhia de Van Aert.

Os fugitivos do dia, ainda espalhados pela estrada, foram reforços de peso para os seus líderes, com Martínez também a esperar por Thomas e a descida e plano até à meta a permitirem ainda a ‘reentrada’ de David Gaudu (Groupama-FDJ), novo quinto da geral, atrás de Quintana.

Até Foix não houve tempo para mais ataques entre os cinco primeiros da geral, nem para os perseguidores alcançarem Houle, que cortou a meta com o tempo de 4:23.47 horas, sendo 1.10 minutos melhor do que Madouas e Woods e 5.54 do que o grupo do camisola amarela.

Depois de passar com distinção o primeiro teste pirenaico, Vingegaard enfrenta na quarta-feira um novo desafio nos curtos, mas duros 129,7 quilómetros entre Gaudens e o alto de Peyragudes, a última das três contagens de montanha de primeira categoria da jornada, com os mesmos 2.22 minutos de vantagem sobre o esloveno da UAE Emirates e 2.43 sobre o campeão de 2018.

Fonte: Sapo on-line

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