A história, para o rapaz nascido em 21 de setembro de 1998, começou noutra modalidade, outro amor, o futebol, mas o irmão, Tilen, inscreveu-o no clube de ciclismo de Ljubljana, dando início à lenda do mais jovem bicampeão do Tour de sempre.
O esloveno Tadej Pogacar
estreou-se na Volta a Itália em bicicleta, um sonho que tinha na carreira, com
uma vitória dominadora, em que exibiu a faceta de ‘bom gigante’, acumulando vitórias enfáticas com gestos
de camaradagem.
“Acredito
que venho de uma boa família e que fui educado para ser um bom rapaz”,
confessou, depois de ver os pais e a namorada, a também ciclista profissional
Urska Zigart, a apoiá-lo na estrada numa etapa do Tour em 2021.
O “bom rapaz” cresceu
e, aos 25 anos, assemelha-se agora a um ‘bom
gigante’, dado que vence quase tudo por onde passa e com uma
atitude em cima da bicicleta que ‘trai’ a simpatia e bondade que parece transbordar fora
dela.
Foi granjeando simpatia pouco
comum para alguém tão dominador sobre o pelotão, a vencer mesmo quando admitia
que não tinha planeado discutir o triunfo, de forma ‘autoritária’ e
sem qualquer margem para dúvidas, de tal forma que se dizia entre os fãs da
modalidade, ao final da primeira semana, que o título estava ‘entregue’.
Ainda assim, foi mostrando um
lado magnânimo, fosse a entregar a Giulio Pellizzari a camisola rosa que
envergou quando negou a vitória na 16.ª etapa ao jovem italiano, um dia um fã
que tirou uma foto com ele e hoje um ciclista de 20 anos a tentar vencer uma
tirada, ou a tentar ‘oferecer’ um triunfo ao polaco Rafal Majka, seu ‘general’
nesta edição.
Ajudou o português Rui
Oliveira, seu companheiro na UAE Emirates, a lançar um sprint do colombiano
Juan Sebastián Molano, acumulou referências a pizza e outros ícones italianos,
correu como um campeão e recusou esconder-se ou deixar de tratar cada corrida
como isso mesmo, uma corrida para vencer.
A caminho de tentar o raro
feito de acumular Giro e Tour no mesmo ano, e com Itália rendida ao seu
carisma, ‘Pogi’ prolongou um ‘rasto’ praticamente imaculado em 2024 venceu todas as
provas em que participou, ou seja, a Strade Bianche, a Volta à Catalunha e a
Liège-Bastogne-Liège, sendo a exceção a Milão-Sanremo, em que foi terceiro.
Mais do que as vitórias,
esperadas de alguém que Eddy Merckx já profetizou como podendo ser “o novo ‘Canibal’”, destaca-se a maneira
como as conquista, com um pendor ofensivo que lhe dá já 11 etapas no Tour, três
Voltas à Lombardia, uma Volta a Flandres ou a Flèche Wallonne, destaques entre
77 vitórias como profissional.
A abrir essa conta
‘astronómica’, e que só crescerá em anos vindouros, está o Alto da Fóia, no sul
de Portugal, e uma Volta ao Algarve de 2019, em que aproveitou a queda do chefe
de fila Fabio Aru para brilhar ao mais alto nível, na segunda etapa.
Aí, as borbulhas na cara e a
inexperiência no trato com jornalistas denotavam uma impreparação que ‘traiu’, primeiro ao arrebatar a geral
final, depois, mais para o fim do ano, ao ir à Volta a Espanha mostrar ao que
vinha terceiro lugar final na grande Volta de estreia, três etapas
conquistadas, a anunciar ao mundo que tinha nascido uma estrela.
Em 2020, ‘arrasou’ no
Tour, repetiu a dose em 2021, perfilando-se como um bicampeão consagrado e
aparentemente imbatível, capaz de vencer sem grande equipa a apoiá-lo ou mesmo
depois de perder tempo em azares, mas, nas duas edições seguintes, teve
idêntico número de contrariedades, todas com o mesmo nome: Jonas Vingegaard.
O dinamarquês da agora
Visma-Lease a Bike ‘banalizou’ o esloveno em França e obrigou-o a procurar
outras fontes de glória, outra forma de correr sem tanta impulsividade, ataques
desnecessários, impaciência ou exagero de objetivos, outra forma de lidar com a
frustração, bem explícitos naquele já icónico “I’m
gone. I’am dead” (‘Já fui,
estou morto’, na tradução em português) com que reconheceu a
derrota no Tour2023 durante a 17.ª etapa.
O esloveno, que em 2023
fraturou o escafoide e teve a sua preparação para a ‘Grande Boucle’
fortemente condicionada, encarou a Volta a Itália como “um sonho”, como admitiu várias vezes,
seja a vencer etapa atrás de etapa ou a vestir a icónica ‘maglia rosa’, mas também um caminho a ter
até ao Tour, que já surgia nas conversas com jornalistas ao longo dos dias de
descanso da ‘corsa rosa’.
A história, para o rapaz
nascido em 21 de setembro de 1998, começou noutra modalidade, outro amor, o
futebol, mas o irmão, Tilen, inscreveu-o no clube de ciclismo de Ljubljana,
dando início à lenda do mais jovem bicampeão do Tour de sempre.
“Quis
imediatamente imitar o meu irmão, mas não tinham uma bicicleta tão pequena no
clube”, revela no seu site pessoal.
Fazendo jus à perseverança
evidenciada nas suas conquistas na prova francesa, não desistiu de seguir as
pisadas de Tilen e, em pleno inverno, com apenas nove anos, começou a
acompanhar o irmão nos treinos, participando na sua primeira corrida logo em
2008, com bons resultados, para nunca mais parar.
O potencial tremendo,
corroborado pela conquista da Volta a França do Futuro (2018), chamou a atenção
da UAE Emirates, que lhe ofereceu um contrato para as temporadas seguintes, com
o desfecho que se conhece: uma lenda em crescendo, em busca, agora, do ajuste
de contas com a ‘Grande Boucle’.
Fonte: Sapo on-line
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