Os entusiastas do ciclismo
aguardam com “expetativa” pelo arranque da época de ‘granfondos’, provas
amadoras de longa distância de estrada, em plena interrupção competitiva
motivada pela pandemia da covid-19.
“Ansiamos que isto passe
rapidamente, porque esta variante do ciclismo é aberta a todos, está muito
enquadrada no turismo desportivo e de lazer e pode trazer uma grande perda. Da
organização aos participantes, passando pela restauração e pelo comércio local,
todos sofremos com esta tragédia”, reconheceu à agência Lusa Manuel Zeferino,
antigo ciclista de FC Porto, Sporting ou Boavista e responsável pela Bikeservice.
Sediada na Póvoa de Varzim,
onde nasceu um dos mais vitoriosos diretores desportivos do ciclismo
profissional luso, a empresa promove os cinco granfondos “mais participativos
do país”, repartidos por Douro, Gerês, Bragança, Montemuro e Monção e Melgaço.
“Neste momento, ainda não cancelámos nada.
Adiámos o Montemuro Granfondo para 04 de outubro [seria realizado no domingo] e
o Douro Granfondo para 18 do mesmo mês [estava previsto para 03 de maio],
esperando que nessa altura a situação esteja normalizada”, indicou o vencedor a
Volta a Portugal em 1981.
A prorrogação das duas provas
de abertura da época de ‘endurance’, com partida e chegada em Cinfães e no Peso
da Régua, respetivamente, encaixam na suspensão global até 31 de maio decretada
pela Federação Portuguesa de Ciclismo.
“Vivemos das inscrições dos
participantes e temos apoios de algumas cidades por onde passamos, o que nos
leva a controlar um pouco as despesas para que haja dinheiro para gastar. Basta
dizer que um evento como o Douro Granfondo custa mais de 100.000 euros para um
único dia de competição”, ilustrou.
Apelidado de “joia da coroa” e
com passagens pelos concelhos de Mesão Frio, Resende, Armamar, Tabuaço, Alijó e
Sabrosa, a prova nortenha caminhava para a repetição da fasquia máxima de 3.000
participantes, com 600 atletas provenientes de 20 países.
“A Europa traz muita gente
pelo nome e pelo turismo ativo da região do Douro. Temos 2.200 inscritos e
cancelámos as inscrições há três semanas, para respeitar o estado de emergência
e dar tempo às pessoas de se adaptarem à nova data. Reabriremos dentro de 15
dias, na expectativa de atingir a marca dos 3.000 como é costume”, apontou.
A organização logística da
Bikeservice comporta uma estrutura fixa de 150 pessoas e lida com 400 a 500
voluntários oriundos das cidades associadas a cada evento, prevendo impactos
financeiros “enormes e transversais” com a propagação do novo coronavírus.
“Na prova do Douro, por
exemplo, há pessoas que vêm do sul do país ou do estrangeiro e ficam a dormir a
50 ou 60 quilómetros da Régua, porque o alojamento naquela região é meramente
insuficiente. No ano passado, já tinham reservado as datas para este ano, mas
acabaram por cancelar todos os hotéis com este adiamento”, explicou.
Intactos permanecem os trilhos
em Monção e Melgaço, em 20 de setembro, bem como a derradeira etapa em
Bragança, em 08 de novembro, ao invés do certame no Gerês, cuja calendarização
programada para 07 de junho está “no fio da navalha”.
“Os ‘granfondos’ não fogem à
regra do adiamento das grandes competições internacionais e não podemos tomar
grandes medidas. Muito poucos podem treinar na rua e alguns limitam-se a fazer
rolos em casa. Resta-nos esperar que todos se libertem de casa para andar de
bicicleta e participar nestes eventos acompanhados da família”, projetou.
O negócio de Manuel Zeferino,
de 59 anos, reúne ainda a gestão de duas provas de atletismo e outras tantas de
ciclismo de montanha, sendo que a Corrida dos Reis (04 de janeiro) e o Raid das
Masseiras (02 de fevereiro) já foram concretizados em 2020.
“Precisamos de responder aos
participantes, que ficam nervosos com o adiamento de datas, mas mantendo a
serenidade. Os apoios não existem em lado nenhum e esta fase custa muito mais
às equipas profissionais. Quanto a nós, mais cedo ou mais tarde acabaremos por
organizar estes eventos”, afiançou.
Fonte: Sapo on-line
Sem comentários:
Enviar um comentário