Empresas
timorenses que apoiaram atletas internacionais e nacionais que participaram na
edição do ano passado do Tour de Timor estão até hoje sem receber dos
organizadores do evento, confirmaram vários dos credores à Lusa.
As
dívidas, que ultrapassam os 200 mil dólares (177 mil euros), abrangem ainda o
Suai Extreme, evento que como o Tour de Timor foi organizado pela empresa Noble
Timor.
Vários
empresários e atletas ouvidos pela Lusa confirmam não ter recebido qualquer do
dinheiro devido e afirmam que pedidos de explicação continuam sem resposta,
acusando o proprietário da empresa, Sean Borrell, de ter saído do país sem
resolver o problema.
Contactado
pela Lusa, o responsável da Noble Timor solicitou perguntas por escrito, às
quais acabou por recusar responder.
“Devido
à natureza das tentativas da Noble Timor resolver os desafios financeiros dos
dois eventos internacionais levados a cabo em 2018, o proprietário e diretor de
operações da Nobel Timor, Sean Borrell, não está atualmente disponível para
comentar sobre estas questões”, refere a declaração que o próprio enviou à
Lusa.
Os
credores assinaram uma petição que foi enviada ao Presidente da República, ao
presidente do Parlamento Nacional e ao primeiro-ministro, entre outros, que
inclui detalhes de 16 empresas que têm a haver entre 500 e 26 mil dólares,
cada.
O
material publicitário e de promoção inclui vídeos do secretário de Estado da
Juventude e Desporto (SEJD), Nélio Isaac, com dois ex-Presidentes, José
Ramos-Horta, no caso do Tour de Timor, e Xanana Gusmão, no caso do Suai
Extreme, a darem o seu apoio.
Todo
o material dos dois eventos inclui logos de vários Ministérios e entidades
públicas, mas Nélio Isaac garantiu que o apoio dado aos eventos “foi apenas
moral”.
“Esta
questão é apenas da responsabilidade da Noble Timor. A nossa parte como Governo
foi apenas dar apoio moral”, disse, explicando que o apoio incluiu cartas para
tentar conseguir apoios de patrocinadores.
Fonte
da petrolífera Timor Gap confirmou à Lusa que a empresa apoiou o Tour de Timor
com 50 mil dólares, tendo “intercedido” junto de outras empresas para apoiarem
igualmente o evento.
Entre
os “parceiros” listados contam-se ainda Autoridade Nacional de Petróleo e
Minerais e várias empresas, incluindo a Timor Telecom, a Cardno, a AirNorth, a
Southern Cross, a Timor Resources e a Northern Oil & Gás Australia.
Isaac
disse que o Governo sabe do problema e também tem várias questões para a Noble
Timor, insistindo que “não há qualquer contrato” de apoio e que a assistência
foi dada apenas nas áreas de saúde e segurança, para apoiar os atletas.
Nenhuma
das entidades públicas tem qualquer orçamento previsto em 2018, quer para o
Tour de Timor, quer para o Suai Extreme, segundo os livros orçamentais do ano
passado.
A
SEJD tem nos relatórios de execução orçamental dos primeiros três trimestres de
2018 a rubrica 440110, sobre o Programa Tour de Timor e Maratona de Díli, mas
sem fundos.
Considerado
o principal evento internacional desportivo em Timor-Leste, com atletas de
vários países, incluindo Portugal e a Austrália, o Tour teve já dez edições.
O
Governo timorense foi o principal responsável do evento até 2016, ano de vários
problemas, como falta de água e comida para os atletas.
Sean
Borrell e a Noble Timor acabaram por assumir as rédeas em 2017, com o evento a
decorrer “com crédito das empresas”, perante a promessa de pagamento, que foi
feito.
“Este
ano as empresas voltaram a envolver-se, com base na promessa de que seriam
pagas. No ano o pagamento chegou tarde mas chegou. Agora não”, disse Tino de
Freitas, diretor geral da Timor Lodge, o hotel que foi ‘quartel-general’ da
prova.
Anche
Cabral, a ciclista timorense mais conhecida – competiu nos Olímpicos no Rio de
Janeiro –, confirmou à Lusa que ela, como outros atletas no pódio (este ano
ficou em terceiro) não receberam os prémios.
“Deveria
ter recebido 780 dólares e não recebi nada ainda. Ninguém recebeu. As nossas
contas é de que os atletas têm a receber 12 mil dólares”, disse.
“É
difícil depois de tanto tempo de treino, de comprar equipamento, depois não
receber. Isso mata a motivação dos ciclistas nacionais. Espero que isto seja
resolvido”, disse.
David
Lyons, um ciclista australiano que participou em oito das dez edições e que diz
ter “ajudado a salvar o tour em 2013 quando o Governo quase o destruiu”,
lamenta a situação atual e confirma que os participantes internacionais “não
receberam” ainda os seus prémios.
“Já
nem sequer tenho respostas aos emails. É tudo muito estranho”, explicou.
Gina
Ricardo, a ciclista australiana vencedora da categoria feminina da prova,
confirmou que também não recebeu os 5.000 dólares que lhe são devidos em
prémios.
“Sim.
Infelizmente ainda não recebi”, confirmou à Lusa.
Também
David Vaz, o português que venceu a categoria masculina da prova nas últimas
três edições, confirmou à Lusa que não recebeu o prémio referente à edição de
2018.
“Ainda
não recebi qualquer pagamento do Tour. Assim como sei que muita gente não
recebeu”, disse o ciclista.
Tino
de Freitas admite que a situação afeta várias empresas que apoiaram um evento
importante de projeção de Timor-Leste, cuja imagem “pode ficar seriamente
danificada”.
“Será
difícil conseguir apoio destas empresas no futuro e até mesmo a mobilização de
atletas para participar”, disse.
A
Noble Timor, que segundo a sua página na internet foi criada para
“investimentos éticos” em Timor-Leste, lista José Ramos-Horta como seu patrono.
Ramos-Horta
garantiu à Lusa que só deu “apoio moral” ao projeto e que não tem “qualquer
ligação financeira ou responsabilidade financeira ou executiva” com o Tour de
Timor de que está, formalmente, “desligado há vários anos”.
“Estou
triste, super triste com esta situação por vai matar a iniciativa do Tour de
Timor e ninguém mais quererá participar”, lamentou.
“Se
queremos promover Timor-Leste, temos que fazer isso com muito ativismo, apoiado
por financiamento sério, previsível e garantido. Só daqui a dez ou 20 anos,
quando o setor privado estiver totalmente enraizado e com liquidez, o Governo
pode deixar de apoiar. Mas para já tem que continuar”, disse.
Fonte:
Sapo on-line
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