Por: Miguel Marques
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
Depois de várias temporadas de
evolução e aprendizagem, 2025 acabou por ser o melhor ano de Tiago Antunes na
Volta a Portugal. Questionado sobre o balanço dessa edição e o significado de
alcançar o seu melhor resultado de sempre, o corredor da Efapel Cycling não
hesita: "Faço um balanço bastante positivo desta última edição da Volta a
Portugal, talvez tenha sido o ano em que me tenha preparado melhor para esta
competição e também surgiu a oportunidade de ‘liderar’ a equipa e penso ter
aproveitado essa oportunidade".
Um dos temas quentes da época
foi a polémica em torno da não convocação de Mauricio Moreira para a Volta, que
desencadeou reações públicas de José Azevedo e do médico Benjamim Carvalho.
Sobre como viveu esse episódio dentro da equipa, Tiago é claro: "Desde o
início do ano que se esperava muito da contratação do Maurício, dentro da
equipa sempre o tentámos apoiar ao máximo, infelizmente as coisas não lhe
correram bem e acho que ele não ter ido à Volta a Portugal foi uma decisão
justa tendo em conta tudo aquilo que foi o restante do ano".
Com passagem pela SEG Racing
Academy, o português teve contacto direto com estruturas internacionais de
formação. Quando questionado sobre diferenças entre modelos, explica: "Sem
dúvida que há grandes diferenças no modelo de formação das equipas sub23, hoje
em dia as melhores equipas de formação internacional já trabalham de maneira
profissional e com uma estrutura de nível World Tour, isso faz com que os
talentos se desenvolvam e revelem em idades cada vez mais jovens".
A temporada de 2025
destacou-se também pela consistência em provas nacionais, com presenças
regulares no top 10 - 8º na Volta ao Alentejo, 7º no Grande Prémio Jornal O
JOGO, 8º no GP Abimota e 6º no GP Internacional de Torres Vedras - Troféu
Joaquim Agostinho. Tiago admite que vive um dos melhores momentos da carreira:
"Sim, nos últimos anos tive vários resultados de destaque mas não
conseguia manter a consistência ao longo do ano, penso que na EFAPEL encontrei
estabilidade necessária para conseguir manter o bom nível durante todo o
ano".
Trabalhar sob a direção de
José Azevedo tem sido um ponto importante no seu desenvolvimento. Sobre o
trabalho conjunto, resume: "A equipa da EFAPEL é a imagem do José Azevedo,
uma equipa séria e que entra em todas as corridas ao longo do ano com o objetivo
de vencer. Trabalhar com o Azevedo tem sido bastante bom".
O ciclista natural do
Bombarral tem sido um dos pilares da equipa, estando presente desde a sua
fundação, em 2022. O próximo ano traz muitos reforços, com destaque para Jesus
David Peña, Lucas Lopes e Gonçalo Tavares, pelo que as expectativas em torno da
equipas são elevadas.
Em 2025, Tiago representou a
Seleção Nacional no Campeonato da Europa, onde esteve longos quilómetros em
fuga, e também no Campeonato do Mundo. Uma experiência marcante, descreve:
"Foi sem dúvida uma grande experiência para mim, representar a seleção
nacional é sempre um motivo de grande orgulho e acho que foi o culminar de um
ano de bastante trabalho".
Sobre a sua identidade como
ciclista, Tiago descreve-se assim: "Eu considero-me um corredor bastante
completo, tenho trabalhado em todas as áreas, acho que evoluí bastante nos
contrarrelógios e na alta montanha e assim espero continuar".
A análise ao estado atual do
ciclismo português não é otimista. O corredor sublinha as dificuldades
estruturais: "Estamos a ultrapassar uma fase complicada, as equipas cada
vez têm mais dificuldades em encontrar patrocinadores que apoiem ao longo de
vários anos e isso cria uma certa instabilidade em tudo, isso reflete-se
bastante nas equipas de formação que ultrapassam grandes dificuldades e não
conseguem cativar os jovens talentos a ingressar nessas equipas ou mesmo seguir
na modalidade e isso faz com que estejamos a perder várias gerações de atletas
nacionais com capacidade para uma renovação do pelotão a longo prazo".
Quanto a 2026, o foco
mantém-se na ambição: "Sim, acho que ainda tenho muitos objetivos na minha
carreira e em 2026 espero estar novamente a bom nível para disputar os
Campeonatos Nacionais, o Troféu Joaquim Agostinho e a Volta a Portugal".
Por fim, abordou os casos de
doping que continuam a marcar o pelotão nacional, com o mais recente envolvendo
António Carvalho. Tiago reflete com preocupação: "Estas situações nunca
são boas de se ver, quer para as equipas, quer para os patrocinadores, tudo
isto não contribui em nada para o desenvolvimento das equipas de ciclismo e das
competições. Todos os anos surgem novos casos e isso faz com que o Ciclismo
português não tenha credibilidade, acaba por fechar muitas portas para os
jovens que querem dar o salto para equipas internacionais e mesmo para as
equipas portuguesas que pretendem correr em competições no estrangeiro".
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