Foram várias as figuras do
pelotão nacional que marcaram as principais fases da evolução do ciclismo
português, e das quais nos iremos ocupar neste capítulo, desde as proezas de
José Bento Pessoa, nos finais do Século XVIII, aos inesquecíveis José Maria Nicolau
e Alfredo Trindade, até aos históricos Alves Barbosa, Joaquim Agostinho e Marco
Chagas.
Pelo meio ficaram Ribeiro da
Silva, a dinastia dominadora do FC Porto (dos Moreira, Dias Santos, Sousa
Cardoso, Mário Silva, José Pacheco, entre outros), os dois José Martins (o do
Benfica e o da Coelima), José Albuquerque (o popular “Faísca”), o “leão” João
Roque e os benfiquistas Peixoto Alves, Fernando Mendes e Francisco Valada, para
terminar em Joaquim Gomes, Fernando Carvalho, Jorge Silva, Orlando Rodrigues, Vítor
Gamito, Nuno Ribeiro e José Azevedo.
Todos eles estão envolvidos na
reconstituição, que a seguir fazemos, das breves biografias daqueles que
elegemos como principais marcos históricos da evolução do ciclismo português
ALFREDO TRINDADE
Nascimento: Maio de 1908
Naturalidade: Valada (Cartaxo) Equipas: União Clube do Rio de Janeiro (1932),
Sporting (1933 a 1939) e Belenenses (1940 e 1941) Na Volta a Portugal: 2º em
1931; 1º + 11 etapas + 12 dias de líder, em 1932; 1º + 8 etapas + 17 dias de
líder, em 1933; desistiu em 1934 e 1935; 14º em 1940; 7º em 1941. Vestiu a
camisola amarela 29 vezes
IMPULSIONOU O
SPORTING
Nicolau e Trindade travaram o
mais empolgante dos históricos duelos do ciclismo português. A estampa atlética
de um era a antítese da do outro. José Maria Nicolau, era alto e robusto,
senhor de uma vontade indómita e de uma coragem impressionante, com o que
supria a sua falta de conhecimentos sobre técnica e táctica de corrida e outras
insuficiências próprias daqueles tempos.
Alfredo Trindade, era baixo e
franzino, mas compensava esse 'handicap' com um espírito batalhador que o
agigantava quando media forças com os adversários. Tinha a profissão de
carpinteiro e os cronistas da época descreviam-no assim: «Cabelo castanho
aloirado, em pé, ou melhor, em ondas verticais e aparado baixo; olhos castanhos
grandes, sempre gaiatos e brilhantes; testa baixa e comprida, de cantos em
ângulo recto; feições pequenas, o crânio relativamente volumoso, o maciço
facial, a partir dos ossos molares salientes vai adelgaçando até à ponta do
queixo. Não tem um peito alto, mas possui energia indomável.»
No embate entre os dois
ribatejanos, a argúcia de Trindade equilibrava-se com a pujança de Nicolau --
este com 80 quilos e uma bicicleta com cerca de 14 quilos; aquele com 50 quilos
e uma bicicleta apenas um pouco mais leve.
DUAS VITÓRIAS
CONSECUTIVAS
Apesar do extraordinário êxito
da primeira edição, em 1927, a Volta só regressou à estrada três anos depois, e
o acolhimento que teve ultrapassou todas as expectativas, para o que contribuiu
o empolgante duelo travado entre os históricos Nicolau e Trindade.
A rivalidade entre os dois
ciclistas, e, naturalmente, entre os seus adeptos, não impediu que se tivesse
criado, entre ambos, uma forte amizade que contagiou o público das duas facções
e se prolongou até ao fim das suas carreiras.
A seguir à vitória do possante
Nicolau, em 1931, o franzino Trindade, que nessa altura, embora sócio do
Sporting desde 28 de Maio de 1930, envergava ainda a camisola do União Clube do
Rio de Janeiro, popular agremiação do Bairro Alto, conseguiu a desforra no ano
seguinte, dando maior significado à sã rivalidade que os dois populares
ciclistas cultivavam, num despique que durou toda a corrida despertando paixões
do primeiro ao último dia. O seu desfecho ficou a dever-se a um factor
imponderável, a queda de Nicolau na etapa de Castelo Branco para Viseu, onde se
atrasou irremediavelmente. Ainda conseguiu uma excelente recuperação, mas não
foi o suficiente para destronar o rival.
Na época seguinte
apresentou-se à partida da Volta envergando a camisola do Sporting, mas a
expectativa do duelo com Nicolau gorou-se logo no início porque o valoroso
ciclista do Benfica adoeceu e desistiu na segunda etapa, ficando o caminho
aberto para a vitória de Trindade, que obteve a melhor média até então
registada (26,598 Km/h). Trindade envergou a camisola amarela durante dez
etapas, sendo segundo classificado nas restantes. César Luís e José Marquez
foram na temporada de 1935, os seus principais rivais.
Já depois da retirada de
Nicolau, em 1939, Trindade continuou em actividade, não no Sporting, mas no
Belenenses, clube pelo qual disputou as Voltas de 1940 (14º) e 1941 (7º), duas
actuações que estiveram muito longe daquilo a que nos habituara, pois já dava
sinais de que o final da carreira estaria próximo.
Faleceu em 11 de
Outubro de 1977
PRINCIPAIS VITÓRIAS - Circuito
de Alcobaça (1930), Cartaxo-lisboa-Cartaxo (1931),
Matosinhos-Valença-Matosinhos (1933), Lisboa-Ericeira-Mafra, Malveira-Lisboa (1934),
Circuito do Cartaxo (1934), Voltas a Mafra (1934), Campeão nacional de Fundo
(1934), Circuito Internacional (1936), Corrida à Americana (1937)
Fonte: FPC
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