Viktor Manakov e Aleksandr Grigorev defendem que desporto deveria ficar "fora da política"
Por: Lusa
Foto: Instagram Aleksandr
Grigorev
Os russos Viktor Manakov e Aleksandr
Grigorev coincidem na sorte que têm em estarem integrados no pelotão português
e na defesa de que desporto deveria ficar "fora
da política", ansiando pela paz na guerra na Ucrânia.
"Há
muita coisa a mudar neste momento. É um grande problema para todos nós
desportistas, especialmente porque estávamos a viver a nossa vida e tudo mudou
repentinamente. Eu sou o sortudo que conseguiu estar numa equipa europeia e
pode fazer o que gosta. Os restantes foram 'eliminados' do desporto e têm de
permanecer na Rússia", assumiu Viktor Manakov, em
declarações à agência Lusa.
O corredor da ABTF-Feirense
não está sozinho nessa perceção, já que também Aleksandr Grigorev recorre à
palavra "sorte" para definir a sua realidade, num contexto em que
a União Ciclista Internacional (UCI) decidiu suspender as seleções nacionais
russas e retirar as licenças às equipas deste país e da Bielorrússia, na
sequência da invasão da Ucrânia.
"No
início, claro, estava muito preocupado por esta situação [guerra] e agora, que
estou a competir, que estou a praticar desporto e estou mais concentrado, pelo
trabalho que tenho de fazer nas provas, sinto-me um pouco melhor. Mas claro que
nos países afetados pelo conflito a situação é muito má. Sinto muito",
disse à Lusa o corredor da Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel, à margem da
39.ª Volta ao Alentejo.
O russo mais algarvio do
pelotão nacional - está há cinco anos na equipa de Tavira - 'saltita' entre o português e o espanhol
para vincar que "o desporto está fora da
política".
"Somos
ciclistas e estamos aqui para unir todos os países e isso é muito importante
para mim e para todos, penso eu. Sinto muito esta situação, esta guerra. Quero
apoiar todos os meus amigos da Ucrânia e da Rússia também e a minha família.
Desejo a paz e que fique tudo bem", declarou.
O mesmo é defendido por Viktor
Manakov, que considera que a decisão da UCI "não
é correta".
"Mudar
todas as roupas e cores não significa nada. Aqui, como equipa, não há bandeiras
russas, eu não sou campeão nacional, por isso, para mim, nada mudou com estas
novas circunstâncias", respondeu num inglês quase
perfeito, ao ser questionado sobre o facto de não poder competir sob a bandeira
russa.
A dar as primeiras pedaladas
no pelotão nacional após nove temporadas em equipas russas, intercaladas por
uma experiência na Leopard Development Team (2015), Viktor Manakov confessa
que, apesar de ser um 'privilegiado',
é complicado estar em Portugal, "porque
o câmbio está a baixar, a vida aqui está a tornar-se mais cara".
"Todos
esperamos que [a guerra] acabe rápido, mas está a prolongar-se e prolongar-se.
Estamos simplesmente a aguardar para ver como vai acabar, porque ninguém sabe.
O problema é que não será apenas mau para os países em conflito, será para todo
o mundo", vincou.
Na equipa, notam o russo de 29
anos mais cabisbaixo, às vezes preocupado, mas Manakov vai tentando manter o
otimismo, procurando acreditar numa solução pacífica negociada para a guerra na
Ucrânia.
"Não
sou político, não percebo de economia, não posso dar a minha opinião porque não
sei como funciona. Os meus pais vivem na Rússia e estão a sentir os efeitos
económicos [da guerra]", revelou o russo da Atum
General-Tavira-Maria Nova Hotel, já mais integrado na vida (e no pelotão)
nacional.
Uma imensa gratidão é o que se
depreende do discurso de Grigorev, que elogia os colegas, mas também "os portugueses, a equipa, os patrocinadores, a
Federação Portuguesa de Ciclismo", que o apoiam e lhe dão
ânimo neste momento difícil, iniciado em 24 de fevereiro, com a ofensiva
militar russa na Ucrânia, que já causou pelo menos 726 mortos e mais de 1.170
feridos, provocou a fuga de cerca de 4,8 milhões de pessoas, segundo os mais
recentes dados da ONU.
Fonte: Record on-line
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