Dezenas
de mulheres no Paquistão participaram num protesto em bicicleta no domingo 2 de
abril, em várias cidades do país. As mulheres, sobretudo jovens na casa dos 20
anos de idade, queriam chamar a atenção para o pouco espaço que ocupam nas
ruas, desafiando assim o domínio masculino.
"A
nossa estratégia é simplesmente ser visível em espaços públicos", explica
Meher Bano da organização Girls at Dhabas, um grupo feminista que organizou os
protestos depois de uma mulher de Lahore ter sido empurrada da bicicleta por um
grupo de homens, há um ano, por não responder aos piropos que aqueles lhe
lançavam.
O
desfile de bicicletas foi um dos muitos eventos organizados pelas Girls at
Dhabas, nos últimos anos. O nome da associação remete para os restaurantes
paquistaneses (dhabas), numa ligação clara à urgência que as mulheres têm de
estar no espaço público com os mesmos direitos que os homens; e também com o
objectivo de aumentar a consciencialização para este problema.
Os
membros desta associação dizem que são a nova geração de feministas
paquistanesas, determinadas a construir sobre o progresso feito pelas suas
antecessoras. "O movimento das mulheres é tão antigo quanto o Paquistão,
mas não é algo que realmente seja falado", esclarece Bano.
Mais
de 60% dos quase 200 milhões de paquistaneses têm menos de 30 anos, mas as
mulheres jovens daquele país muçulmano continuam a enfrentar barreiras de
acesso ao emprego e muitas vezes sentem-se "desconfortáveis" por ir a
áreas públicas onde a presença masculina é preponderante, continua a dirigente
feminista. "Faz parte de uma narrativa muito maior que leva ao assédio e à
violência", lamenta.
As
diferenças entre homens e mulheres continuam a ser gritantes num país onde
ainda se matam as mulheres em nome da honra familiar, como aconteceu em Julho
com Qandeel Baloch, uma celebridade de 20 anos, conhecida nas redes sociais
pelos seus posts, e que foi morta pelo irmão por alegadamente desonrar a
família. A sua morte chocou o país e transformou esta jovem num ícone
feminista.
Embora
exista um movimento liberal pequeno, as mulheres conseguem fazer chegar a sua
voz a vários meios de comunicação e às redes sociais. No entanto, muiitas
enfrentam o abuso e são acusadas de estarem a ser influenciadas por ideais
ocidentais, em vez das muçulmanas.
Para
terminar o protesto de bicicleta, em Islamabad, várias jovens partilharam
histórias de assédio, mas também falaram sobre a necessidade de lutar contra o
conservadorismo crescente nas ruas do Paquistão, dizendo que há menos mulheres
em público hoje do que há 20 anos. "Estamos a deixar esse espaço
desaparecer e a sociedade está a ficar mais pequena de espírito", disse
uma delas.
Fonte:
Público on-line
Sem comentários:
Enviar um comentário