Os triatletas enquadrados no
alto rendimento adaptaram-se às novas circunstâncias da pandemia que também
afetou Portugal. Desde a declaração do estado de emergência e o adiamento dos
Jogos Olímpicos que o trabalho em grupo terminou e os atletas passaram a treinar
maioritariamente em casa. Também os atletas grupos de idade e outros que
habitualmente seguem uma rotina de exercícios alteraram a sua rotina de
treinos.
A COVID-19, de acordo com os
dados atuais, transmite-se de igual forma entre pessoas de todos os escalões
etários, capacidade física e independentemente das doenças pré-existentes. O
problema dos chamados ‘grupos de risco’ é o grande aumento da probabilidade de
progressão para doença grave. Por exemplo, um jovem atleta de 20 anos, quando
infetado com o coronavírus, tem menos probabilidade de ter uma pneumonia grave,
do que o seu avô, de 80 anos, com hipertensão. Ou se for o caso de um atleta
veterano com diagnóstico de asma, imunodeprimido, com hipertensão, ou diabetes,
apesar de poder estar em boa forma física, continuará a pertencer a um grupo de
risco.
De qualquer forma, os atletas
têm geralmente uma probabilidade inferior de desenvolverem sintomas graves se
estiverem infetados com COVID-19, quando comparados com a população em geral,
podendo mesmo ser assintomáticos. Mas, segundo Nuno Piteira, médico da
Federação de Triatlo de Portugal, devemos ter em conta que «mesmo os atletas de
Alto Rendimento, quando expostos a sessões com muita carga aguda de treino, com
um grande stress fisiológico, poderão estar temporariamente com o seu sistema
imunitário deprimido, e, portanto, mais suscetíveis de desenvolver formas
graves da doença. É, também, por isso fundamental que, além de adaptar o treino
às novas contingências, se mantenha uma alimentação e hidratação adequadas».
Quanto ao treino, os
triatletas de alto rendimento tiveram, tal como as outras pessoas, que se
adaptar a esta nova fase. Sendo o triatlo composto por três segmentos implica
uma gestão dos treinos mais complexa: na primeira fase, com as piscinas
fechadas, os atletas não tinham onde treinar natação exceto no mar, tendo
reduzido alguns treinos na estrada principalmente de ciclismo. A situação
alterou-se rapidamente com a declaração do Estado de Emergência do país e o
anúncio do Comité Olímpico Internacional do adiamento dos Jogos Olímpicos para
2021. Neste contexto, os atletas
passaram a viver uma fase totalmente nova, reajustando os treinos à realidade
possível. «Com o adiamento dos Jogos Olímpicos houve grandes alterações no
treino que neste momento está vocacionado para manter os atletas saudáveis e em
boa condição física, esquecendo picos de forma que deixaram de fazer sentido
nesta fase», diz Lino Barruncho, técnico da Federação de Triatlo de Portugal.
Os atletas treinam isolados, o
mais possível indoor, contactando à distância com a equipa de treinadores,
médicos e nutricionista. Pedro Leitão, técnico da FTP, explica que depois de um
momento a treinar o máximo possível, e antes de perceber as reais repercussões
do COVID 19, «os atletas de alto rendimento estão agora a passar por uma fase
de transição onde treinam com menor volume e intensidade, para aumentar
gradualmente e preparar a fase de pré-competição».
O técnico afirma que neste
período o objetivo é ‘não fragilizar o sistema imunitário’, com o foco num
treino de manutenção, nas horas de sono e alimentação. «Os treinos são
realizados quase totalmente indoor, adaptando o treino às possibilidades de
cada atleta, utilizando rolos ou trabalho de elásticos, por exemplo.» Leitão
diz que este é um período de espera até se perceber quando regressarão as
competições nacionais e internacionais de modo a poder regressar aos treinos
com normalidade.
As orientações dos treinadores
são claras, refere Lino Barruncho: ‘neste momento, o importante é os atletas
manterem-se ativos, mas saudáveis, com uma nutrição equilibrada e flexibilidade
do plano de treinos que é realizado à distância e adaptado às condições de cada
um’. A prioridade nesta fase é manter um
sistema imunitário forte, com especial atenção à alimentação e suplementação.
«Não sabemos as consequências deste vírus caso consiga entrar nos pulmões de um
atleta deste nível, o que nos leva a proteger os atletas o mais possível».
Joana Romão, Estagiária de
Nutrição da Federação de Triatlo de Portugal, refere que nesta fase o atleta
deve ter especial cuidado na manutenção de uma ingestão nutricional adequada às
suas necessidades diárias. Desta forma fornecerá a energia e substratos que o
seu sistema imunitário necessita para combater as agressões do meio e evitar
“janelas-abertas” para outras doenças. «Combater o COVID 19 só é possível
através do isolamento social, prevenção, e adoção de medidas higiene e etiqueta
respiratória; a nutrição não cura, mas pode ajudar a fortalecer o sistema
imunitário».
Como
devemos treinar?
Nuno Piteira afirma que o
‘plano de treino para fazer em casa deverá ser sempre ajustado com o treinador,
e adaptado às condições existentes. Alguns triatletas têm smart trainers ,
passadeiras e autênticos ginásios em casa, o que facilita uma boa rotina de
treino e manutenção da capacidade física.’
Para outros atletas, com pouco
equipamento, ou menos espaço físico disponível para treinar, é preciso arranjar
alternativas mais criativas, com exercícios com o peso do próprio corpo, e ponderar
saídas pontuais ao exterior, para corridas de curta duração.
É também fundamental reduzir
os períodos de inatividade. «É importante que os atletas mantenham as suas
rotinas de treino e descanso, mas que se mantenham ativos em casa durante o
resto do dia, não estando sentados ou deitados por períodos superiores a uma
hora», esclarece Nuno Piteira. Cada um pode criar estratégias como a realização
de tarefas domésticas, alterações frequentes do local de estudo, leitura ou
trabalho, ou ainda realizar programas de mobilidade articular e ginástica
laboral que se encontram neste momento amplamente divulgadas.
Devem
restringir-se os treinos outdoor
Neste momento, o principal
perigo do treino ao ar livre é a propagação do vírus. Se não for possível
garantir que os atletas estão completamente isolados durante o treino, sem se
cruzarem com outras pessoas, não é aconselhável o treino outdoor.
Não é possível aplicar a
distância recomendada de 1,5 a 2 metros durante um treino de corrida ou
ciclismo, já que a frequência e volume respiratório são maiores e os atletas
tossem ou levam mais vezes as mãos à cara. Desta forma, em circuitos
frequentados por outras pessoas, não é possível garantir que os atletas não se
infetem, ou que não infetem alguém (já que poderão estar infetados e
assintomáticos).
Com o avançar desta pandemia,
à semelhança do que assistimos noutros países, os serviços de saúde vão ficando
assoberbados e incapazes de dar resposta a situações que anteriormente seriam
simples de resolver. «Torna-se assim fundamental prevenir também os acidentes,
e sabemos que a maior parte deles acontecem em treinos ao ar livre», afirma
Nuno Piteira.
Fonte: FTP
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