Por: Carlos Silva
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
Mark Cavendish é um ciclista
que atravessou várias gerações do pelotão e consolidou o seu nome entre os mais
bem-sucedidos da história. Atualmente, detém o recorde absoluto de vitórias em
etapas da Volta a França, um feito que o coloca num patamar reservado a poucos.
Numa entrevista recente, o “Manx Missile” foi confrontado com o tema do doping,
inevitável para alguém que viveu a transição do ciclismo dos tempos de Lance
Armstrong para a era moderna, em que, segundo ele, muita coisa mudou.
“Normalmente tiramos uns meses
de férias e recuperamos. A minha doença foi mal diagnosticada e acabou por me
pôr de joelhos durante alguns anos”, explicou Cavendish, referindo-se ao vírus
Epstein-Barr, numa conversa com a talkSPORT. Durante os anos em que perseguia o
recorde de vitórias no Tour, o britânico viu a sua carreira quase ruir devido à
doença, que o deixou afastado da alta competição e mergulhado na incerteza. Em
2023, assinou pela Astana Qazaqstan Team em busca de uma última grande vitória.
Anunciou a retirada durante a Volta a Itália, mas acabou por voltar atrás,
renovando por mais uma temporada e conquistando finalmente a vitória mítica que
lhe faltava.
Ainda assim a sua carreira não
pode ser descrita como um percurso linear. Lesões e problemas de saúde
deixaram-lhe marcas profundas. “Penso que qualquer desportista, se não puder
praticar o seu desporto a um nível elevado… é a sua vida, é como ganha a vida,
é tudo o que é como pessoa. Se não o puder fazer, não vai ser fácil. Tive a
sorte de ter uma família e uma rede de apoio à minha volta”, admitiu Cavendish.
O britânico referia-se
sobretudo ao período de 2020, quando após uma época sem brilho ao serviço da
Bahrain Victorious, o seu futuro parecia comprometido. “O mais difícil foi
arranjar emprego. Não consegui arranjar emprego depois disso. Tinha feito tudo o
que tinha feito, e havia pessoas que nunca tinham ganho uma corrida de
bicicleta e provavelmente nunca iriam ganhar, a arranjar emprego antes de mim,
que tinha ganho todas estas corridas, só porque eu tinha estado doente”,
recordou.
Foi então que Patrick Lefevere
lhe abriu as portas da Soudal - Quick-Step. Nessa estrutura, Cavendish
renasceu. Voltou à Volta a França e escreveu uma das histórias mais
emocionantes do ciclismo moderno, recuperando a confiança, o instinto e o
sprint que o tornaram numa lenda viva do pelotão.
Mark
Cavendish sobre o doping
O tema do doping voltou a
estar em destaque esta semana, depois da suspensão de Oier Lazkano por
irregularidades no passaporte biológico. Questionado sobre o assunto, Mark
Cavendish - um ciclista que atravessou várias eras do pelotão - partilhou a sua
visão sobre a evolução da modalidade e a forma como o ciclismo lida atualmente
com o problema.
“Penso que sim. Nunca
conseguiremos esquecer o nosso passado, mas o ciclismo dedica tempo, esforço e
dinheiro à luta contra o doping. Continuará a haver pessoas que são apanhadas
por fazer batota e coisas do género”, afirmou o britânico, reconhecendo que,
embora o problema não tenha desaparecido, o esforço coletivo da modalidade é
hoje muito mais sério e eficaz.
O nome de Lance Armstrong, uma
figura incontornável e controversa, surgiu inevitavelmente na conversa.
Cavendish, que mantém atualmente uma relação de amizade com o norte-americano,
respondeu de forma cautelosa. “Sim, ele era um ídolo quando eu estava a crescer.
O Lance foi muito bom para mim quando eu era jovem. Penso que, obviamente, o
Lance ganhou muito mais do que qualquer outra pessoa no ciclismo. Da mesma
forma, ele perdeu muito mais do que qualquer outra pessoa no ciclismo.”
Para Cavendish, o doping não é
um fenómeno exclusivo do ciclismo, mas sim um reflexo das tentações associadas
ao dinheiro, ao poder e ao sucesso em qualquer área de competição. “Não se
trata de dizer: ‘Sou um batoteiro, por isso vou ser ciclista’. Não é assim que
funciona. Acontece em todos os desportos. Acontece no entretenimento, nos
negócios, em qualquer lugar onde haja dinheiro para ganhar as pessoas fazem
batota. Se dedicarmos tempo, esforço e dinheiro para apanhar um batoteiro,
vamos apanhá-lo. Foi isso que o ciclismo fez a um grande nível.”
O britânico acredita, contudo,
que a realidade do pelotão actual é incomparavelmente mais limpa do que aquela
que encontrou quando se tornou profissional. “Digo-vos que não poderia ter
feito o que fiz neste desporto se o ciclismo fosse como era no passado”,
assegurou. “Vinte anos depois, estou a responder a perguntas sobre o assunto, o
que será sempre o caso. Mas é realmente bom poder falar sobre como o vejo e
como o vivi.”
E concluiu com convicção: “Sei
que, fundamentalmente, acredito que corri num dos desportos mais limpos do
mundo, se não o mais limpo, porque eles fazem o que é preciso para combater o
doping.”
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