Por: Miguel Marques
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
Paolo Bettini saiu em defesa
da ideia, polémica, de cobrar aos adeptos o acesso a zonas selecionadas à beira
da estrada nas grandes corridas, argumentando que o ciclismo tem de modernizar
o seu modelo e dar maior reconhecimento aos atletas na estrada.
Em declarações à Bici.Sport, o
bicampeão do mundo afirmou que o pelotão já não pode fingir que toda a
assistência à beira da estrada deve continuar gratuita, sobretudo nas subidas
icónicas e nas áreas de maior procura.
Bettini insistiu que lançou a
ideia há anos, ainda enquanto corria. “Fui um dos primeiros e, se não me
engano, disse-o ao Mauro Vegni, é justo que os adeptos paguem”, afirmou à
Bici.Sport. “Não porque queiramos castigar os adeptos, mas para lhes dar algo
mais”.
A sua intervenção surge após
declarações no mês passado de Filippo Pozzato, que defendeu zonas de acesso
pago na Veneto Classic e apelou a que o ciclismo adote uma estrutura de
financiamento mais sustentável. O apoio de Bettini dá peso a um debate que passa
rapidamente de provocação marginal a discussão mainstream.
“Começar
nem que seja com 1 €” – Bettini defende um preço simbólico que eleva a
experiência
Sem abdicar da acessibilidade,
Bettini acredita que uma bilhética pequena e cirúrgica é realista e benéfica.
“Uma etapa de 160 quilómetros não pode ser toda paga, claro”, reconheceu. “Mas
há setores em subida, as subidas míticas, passagens específicas, a reta da
meta. Pagar simbolicamente, começando até com 1 €, é um avanço porque dá mérito
aos atletas na estrada”.
Comparou o ciclismo a outras
modalidades em que as famílias pagam regularmente entradas elevadas para ver os
filhos competir. “O ciclismo é o único que não cobra. E está bem, a maioria
deve continuar gratuita. Mas em certos locais temos de oferecer um serviço”.
Bettini frisou que quem não
quiser pagar deve ter sempre alternativas: “Quem não quer pagar tem toda a
estrada onde pode ir”, disse. “Mas há pontos específicos onde é preciso
oferecer algo mais”.
Bettini
diz que o desporto tem de pensar mais além
Mais do que financiar a
logística, Bettini acredita que as zonas pagas podem ajudar o ciclismo a
reconhecer o seu próprio valor. “Finalmente hoje ouvi alguém dizer: nós não
organizamos apenas corridas de bicicleta”, afirmou. “O ciclismo é algo que vai
além, uma plataforma que cria e gera movimento”.
Para Bettini, a bilhética não
ameaça a alma do ciclismo, é uma evolução tardia. É também, no seu entender,
uma forma de respeitar devidamente os corredores: “É justo agradecer e dizer
‘bravi’ aos atores que estão no meio da estrada”.
O tom foi claro: não se trata
de transformar o ciclismo num espetáculo fechado e exclusivo. É antes um apelo
a que a modalidade reconheça a economia real e eleve o padrão onde a procura já
supera a oferta.
Um
movimento em crescimento, e a passagem de tabu a inevitabilidade?
A posição de Bettini
alinha-se, em termos gerais, com a de Pozzato, que disse recentemente ao
SpazioCiclismo que os espectadores têm de perceber que “não estão a deitar
dinheiro fora” quando pagam por uma experiência curada à beira da estrada.
Em França, Jerôme Pineau
lançou a ideia de “privatizar” parte do Alpe d’Huez para a Volta a França de
2026. Em Itália, as subidas de acesso pago na Veneto Classic já normalizaram um
modelo antes visto como sacrilégio.
Agora, com uma figura tão
respeitada como Bettini a entrar na conversa, o sentido de marcha é inequívoco.
O que começou como provocação transforma-se rapidamente em debate de política.
A identidade histórica do
ciclismo como desporto gratuito para ver não está sob ameaça iminente. Mas a
questão que Bettini coloca em cima da mesa é se algumas zonas à beira da
estrada não devem evoluir, garantindo melhores experiências aos adeptos e estabilizando
as finanças da modalidade. E o veredito de Bettini é cristalino: “É justo que
os adeptos paguem”.
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