Por: Miguel Marques
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
De acordo com informações
publicadas pelos colegas do Il Corriere, uma investigação em França colocou os
holofotes sobre uma substância com potencial uso médico que também despertou
interesse no universo do doping. Trata-se de uma hemoglobina alternativa
derivada do “lugworm”, conhecido como verme-da-areia, que pode atuar como um
potente transportador de oxigénio no organismo humano.
Este cenário levou a Agência
Mundial Antidopagem (WADA) a acompanhar de perto o caso devido às possíveis
implicações no doping. Não há, para já, ligação ao ciclismo ou a qualquer outra
modalidade, mas as autoridades estão preocupadas e, logicamente, a substância
está sob vigilância.
O projeto está a ser
desenvolvido na Hemarina, uma biofarmacêutica sediada em Morlaix, na costa da
Bretanha, França. A empresa foi fundada por investigadores universitários e
passou quinze anos a trabalhar quase exclusivamente na análise e adaptação da hemoglobina
deste organismo marinho, criado em grandes tanques. O objetivo declarado é
oferecer uma alternativa natural a certos tratamentos padrão, sobretudo em
patologias graves que exigem elevada oxigenação tecidular.
Segundo os estudos
disponíveis, uma vez adaptada ao sistema circulatório humano, esta hemoglobina
teria uma capacidade de transporte de oxigénio até quarenta vezes superior à
versão natural, sem efeitos secundários significativos. Isso torna-a um possível
substituto sanguíneo para transfusões, com a vantagem adicional de ser mais
eficaz e mais facilmente disponível do que sangue de dador. A Hemarina
patenteou seis produtos distintos baseados nesta tecnologia, todos sustentados
por vasta literatura científica.
O interesse desportivo na
substância ganhou relevo após uma entrevista concedida por Franck Zal, fundador
e CEO da Hemarina, ao diário francês L’Équipe. Revelou que, há três anos, um
ciclista muito conhecido de uma equipa World Tour solicitou um fornecimento do
produto. A principal razão seria a sua meia-vida muito curta, que permite a
rápida eliminação do organismo.
Segundo a própria empresa, não
foi um caso isolado. A Hemarina afirma ter informado de imediato a Oclaesp, a
unidade da polícia francesa especializada no combate ao doping e a ilícitos na
área da saúde. A Oclaesp confirmou a existência de uma investigação em curso,
embora não tenha divulgado o desfecho dos procedimentos iniciados há três anos.
Substância
sob vigilância
A Agência Mundial Antidopagem
afirma que a substância está sob vigilância e pode ser detetada diretamente em
testes, desde que a análise ocorra entre quatro e oito horas após a
administração. É uma janela temporal muito estreita, que dificulta a deteção em
contexto competitivo.
O seu uso também pode
refletir-se nos passaportes biológicos dos atletas. No entanto, não há casos
recentes de atletas de elite sancionados por anomalias longitudinais associadas
a esta substância. Alguns investigadores assinalam que estudos científicos indicam
que esta hemoglobina não alteraria o hematócrito, um dos parâmetros-chave
usados nos modelos de passaporte biológico. Isso alimenta o receio de que novas
práticas de doping estejam a evoluir mais depressa do que os sistemas
concebidos para as detetar.
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