quarta-feira, 15 de outubro de 2025

"Naquela altura, o tramadol era legal e eu estava a consumi-lo intensamente" - Chris Horner empatiza com as dificuldades de Tadej Pogacar na Volta a França”


Por: Ivan Silva

Em parceria com: https://ciclismoatual.com

O vencedor da Volta a Espanha de 2013, Chris Horner, ofereceu uma das análises mais realistas e sinceras sobre o que significou para Tadej Pogacar correr lesionado na Volta a França 2025. No seu canal de YouTube, o antigo profissional norte-americano recordou o seu próprio passado com dores e lesões, traçando um paralelismo com o sofrimento do esloveno durante a última semana do Tour.

“Naquela altura, o tramadol era legal e eu estava a usá-lo intensamente”, lembrou Horner sobre a Volta à Califórnia de 2009, onde competiu com uma lesão semelhante. “Ajudou-me a ultrapassar as etapas, mas também me fez ganhar peso dia após dia. A dor era tão forte que só o facto de conseguir pedalar já era uma luta.”

As suas palavras surgem depois de Pogacar ter admitido, num podcast recente, que esteve perto de abandonar a corrida devido a fortes dores no joelho. O tetracampeão do Tour descreveu a edição de 2025 como “a mais difícil da sua carreira”, afetada por frio intenso nos Alpes e uma queda na 11ª etapa que alterou completamente o seu rendimento.

 

O acidente e a viragem na corrida

 

Segundo Horner, o momento decisivo foi a queda de Pogacar na 11ª etapa, quando tocou numa roda de um ciclista da Uno-X e foi projetado para o lado esquerdo da estrada. “Ele bateu na ilha, levantou-se e voltou à bicicleta. Não estou a dizer que foi isso que causou o problema, mas quando se cai com força na anca, a postura pode mudar. Depois, com milhares de pedaladas, algo acaba por ceder.”

As dores manifestaram-se após a 16ª etapa, no Mont Ventoux, e a partir daí o líder da UAE Team Emirates - XRG mudou radicalmente o seu estilo. O habitual atacante impetuoso deu lugar a um corredor calculista, frio e defensivo, que geriu o esforço com maturidade.

“Esta foi a experiência mais adulta e inteligente de Pogacar”, disse Horner. “Se não se consegue deixar Jonas Vingegaard para trás, também não se deve perder tempo para ele. Ele foi pragmático. Reduziu o acelerador.”

Nas etapas 18 e 19, vencidas por Ben O’Connor e Thymen Arensman, Pogacar limitou-se a defender a camisola amarela, garantindo a vitória final sem atacar desnecessariamente. “Não foi falta de vontade ou tédio”, explicou Horner. “O que víamos era um ciclista em sofrimento, a proteger a sua classificação geral.”

 

“O teu corpo absorve tudo”

 

Um dos pontos mais marcantes da análise de Horner foi o efeito fisiológico das lesões. “Sempre que o corpo entra em trauma, ganha peso”, explicou. “Mesmo sem comer, o corpo retém líquidos. Já estive no hospital e saí de lá sete quilos mais pesado.”

No ciclismo, essa retenção (mesmo que de um ou dois quilos) pode ser decisiva nas últimas montanhas de uma Grande Volta. “Em vez de perdermos peso com o desgaste da corrida, acabamos por ganhá-lo. E cada grama conta quando se sobe o Ventoux ou o Col de la Loze.”

Horner confessou ter vivido isso em 2009, quando competiu lesionado e dependente de tramadol, um analgésico entretanto banido pela UCI. “Usava-o agressivamente para aguentar as etapas, mas via o peso subir todos os dias. Disse aos meus companheiros: não esperem por mim no Monte Palomar, a minha forma estava a desaparecer.”

O americano sublinhou que não estava a insinuar que Pogacar recorreu a qualquer substância, apenas a reforçar o impacto fisiológico das dores. “Quer se trate de uma lesão ou de medicação, a retenção de água é real. E isso muda tudo.”

 

A honestidade de Pogacar e a resiliência de um campeão

 

Para Horner, o facto de Pogacar ter falado abertamente sobre a lesão é admirável. “Adoro a honestidade. Dá-nos uma perspetiva mais clara do que ele passou”, disse. “As pessoas olham para o resultado final e esquecem-se do que acontece entre o quilómetro zero e Paris.”

O americano destacou que vencer o Tour lesionado reforça ainda mais o estatuto do esloveno. “Ele não só ganhou a Volta a França, como o fez em sofrimento, ao frio e sob imensa pressão. Qualquer outro teria desistido. Ele manteve-se firme.”

O contraste com Jonas Vingegaard foi inevitável: “Se Pogacar tivesse abandonado, toda a conversa seria de novo sobre Jonas ser o melhor do mundo. Mas há que ter em conta as quedas, as lesões, as dores. São essas pequenas margens que mudam tudo.”

 

O peso invisível da dor

 

Pogacar viria a encerrar o ano com triunfos na Il Lombardia e no Campeonato do Mundo de Estrada, dissipando qualquer dúvida sobre um possível declínio.

Para Horner, a lição é clara: “Uma pequena lesão no joelho poderia ter-lhe custado o Tour. Se ele desiste, o Jonas vence e a narrativa muda por completo.”

A reflexão do americano transcende a táctica e a performance: é o testemunho de quem conhece as batalhas silenciosas que definem o ciclismo de elite. “Pogacar não estava aborrecido”, concluiu Horner. “Ele estava a sofrer. E ganhou na mesma.”

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