quarta-feira, 19 de novembro de 2025

"Estamos a perder várias gerações de atletas nacionais" - Entrevista a Tiago Antunes, o melhor português na última Volta”


Por: Miguel Marques

Em parceria com: https://ciclismoatual.com

Depois de várias temporadas de evolução e aprendizagem, 2025 acabou por ser o melhor ano de Tiago Antunes na Volta a Portugal. Questionado sobre o balanço dessa edição e o significado de alcançar o seu melhor resultado de sempre, o corredor da Efapel Cycling não hesita: "Faço um balanço bastante positivo desta última edição da Volta a Portugal, talvez tenha sido o ano em que me tenha preparado melhor para esta competição e também surgiu a oportunidade de ‘liderar’ a equipa e penso ter aproveitado essa oportunidade".

Um dos temas quentes da época foi a polémica em torno da não convocação de Mauricio Moreira para a Volta, que desencadeou reações públicas de José Azevedo e do médico Benjamim Carvalho. Sobre como viveu esse episódio dentro da equipa, Tiago é claro: "Desde o início do ano que se esperava muito da contratação do Maurício, dentro da equipa sempre o tentámos apoiar ao máximo, infelizmente as coisas não lhe correram bem e acho que ele não ter ido à Volta a Portugal foi uma decisão justa tendo em conta tudo aquilo que foi o restante do ano".

Com passagem pela SEG Racing Academy, o português teve contacto direto com estruturas internacionais de formação. Quando questionado sobre diferenças entre modelos, explica: "Sem dúvida que há grandes diferenças no modelo de formação das equipas sub23, hoje em dia as melhores equipas de formação internacional já trabalham de maneira profissional e com uma estrutura de nível World Tour, isso faz com que os talentos se desenvolvam e revelem em idades cada vez mais jovens".

A temporada de 2025 destacou-se também pela consistência em provas nacionais, com presenças regulares no top 10 - 8º na Volta ao Alentejo, 7º no Grande Prémio Jornal O JOGO, 8º no GP Abimota e 6º no GP Internacional de Torres Vedras - Troféu Joaquim Agostinho. Tiago admite que vive um dos melhores momentos da carreira: "Sim, nos últimos anos tive vários resultados de destaque mas não conseguia manter a consistência ao longo do ano, penso que na EFAPEL encontrei estabilidade necessária para conseguir manter o bom nível durante todo o ano".

Trabalhar sob a direção de José Azevedo tem sido um ponto importante no seu desenvolvimento. Sobre o trabalho conjunto, resume: "A equipa da EFAPEL é a imagem do José Azevedo, uma equipa séria e que entra em todas as corridas ao longo do ano com o objetivo de vencer. Trabalhar com o Azevedo tem sido bastante bom".

O ciclista natural do Bombarral tem sido um dos pilares da equipa, estando presente desde a sua fundação, em 2022. O próximo ano traz muitos reforços, com destaque para Jesus David Peña, Lucas Lopes e Gonçalo Tavares, pelo que as expectativas em torno da equipas são elevadas.

Em 2025, Tiago representou a Seleção Nacional no Campeonato da Europa, onde esteve longos quilómetros em fuga, e também no Campeonato do Mundo. Uma experiência marcante, descreve: "Foi sem dúvida uma grande experiência para mim, representar a seleção nacional é sempre um motivo de grande orgulho e acho que foi o culminar de um ano de bastante trabalho".

Sobre a sua identidade como ciclista, Tiago descreve-se assim: "Eu considero-me um corredor bastante completo, tenho trabalhado em todas as áreas, acho que evoluí bastante nos contrarrelógios e na alta montanha e assim espero continuar".

A análise ao estado atual do ciclismo português não é otimista. O corredor sublinha as dificuldades estruturais: "Estamos a ultrapassar uma fase complicada, as equipas cada vez têm mais dificuldades em encontrar patrocinadores que apoiem ao longo de vários anos e isso cria uma certa instabilidade em tudo, isso reflete-se bastante nas equipas de formação que ultrapassam grandes dificuldades e não conseguem cativar os jovens talentos a ingressar nessas equipas ou mesmo seguir na modalidade e isso faz com que estejamos a perder várias gerações de atletas nacionais com capacidade para uma renovação do pelotão a longo prazo".

Quanto a 2026, o foco mantém-se na ambição: "Sim, acho que ainda tenho muitos objetivos na minha carreira e em 2026 espero estar novamente a bom nível para disputar os Campeonatos Nacionais, o Troféu Joaquim Agostinho e a Volta a Portugal".

Por fim, abordou os casos de doping que continuam a marcar o pelotão nacional, com o mais recente envolvendo António Carvalho. Tiago reflete com preocupação: "Estas situações nunca são boas de se ver, quer para as equipas, quer para os patrocinadores, tudo isto não contribui em nada para o desenvolvimento das equipas de ciclismo e das competições. Todos os anos surgem novos casos e isso faz com que o Ciclismo português não tenha credibilidade, acaba por fechar muitas portas para os jovens que querem dar o salto para equipas internacionais e mesmo para as equipas portuguesas que pretendem correr em competições no estrangeiro".

Pode visualizar este artigo em: https://ciclismoatual.com/ciclismo/estamos-a-perder-varias-geracoes-de-atletas-nacionais-entrevista-a-tiago-antunes-o-melhor-portugues-na-ultima-volta

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