sábado, 15 de outubro de 2022

“Taky Kouamé quer ser "exemplo" para ciclistas negras após ouro nos Mundiais de pista”


Francesa destacou-se ao ganhar a prova de contrarrelógio

 

Por: Lusa

Foto: EPA

A ciclista francesa Taky Kouamé disse este sábado à Lusa querer ser "um exemplo" para outras corredoras negras, para que possam entrar no pelotão, pouco depois de vencer o ouro no contrarrelógio dos Mundiais de pista.

Com um tempo de 32,835 segundos, para cumprir os 500 metros no Velódromo de Saint-Quentin-en-Yvelines, em França, a jovem de 20 anos acabou no ouro, à frente da alemã Emma Hinze, segunda, e da chinesa Yufang Guo, terceira.

A ciclista natural de Créteil fez jus ao seu nome do meio (Marie-Divine) com um tempo a seis décimas do recorde do mundo, e novo recorde de França, conseguindo um ouro da ordem do divino para fazer exultar um esgotado Velódromo de Saint-Quentin-en-Yvelines.

O público festejou, depois, cada parcial mais lento registado por Hinze, a última a partir, na consagração de uma das grandes esperanças da pista mundial, que já tinha sido campeã europeia sub-23 este verão, no Velódromo de Sangalhos, em Anadia.

A vitória surgiu à frente de alguns dos grandes nomes desta corrida, nomeadamente Hinze, já com seis ouros em campeonatos do mundo e dois em europeus no palmarés, levando às lágrimas o pai, nas bancadas, e arrancando festejos, abraços e sorrisos rasgados à comitiva francesa e a grande parte dos funcionários dentro da pista.

"É fantástico. Estou tão feliz, e tão orgulhosa. [Este ouro] Vem de muito trabalho, muita dor, muitas dúvidas. É de doidos correr aqui, em frente ao público francês. 'Uau', esta plateia foi incrível", explica Taky Kouamé à Lusa.

Ainda incrédula com o resultado, que "não esperava" quando se sagrou campeã europeia sub-23 em Portugal, não parece conseguir desligar da corrente, mexendo-se freneticamente enquanto fala e procura encontrar a melhor palavra para descrever o feito que alcançou.

Esta vitória "é importante, claro", até porque pensou apenas em "vir fazer o melhor possível e depois logo se via". "Parece que o meu melhor é ser campeã do mundo, é uma loucura", atira.

Apesar de ainda jovem, Taky Kouamé já se referiu várias vezes ao racismo que ainda grassa na modalidade, de que espera poder ser "um exemplo" para próximos nomes.

No livro "Black Champions in Cycling" ('Campeões negros do ciclismo', em tradução lire), de Marlon Moncrieffe, descreveu como só se apercebeu "o que era racismo" quando sofreu insultos racistas por companheiras de pelotão, com 11 anos.

Agora, espera contribuir para que "pouco a pouco, passo a passo", a situação possa "melhorar", para si mesma e para muitas outras e outros, mesmo que "vá sempre haver quem fique assustado com isso, ou lá o que é".

"Gostaria de ser um exemplo, e espero sinceramente que possa inspirar muita, muita gente", atira.

De outra geografia, Akil Campbell é um de dois ciclistas de Trinidad e Tobago em Saint-Quentin-en-Yvelines, a competir no omnium em que também esteve o português João Matias.

Naquele país caribenho, vale aos atletas um "ensinamento que todos têm ao crescer", conta à Lusa, uma história de superação que é "o mais importante" para poder avançar o desporto naquele território.

"Para mim, para outros atletas, é basicamente um esforço de determinação, de não desistir, continuar a tentar", resume.

Ainda assim, o ciclista reconhece que é "muito duro" entrar no pelotão enquanto corredor negro e "oriundo de um país de terceiro mundo", tendo desvantagem para "conseguir patrocínios ou entrar numa equipa de alguma dimensão".

"Mas tentamos mostrar-nos nestes palcos, para que vejam o que somos capazes de fazer", nota o tobaguenho.

Fonte: Record on-line

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