Por: Carlos Silva
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
Enquanto o ciclismo se lança
numa corrida desenfreada à procura do novo Remco Evenepoel ou Tadej Pogacar,
surgem avisos vindos de dentro do próprio World Tour. Figuras de topo alertam
para o ambiente cada vez mais agressivo na formação de jovens talentos, onde a
pressão chega antes da maturidade.
Robbert de Groot, Diretor de
Performance da Team Visma | Lease a Bike, descreve uma realidade em rápida
mutação. “Todos os juniores com quem falo têm um manager. Não há quase nenhum
júnior que tenha algum nível, que não tenha um”, afirmou em entrevista ao In de
Waaier, refletindo sobre o impacto do novo modelo de desenvolvimento.
Segundo De Groot, essa
transformação tem os seus custos. “Alguém recebe rapidamente o rótulo de
talento e espera-se algo de dele. Isso cria automaticamente alguma pressão. O
ambiente em volta dele muda e esperam-se coisas. Não me parece que isso seja
sempre saudável”, defendeu.
Concorrência
feroz e talentos holandeses a escapar
A procura pelos prodígios está
a redesenhar por completo o mercado do desenvolvimento dos ciclistas mais
jovens. As principais equipas do WorldTour lutam entre si para garantir os
nomes mais promissores. “A Red Bull, a Trek, nós, a Decathlon... somos grandes
rivais e a batalha é intensa”, explicou De Groot.
Essa guerra já teve
consequências internas para a Visma. Dois jovens holandeses muito cotados,
Michiel Mouris e Gijs Schoonvelde, optaram por assinar pela Red Bull - BORA -
hansgrohe. “Gostaríamos certamente de ter ficado com um deles”, admitiu De
Groot. “Cada um faz as suas próprias escolhas, mas estamos muito interessados
em ter na equipa ciclistas holandeses.”
A luta pelos jovens talentos
está, portanto, a internacionalizar-se, mas à custa das raízes locais e de um
modelo mais sustentável.
“O homem
não é uma máquina”: a experiência em risco
A obsessão pela juventude
também começa a afetar os profissionais mais experientes. O belga Julien
Vermote, em declarações ao Het Nieuwsblad, lançou um aviso: “Todos pensam que
vão sentir falta do novo Pogacar ou Remco. Mas não há cinquenta deles a andar
por aí assim.”
Para Vermote, a tendência está
a afastar a intuição em favor da análise pura de dados. “Tudo é medido em watts
e zonas de frequência cardíaca. O homem não é uma máquina e as pessoas parecem
esquecer-se disso. A corrida não é um laboratório. Ganha-se com o coração, não
com um algoritmo.”
O ciclista dá voz a um
sentimento crescente dentro do pelotão: a tecnologia e a precocidade estão a
moldar um desporto cada vez mais metódico, mas menos humano.
Uma corrida pelo talento e o
preço a pagar
As equipas estão a investir
cada vez mais cedo, a recrutar mais cedo e a transformar academias de formação
em estruturas quase profissionais. O efeito é ambíguo: os jovens têm hoje
acesso a melhores recursos, mas também a uma pressão que antes só se sentia
quando se atingia o to po.
Enquanto isso, os ciclistas
experientes veem as oportunidades a diminuir e o equilíbrio entre rendimento,
crescimento e bem-estar torna-se mais frágil.
Para Robbert de Groot, o
futuro dependerá da forma como as equipas gerem essa nova realidade. “Proteger
os ciclistas será tão importante como descobri-los”, sublinha o holandês.
Num desporto onde o talento se
mede cada vez mais cedo, a questão deixa de ser apenas quem é o próximo
Pogacar, mas sim quem sobreviverá para lá chegar.
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