Por: Miguel Marques
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
Afonso Eulálio é um dos poucos
portugueses que saltou do pelotão continental nacional para o World Tour, e o
seu primeiro ano no topo surpreendeu. O corredor da Bahrain - Victorious
integrou o leque de jovens contratações em quem a equipa apostou para crescer,
e foi talvez o caso mais bem-sucedido. Fala do seu Top 10 no Campeonato do
Mundo, do calendário de 2026 com regresso à Volta a Itália, e do que aprendeu
ao responder aos ataques de Tadej Pogacar.
Em dezembro de 2024, Eulálio
encontrou-se com o Ciclismo Atual e o CyclingUpToDate em Altea e era ainda um
rosto novo na equipa, a lutar com o inglês e num ambiente com muito mais staff
do que estava habituado. “Sim, acabou por ser um período de aprendizagem e este
ano será igual, vamos continuar a aprender, porque não se aprende tudo. Mas
sim, foi um ano com altos e baixos, um pouco irregular, acima de tudo vamos
tentar ser um pouco mais regulares e olhar para o calendário de forma diferente
e tentar fazer algo diferente”.
A época foi muito forte e o
potencial ficou à vista logo no Tour Down Under, quando deixou o cartão de
visita no World Tour ao atacar no Old Willunga Hill. Aos 24 anos, não se
resignou ao pelotão e teve pernas para mexer na corrida. Boas exibições valeram-lhe
a chamada para a Volta a Itália, onde Antonio Tiberi apontou ao pódio e Damiano
Caruso acabaria por fechar em quinto.
Explosão
na Volta a Itália
Eulálio apareceu em força na
última semana, a voar no Passo del Mortirolo na etapa 17. “Não pensei muito
nisso, estava na fuga, nem tinha a noção de que havia esse prémio de passar
primeiro na montanha porque normalmente contam só os pontos da montanha e
quando ataquei estava mais a pensar na etapa”. Com a luta pela geral a explodir
atrás, manteve-se na dianteira, mas não seria ainda o dia da vitória.
“A equipa acabou por estar um
pouco mais defensiva e tive de esperar pelo grupo. E pronto, foi essa a
situação de corrida”. Ainda assim, o trabalho para Caruso não passou
despercebido. A época não terminou no Giro e, mais tarde, continuou a crescer e
a mostrar-se com ainda mais brilho.
Na Volta a Burgos foi terceiro
na etapa inaugural e, depois, encarou um calendário misto no final do ano, com
algumas voltas e clássicas onde pôde render. Uma delas foi a Volta à
Grã-Bretanha, onde atacou na etapa rainha para The Tumble e terminou em quarto
no dia, com Remco Evenepoel a vencer. Eulálio foi sexto na geral.
“Sim, claro que houve pressão
este ano, mas a equipa manteve as coisas abertas e sem me pressionar; se ficava
para trás a 10 ou a 100 quilómetros da meta era quase o mesmo. Agora, depois de
fazer top 10 no worldtour, já não posso olhar assim. Já olho para o calendário
de outra forma. Quero fazer mais e melhorar”.
A seguir
Tadej Pogacar
No GP de Québec, teve o
primeiro teste a seguir o campeão do mundo, fruto da sua forma de correr. “É a
maneira como gosto de correr, muito agressivo. Às vezes não tenho a
oportunidade e outras vezes não tenho as pernas. Mas corri de forma muito
ofensiva nas subidas curtas do Canadá no [GP] Québec, onde também ataquei.
Depois em Itália, na Tre Valli [Varesine], também a correr agressivo. É a forma
como gosto de correr”.
Tanto em Québec como na Tre
Valli Varesine, cruzou-se com o esloveno. Mas tirou lições. “Sim, mas é sempre
um risco que sai caro. Saiu caro nesse dia. E também em Québec, já tinha estado
com ele e há coisas que acabam por sair mais caras depois. Acho que nas duas
corridas acabo por fazer 40º ou assim, porque é um esforço enorme”.
No Mont Kigali, onde Tadej
Pogacar desferiu o ataque decisivo rumo à segunda camisola arco-íris, estava no
olho do furacão. Mas não tentou seguir. “No Campeonato do Mundo acabei por nem
mexer um dedo, estava ao lado dele quando atacou, nem tentei responder nem
aumentar os watts. E foi aí que as coisas correram melhor. Arrisca-se demasiado
ao tentar seguir esse nível”.
Top 10 no
Campeonato do Mundo
Kigali pode ser descrito como
o verdadeiro salto. Uma corrida de 6:30 horas, 5000 metros de desnível e os
melhores do mundo a lutar pela camisola arco-íris. O nono lugar de Eulálio
ficou entre Juan Ayuso e Tom Pidcock, e o seu nome destacou-se como poucos
nesse Top 10.
“Gosto de corridas muito duras
e esta é uma delas, as coisas acabaram por correr assim. Estava no grupo, nem
pensava em chegar ao top 10, desde o início da corrida foi fluindo. Estava a
desfrutar e a tentar dar o meu melhor”.
É um resultado promissor e o
português pode prosperar em corridas explosivas, pelo que já mostrou. Mas a
prioridade continua a ser a montanha: “E como disseste, em subidas curtas. É
algo que temos de trabalhar este ano: deixar a minha explosividade de lado, já
que é tão boa, não a trabalhar tanto e pensar em subidas longas. Tentar
trabalhar e ver até onde posso ir. Espero ainda ter muito pela frente”.
Em 2026, Eulálio terá
oportunidades para se mostrar, tanto como potencial líder como gregário para os
muitos trepadores de qualidade da Bahrain - Victorious. “Sim, estamos a olhar
para algumas corridas. Temos planos para o futuro, claro, mas agora não é sobre
liderar. Este ano olhamos para as coisas de forma melhor e eu quero mais, mas
também haverá mais pressão da minha parte”.
“Está tudo definido. Vou
começar em AlUla [Tour], depois UAE [Tour]; depois faço o que gosto, que é
Strade [Bianche], [Volta a] Catalunha… Depois Liège [Bastogne-Liège] e Volta a
Itália".
Pode visualizar este artigo
em: https://ciclismoatual.com/ciclismo/entrevista-estava-ao-lado-dele-quando-atacou-nem-tentei-responder-afonso-eulalio-sobre-o-ano-de-afirmacao-e-a-licao-de-nao-seguir-tadej-pogacar