Por: Carlos Silva
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
A Arkéa – B&B Hotels
estava condenada a abandonar o WorldTour neste inverno, mas o desaparecimento
da equipa francesa é apenas o reflexo de um problema mais profundo no pelotão
internacional. As desigualdades financeiras entre as formações aumentaram
drasticamente nos últimos anos: enquanto algumas evoluíram para estruturas de
topo, com orçamentos colossais, outras ficaram estagnadas e deixaram de ter
meios para competir ao mais alto nível. Emmanuel Hubert, o chefe da Arkéa, é
mais uma voz a defender a introdução de limites salariais que possam reduzir o
fosso entre equipas.
Com a UAE Team Emirates – XRG
a operar com um orçamento anual próximo dos 60 milhões de euros, as
disparidades tornaram-se abismais. As formações de topo do WorldTour dispõem de
recursos que chegam a ser três vezes superiores aos das equipas mais modestas,
como era o caso da Arkéa. O resultado é uma concentração crescente de talento:
os melhores ciclistas e as maiores promessas reúnem-se em meia dúzia de
equipas, deixando as restantes a lutar pelas sobras.
É a evolução natural de uma
modalidade cada vez mais mediática e no caso da Arkéa, o colapso atinge não
apenas a equipa masculina, mas também a formação feminina e os programas de
desenvolvimento. “É de partir o coração, sobretudo pelos meus 150 empregados.
Somos uma família”, lamentou Hubert em declarações à RMC. “O ciclismo sofre de
um formato demasiado exponencial, com equipas gigantes que nos levam a novos
patamares. Talvez a UCI tenha de legislar sobre tectos salariais. Algo tem de
ser feito, caso contrário o ciclismo morrerá.”
O tempo, porém, esgotou-se
para a Arkéa. Nos últimos anos, a contratação de nomes como Nairo Quintana e
Arnaud Démare parecia anunciar uma viragem positiva. No entanto, o colombiano
acabou envolvido no caso de tramadol e foi afastado da equipa, enquanto o
sprinter francês entrou num declínio progressivo nas últimas épocas. Em 2024, o
jovem Kévin Vauquelin emergiu como o novo diamante da equipa, mas o seu talento
não bastou para manter a licença WorldTour. As ProTeams rivais, mais
estruturadas e ambiciosas, ultrapassaram a formação francesa em quase todos os
critérios.
Durante meses, Hubert tentou
encontrar novos patrocinadores que permitissem manter a estrutura, mesmo que
apenas ao nível ProTeam. Mas as negociações não tiveram o final esperado e o
destino ficou traçado: a Arkéa desaparece do mapa, deixando dezenas de ciclistas
e funcionários sem trabalho. Entre eles, Wagner Bazin, que também termina a
carreira este ano. E com a anunciada fusão entre a Intermarché e a Lotto, mais
corredores e treinadores ficarão sem contrato, reforçando a sensação de que o
ciclismo entrou numa nova era, em que só os mais ricos podem realmente
competir.
Pode visualizar este artigo
em: https://ciclismoatual.com/ciclismo/se-a-uci-nao-fizer-nada-o-ciclismo-morrera-o-fim-da-arkea-expoe-o-abismo-financeiro-do-ciclismo-moderno 

Sem comentários:
Enviar um comentário