sexta-feira, 15 de março de 2019

“Organizadores do Tour de Timor devem mais de 210 mil dólares a empresas e atletas”

O Governo timorense foi o principal responsável do evento até 2016.

Empresas timorenses que apoiaram atletas internacionais e nacionais que participaram na edição do ano passado do Tour de Timor estão até hoje sem receber dos organizadores do evento, confirmaram vários dos credores à Lusa.

As dívidas, que ultrapassam os 200 mil dólares (177 mil euros), abrangem ainda o Suai Extreme, evento que como o Tour de Timor foi organizado pela empresa Noble Timor.

Vários empresários e atletas ouvidos pela Lusa confirmam não ter recebido qualquer do dinheiro devido e afirmam que pedidos de explicação continuam sem resposta, acusando o proprietário da empresa, Sean Borrell, de ter saído do país sem resolver o problema.

Contactado pela Lusa, o responsável da Noble Timor solicitou perguntas por escrito, às quais acabou por recusar responder.

“Devido à natureza das tentativas da Noble Timor resolver os desafios financeiros dos dois eventos internacionais levados a cabo em 2018, o proprietário e diretor de operações da Nobel Timor, Sean Borrell, não está atualmente disponível para comentar sobre estas questões”, refere a declaração que o próprio enviou à Lusa.

Os credores assinaram uma petição que foi enviada ao Presidente da República, ao presidente do Parlamento Nacional e ao primeiro-ministro, entre outros, que inclui detalhes de 16 empresas que têm a haver entre 500 e 26 mil dólares, cada.

O material publicitário e de promoção inclui vídeos do secretário de Estado da Juventude e Desporto (SEJD), Nélio Isaac, com dois ex-Presidentes, José Ramos-Horta, no caso do Tour de Timor, e Xanana Gusmão, no caso do Suai Extreme, a darem o seu apoio.

Todo o material dos dois eventos inclui logos de vários Ministérios e entidades públicas, mas Nélio Isaac garantiu que o apoio dado aos eventos “foi apenas moral”.

“Esta questão é apenas da responsabilidade da Noble Timor. A nossa parte como Governo foi apenas dar apoio moral”, disse, explicando que o apoio incluiu cartas para tentar conseguir apoios de patrocinadores.

Fonte da petrolífera Timor Gap confirmou à Lusa que a empresa apoiou o Tour de Timor com 50 mil dólares, tendo “intercedido” junto de outras empresas para apoiarem igualmente o evento.

Entre os “parceiros” listados contam-se ainda Autoridade Nacional de Petróleo e Minerais e várias empresas, incluindo a Timor Telecom, a Cardno, a AirNorth, a Southern Cross, a Timor Resources e a Northern Oil & Gás Australia.

Isaac disse que o Governo sabe do problema e também tem várias questões para a Noble Timor, insistindo que “não há qualquer contrato” de apoio e que a assistência foi dada apenas nas áreas de saúde e segurança, para apoiar os atletas.

Nenhuma das entidades públicas tem qualquer orçamento previsto em 2018, quer para o Tour de Timor, quer para o Suai Extreme, segundo os livros orçamentais do ano passado.

A SEJD tem nos relatórios de execução orçamental dos primeiros três trimestres de 2018 a rubrica 440110, sobre o Programa Tour de Timor e Maratona de Díli, mas sem fundos.

Considerado o principal evento internacional desportivo em Timor-Leste, com atletas de vários países, incluindo Portugal e a Austrália, o Tour teve já dez edições.

O Governo timorense foi o principal responsável do evento até 2016, ano de vários problemas, como falta de água e comida para os atletas.

Sean Borrell e a Noble Timor acabaram por assumir as rédeas em 2017, com o evento a decorrer “com crédito das empresas”, perante a promessa de pagamento, que foi feito.

“Este ano as empresas voltaram a envolver-se, com base na promessa de que seriam pagas. No ano o pagamento chegou tarde mas chegou. Agora não”, disse Tino de Freitas, diretor geral da Timor Lodge, o hotel que foi ‘quartel-general’ da prova.

Anche Cabral, a ciclista timorense mais conhecida – competiu nos Olímpicos no Rio de Janeiro –, confirmou à Lusa que ela, como outros atletas no pódio (este ano ficou em terceiro) não receberam os prémios.

“Deveria ter recebido 780 dólares e não recebi nada ainda. Ninguém recebeu. As nossas contas é de que os atletas têm a receber 12 mil dólares”, disse.

“É difícil depois de tanto tempo de treino, de comprar equipamento, depois não receber. Isso mata a motivação dos ciclistas nacionais. Espero que isto seja resolvido”, disse.

David Lyons, um ciclista australiano que participou em oito das dez edições e que diz ter “ajudado a salvar o tour em 2013 quando o Governo quase o destruiu”, lamenta a situação atual e confirma que os participantes internacionais “não receberam” ainda os seus prémios.

“Já nem sequer tenho respostas aos emails. É tudo muito estranho”, explicou.

Gina Ricardo, a ciclista australiana vencedora da categoria feminina da prova, confirmou que também não recebeu os 5.000 dólares que lhe são devidos em prémios.

“Sim. Infelizmente ainda não recebi”, confirmou à Lusa.

Também David Vaz, o português que venceu a categoria masculina da prova nas últimas três edições, confirmou à Lusa que não recebeu o prémio referente à edição de 2018.

“Ainda não recebi qualquer pagamento do Tour. Assim como sei que muita gente não recebeu”, disse o ciclista.

Tino de Freitas admite que a situação afeta várias empresas que apoiaram um evento importante de projeção de Timor-Leste, cuja imagem “pode ficar seriamente danificada”.

“Será difícil conseguir apoio destas empresas no futuro e até mesmo a mobilização de atletas para participar”, disse.

A Noble Timor, que segundo a sua página na internet foi criada para “investimentos éticos” em Timor-Leste, lista José Ramos-Horta como seu patrono.

Ramos-Horta garantiu à Lusa que só deu “apoio moral” ao projeto e que não tem “qualquer ligação financeira ou responsabilidade financeira ou executiva” com o Tour de Timor de que está, formalmente, “desligado há vários anos”.

“Estou triste, super triste com esta situação por vai matar a iniciativa do Tour de Timor e ninguém mais quererá participar”, lamentou.

“Se queremos promover Timor-Leste, temos que fazer isso com muito ativismo, apoiado por financiamento sério, previsível e garantido. Só daqui a dez ou 20 anos, quando o setor privado estiver totalmente enraizado e com liquidez, o Governo pode deixar de apoiar. Mas para já tem que continuar”, disse.

Fonte: Sapo on-line

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