Por: Miguel Marques
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
A Volta a Espanha 2025
terminou envolta em polémica, com a 21ª etapa em Madrid a ser cancelada devido
aos protestos pró-palestinianos que marcaram toda a corrida. O desfecho sem o
tradicional sprint na capital espanhola deixou ciclistas e adeptos frustrados,
reforçando a sensação de que a última grande volta da temporada se transformou
num palco de tensão política em vez de celebração desportiva. Entre as vozes
mais críticas após o fim da corrida destacou-se Pello Bilbao, ausente da edição
deste ano, mas incisivo nas suas declarações ao Sport.
"Surpreende-me que só
agora me perguntem sobre isto. Não sei do que estamos à espera, porque o que
está a acontecer em Gaza é um genocídio. Se as autoridades tivessem tomado uma
decisão antes da Vuelta, os protestos poderiam ter sido evitados", afirmou
Bilbao. O basco sublinhou que a crise era previsível e que a falta de ação
apenas deixou que os protestos se intensificassem perante a visibilidade
mediática da corrida.
Bilbao procurou, no entanto,
distinguir a sua crítica institucional da relação pessoal com alguns elementos
da Israel - Premier Tech: "É difícil para mim dizer que quero a Israel -
Premier Tech fora do pelotão, porque tenho antigos colegas de equipa e
conhecidos nessa equipa, com os quais me dou bem".
Mesmo reconhecendo esse
dilema, o ciclista foi claro ao apontar incoerências: "É uma situação
complicada e eles também estão a sofrer com isso. Mas não percebo a hipocrisia
da UCI, porque eles tomaram uma decisão diferente com a Gazprom russa". As
suas palavras ecoam uma comparação que vários membros do pelotão fizeram em
privado, mas que poucos expressaram de forma tão direta - a disparidade entre a
exclusão imediata da equipa russa em 2022 e a permanência da formação israelita
em 2025.
Críticas
às instituições
Bilbao foi ainda mais longe,
responsabilizando diretamente a UCI e o Governo espanhol pela falta de
antecipação: "A UCI e o Governo espanhol deviam ter previsto esta
situação, caso contrário não teria acontecido nada do que aconteceu na
Volta". E acrescentou: "Será que os outros ciclistas pensam da mesma
forma? Talvez não sejam tão radicais como eu, mas diria que a maioria do
pelotão pensa da mesma forma. Mas ninguém é tão franco como eu, porque é fácil
ficar calado".
Do lado da organização, Javier
Guillén não escondeu o impacto do colapso da última etapa, admitindo que se
tratou do ponto mais baixo da sua carreira como diretor da Vuelta: "Esta
foi a Vuelta mais difícil. Lamento e condeno o que aconteceu na última etapa.
As imagens falam por si. O que aconteceu foi inaceitável, especialmente no
circuito. Nada de bom pode ser retirado disso, e não pode ser repetido".
Guillén justificou ainda o
processo de decisão, remetendo responsabilidades para a UCI: "Discutimos a
situação com a UCI para analisar os acontecimentos. Foi-lhes pedido que
tomassem uma posição e emitiram uma declaração confirmando que a Israel podia
continuar na corrida. Seguimos os seus critérios, de acordo com os
regulamentos. Nenhuma federação vetou Israel. De uma perspetiva internacional,
nenhuma instituição baniu os atletas israelitas. Mantivemo-nos neutros,
dissemos que havia um problema e deixámos que fosse a UCI a decidir. Eles
disseram que Israel podia correr, e a equipa correu. A própria equipa também
optou por continuar".
A
resposta política espanhola
Se a posição de Guillén
procurou, e bem, mostrar neutralidade, o Conselho Superior do Desporto (CSD) em
Espanha assumiu uma postura bem mais dura e tendenciosa. Em comunicado, o
organismo contestou abertamente a presença da Israel - Premier Tech: "O
desporto não pode ficar indiferente ao que se passa no mundo", afirmando
ainda que "usar o desporto para branquear um genocídio como o de Gaza é
uma posição política que contradiz a Carta Olímpica e os valores fundamentais
do desporto".
O CSD foi mais longe, acusando
a comunidade internacional de duplicidade: "É surpreendente que em nenhum
lugar haja um apelo para que o governo de Netanyahu pare o massacre e a
barbárie contra o povo palestino. Esta realidade deve obrigá-los a responder
com a mesma força que fizeram em 2022 em relação à invasão da Rússia na
Ucrânia".
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