sexta-feira, 31 de outubro de 2025

"Onde houver dinheiro, há batota" Cavendish recorda a doença, o renascimento e a nova era do ciclismo sem doping”


Por: Carlos Silva

Em parceria com: https://ciclismoatual.com

Mark Cavendish é um ciclista que atravessou várias gerações do pelotão e consolidou o seu nome entre os mais bem-sucedidos da história. Atualmente, detém o recorde absoluto de vitórias em etapas da Volta a França, um feito que o coloca num patamar reservado a poucos. Numa entrevista recente, o “Manx Missile” foi confrontado com o tema do doping, inevitável para alguém que viveu a transição do ciclismo dos tempos de Lance Armstrong para a era moderna, em que, segundo ele, muita coisa mudou.

“Normalmente tiramos uns meses de férias e recuperamos. A minha doença foi mal diagnosticada e acabou por me pôr de joelhos durante alguns anos”, explicou Cavendish, referindo-se ao vírus Epstein-Barr, numa conversa com a talkSPORT. Durante os anos em que perseguia o recorde de vitórias no Tour, o britânico viu a sua carreira quase ruir devido à doença, que o deixou afastado da alta competição e mergulhado na incerteza. Em 2023, assinou pela Astana Qazaqstan Team em busca de uma última grande vitória. Anunciou a retirada durante a Volta a Itália, mas acabou por voltar atrás, renovando por mais uma temporada e conquistando finalmente a vitória mítica que lhe faltava.

Ainda assim a sua carreira não pode ser descrita como um percurso linear. Lesões e problemas de saúde deixaram-lhe marcas profundas. “Penso que qualquer desportista, se não puder praticar o seu desporto a um nível elevado… é a sua vida, é como ganha a vida, é tudo o que é como pessoa. Se não o puder fazer, não vai ser fácil. Tive a sorte de ter uma família e uma rede de apoio à minha volta”, admitiu Cavendish.

O britânico referia-se sobretudo ao período de 2020, quando após uma época sem brilho ao serviço da Bahrain Victorious, o seu futuro parecia comprometido. “O mais difícil foi arranjar emprego. Não consegui arranjar emprego depois disso. Tinha feito tudo o que tinha feito, e havia pessoas que nunca tinham ganho uma corrida de bicicleta e provavelmente nunca iriam ganhar, a arranjar emprego antes de mim, que tinha ganho todas estas corridas, só porque eu tinha estado doente”, recordou.

Foi então que Patrick Lefevere lhe abriu as portas da Soudal - Quick-Step. Nessa estrutura, Cavendish renasceu. Voltou à Volta a França e escreveu uma das histórias mais emocionantes do ciclismo moderno, recuperando a confiança, o instinto e o sprint que o tornaram numa lenda viva do pelotão.

 

Mark Cavendish sobre o doping

 

O tema do doping voltou a estar em destaque esta semana, depois da suspensão de Oier Lazkano por irregularidades no passaporte biológico. Questionado sobre o assunto, Mark Cavendish - um ciclista que atravessou várias eras do pelotão - partilhou a sua visão sobre a evolução da modalidade e a forma como o ciclismo lida atualmente com o problema.

“Penso que sim. Nunca conseguiremos esquecer o nosso passado, mas o ciclismo dedica tempo, esforço e dinheiro à luta contra o doping. Continuará a haver pessoas que são apanhadas por fazer batota e coisas do género”, afirmou o britânico, reconhecendo que, embora o problema não tenha desaparecido, o esforço coletivo da modalidade é hoje muito mais sério e eficaz.

O nome de Lance Armstrong, uma figura incontornável e controversa, surgiu inevitavelmente na conversa. Cavendish, que mantém atualmente uma relação de amizade com o norte-americano, respondeu de forma cautelosa. “Sim, ele era um ídolo quando eu estava a crescer. O Lance foi muito bom para mim quando eu era jovem. Penso que, obviamente, o Lance ganhou muito mais do que qualquer outra pessoa no ciclismo. Da mesma forma, ele perdeu muito mais do que qualquer outra pessoa no ciclismo.”

Para Cavendish, o doping não é um fenómeno exclusivo do ciclismo, mas sim um reflexo das tentações associadas ao dinheiro, ao poder e ao sucesso em qualquer área de competição. “Não se trata de dizer: ‘Sou um batoteiro, por isso vou ser ciclista’. Não é assim que funciona. Acontece em todos os desportos. Acontece no entretenimento, nos negócios, em qualquer lugar onde haja dinheiro para ganhar as pessoas fazem batota. Se dedicarmos tempo, esforço e dinheiro para apanhar um batoteiro, vamos apanhá-lo. Foi isso que o ciclismo fez a um grande nível.”

O britânico acredita, contudo, que a realidade do pelotão actual é incomparavelmente mais limpa do que aquela que encontrou quando se tornou profissional. “Digo-vos que não poderia ter feito o que fiz neste desporto se o ciclismo fosse como era no passado”, assegurou. “Vinte anos depois, estou a responder a perguntas sobre o assunto, o que será sempre o caso. Mas é realmente bom poder falar sobre como o vejo e como o vivi.”

E concluiu com convicção: “Sei que, fundamentalmente, acredito que corri num dos desportos mais limpos do mundo, se não o mais limpo, porque eles fazem o que é preciso para combater o doping.”

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