Um
conjunto de onze painéis com fotografias e capas de diversas publicações do
século XX recordam corridas como a Volta a Portugal, a Volta a Lisboa, o Porto
– Lisboa e a Subida à Glória, a mostra estará disponível até 1 de maio, todos os
dias, entre as 9h00 e as 17h00.
Porquê
as Corridas de bicicleta de Lisboa?
Porque,
desde que inventada a bicicleta, o espaço da cidade foi dos primeiros a ser
investido, explorado e até alterado por esta nova tecnologia, primeiro
associada ao lazer e, logo depois, à competição desportiva e ao transporte
pessoal. Esta Exposição é dedicada apenas às corridas que foram e/ou são
grandes eventos desportivos usando para o efeito o espaço publico. De fora
ficam as corridas dos Velódromos que, só por si, dão mote a uma outra
exposição.
A
bicicleta e o ciclismo são, ainda e também, referenciais importantes quer
pelo aproveitar da sua história e fazer dessas memórias um património de
performance e turismo, quer pela vertente de risco associada (BTT, downhill,
etc), mas, sobretu- do, há que olhar para a qualidade de vida diária e
analisar a potencialidade do uso da bicicleta como riqueza de futuro, pela via
de incremento da sustentabilidade – seja pela vertente da promoção da saúde
pessoal e do próprio meio ambiente, seja pelos ganhos em autonomia das
crianças e jovens menores de 18 anos, seja pela captação de novas áreas de
intervenção ligadas à inovação e tecnologia.
Lisboa
é historicamente a cidade das corridas de bicicleta. A cidade para continuar a
ser um ícone desportivo tem de se tornar um ícone da mobilidade de bicicleta:
eis o desafio para um novo itinerário, para uma outra corrida na qual todos
estamos interessados em participar.
AS
CORRIDAS DE LISBOA
Nesta
Exposição irá encontrar um conjunto de painéis com reprodução das fotografias
publicadas pela imprensa escrita da época em que são criadas as corridas. Cada
uma das corridas tem um inédito: no caso da Volta a Lisboa, com a participação
das mulheres – Oceana Zarco, assumidamente ciclista e equipada como os homens
da sua equipa Vitória de Setúbal e, vestidas de modo usual, as outras
participantes – como se vê na foto principal deste site; no caso do
Lisboa-Porto o facto de ser a corrida de um dia mais longa que existia e, por
isso mesmo, foi extinta pela UCI, virtude que passou agora para o Paris –
Roubaix; a Volta a Portugal em bicicleta, é um evento que há 90 anos percorre o
país por inteiro; e, por último, a Corrida da Glória cuja disputa cronometrada
data de 1913 foi re-editada em 2013 como corrida popular aberta a toda a
população com a virtude de ser a corrida mais íngreme e curta do quadro
competitivo.
A
VOLTA A LISBOA
Fonte:
O Sport de Lisboa, 15 de outubro de 1924, do arquivo do Museu Nacional do
Desporto
Em
1924 realizou-se pela primeira vez a primeira Volta a Lisboa em bicicleta. Com
esta competição marcam-se e exploram-se
os limites da cidade. A corrida organizada pelo jornal O Sport de Lisboa
servirá a Raul Oliveira, jornalista deste periódico e promotor da disputa, como
banco de ensaio para a realização da primeira Volta a Portugal em bicicleta a
1927, que no ano que vem celebra 90 anos de existência. Segue-se o mapa
alegórico do ano em que completou o trigésimo aniversário:
A
VOLTA A PORTUGAL EM BICICLETA
Fonte:
Sport Ilustrado, do arquivo da BN
A
bicicleta e o ciclismo em Portugal constituem, via competição desportiva, um
raro potencial de memória, um manancial patrimonial a partir do qual se
configuram identidades locais e identificações por parte das suas comunidades.
A Volta a Portugal em bicicleta ilustra uma história de Portugal do último
século. E, de igual modo, as corridas na cidade de Lisboa propiciam nas
primeiras décadas do século XX um raro momento de descoberta da própria cidade
– dos seus limites com a Volta a Lisboa, criada em 1925, das suas rampas
íngremes, como a corrida da Subida da Glória, que data de 1913 e cuja recriação
teve sucesso em 2013, das suas possibilidades de ligação entre cidades, como a
clássica Porto-Lisboa, criada em 1911.
PORTO
– LISBOA
Fonte:
Ilustração Portuguesa, capa da edição de 7 de julho de 1923, do arquivo do
Museu Nacional do Desporto
São
estes grandes eventos desportivos que permitem imaginar o país por inteiro,
como é o caso da Volta a Portugal que, com a publicação dos mapas, dá uma lição
de geografia e, com a vontade de ilustrar o território, revela sentimentos de
identidade e pertença. A reportagem de todas estas corridas tem, imbuída em si,
a ambição de informar e também de exibir as belezas que atravessa e, muitas
vezes, descrever a pobreza vivida nos maus caminhos que percorre, sentida nas
gentes que espantadas se deslumbram com uma comitiva tão moderna nos modos de
estar, de agir e de se transportar.
Em
Lisboa as grandes rampas constituem desafios que interessa disputar como é o
caso da Subida à Glória.
SUBIDA
À GLÓRIA
Fonte:
Eco Dos Sports, AnoI, n39, 1926, do arquivo do Museu Nacional do Desporto
Em
Maio de 2013, aconteceu em Lisboa o Congresso Internacional da História do
Ciclismo (ICHC 2013). No âmbito do programa desta Conferência realizou-se a
corrida da Subida à Glória. Esta corrida aparece descrita na obra de Gil
Moreira, segundo a qual a data primeiro registo cronometrado é de 1910 mas é em
1913 que a disputa se avoluma e depressa se torna numa das mais célebres
corridas de Lisboa. Em 1926 Alfredo Luís Piedade ganha a Glória de um recorde
de 55 segundos nunca, até hoje, batido.
A
Subida à Glória é uma subida que Tristão da Silva tornou fado cantado, no qual
não há glória merecida sem sacrifício suado e, perante esta sina, cabe ao
ciclismo enfrentar e vencer a rampa de 265 metros com declive médio superior a
17%. Mas não há corrida sem festa nem euforia e eis que tamanha alegria é
também prometida na Subida à Glória do próximo dia 17. Um frenesim que pode ser
escutado na canção dos Rádio Macau dedicada ao elevador que liga a Baixa ao
Bairro Alto, uma alegoria às ilusões da vida motivadas por subidas rápidas sem
canseiras nem fadigas.
Em
2013, de modo festivo a história da corrida foi também uma forma de chamar a
atenção para os problemas da cidade no presente. Ora, nas corridas há uma mise
en scéne do esforço, da conquista do território, demonstrando que não há na
cidade rampas que resistam à glória da bicicleta, nomeadamente se for
eléctrica.
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