Por: Miguel Marques
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
Javier Ares, comentador de
ciclismo da Eurosport, falou no seu canal de YouTube sobre o percurso da Volta
a Espanha 2026. O veterano jornalista analisou em detalhe os perfis de uma
corrida que voltará a arrancar no estrangeiro e terminará com uma longa sequência
de etapas na Andaluzia, culminando num final espetacular na Alhambra.
Arranque
no Mónaco
“A Vuelta começa no Mónaco, o
que já não surpreende porque a corrida habituou-se a arrancar fora. Utrecht,
Lisboa e agora o Mónaco fazem parte dessa expansão internacional e, enquanto
houver interesse e suporte financeiro, não vejo problema. A Vuelta visitará
quatro países: Mónaco, Andorra, França e Espanha, reforçando essa imagem
internacional”.
Um
percurso inédito com perfil mediterrânico
“O percurso é dos mais
peculiares da história da Vuelta. Tem um perfil claramente mediterrânico,
acompanhando grande parte do litoral e do interior próximo, e abandona zonas
habitualmente muito presentes. Será uma Vuelta enorme, com muito poucos dias
irrelevantes para a geral, mas com a paradoxo de não passar pelas grandes
cordilheiras clássicas, sobretudo nas Astúrias”.
Ausência
das Astúrias e presença prolongada na Andaluzia
Chama a atenção que, apesar de
ser uma Vuelta muito exigente e com enorme concentração de etapas de montanha,
não estão incluídas subidas icónicas como o Angliru ou Lagos de Covadonga. As
Astúrias, presentes todos os anos desde 2009, ficarão ausentes. Em contraste, a
Andaluzia terá um papel muito destacado, com dez etapas, entrando a meio da
corrida e permanecendo até ao fim. Ares considera que a orografia montanhosa na
Andaluzia reduzirá preocupações com o calor, embora o vento possa ser um factor
decisivo.
Avaliação
global do percurso
Considera ser um traçado que
encaixa no ciclismo moderno: muitos finais em subida, grande variedade de
etapas, 41 quilómetros de contra-relógio, etapas planas, armadilhas e dias
perigosos. Acredita haver atrativos suficientes para manter o interesse, ficando
a faltar a confirmação da startlist final.
Apresentação
oficial e contexto do final em Granada
Na apresentação oficial
estiveram figuras como o Príncipe Alberto, Froome, Sagan e Geraint Thomas, ao
lado de nomes de referência do ciclismo espanhol. Explica que o final na
Andaluzia se deve ao facto de a corrida ter sido inicialmente planeada para terminar
nas Canárias, mas o Cabildo de Gran Canaria afastou essa opção após problemas
no ano anterior. Depois disso, Granada foi escolhida, embora a organização
prefira, em geral, terminar em Madrid. Recorda que já houve finais fora da
capital, como em Santiago.
Final em
Granada e chegada à Alhambra
A Vuelta terminará em Granada
com aquilo que descreve como um final apoteótico: chegada na Alhambra, quatro
voltas a um circuito urbano e cinco ascensões a uma rampa final de um
quilómetro pelas ruas da cidade, numa zona com forte afición ao ciclismo.
Início da
corrida: primeiras etapas-chave
A corrida arranca no Mónaco
com um contra-relógio de 9 quilómetros que já criará diferenças. A segunda
etapa, com final em Manosque, não parece decisiva em teoria, mas Ares sublinha
o seu valor histórico pela vitória aí de José Luis Viejo no Tour. A terceira
etapa termina em Font-Romeu, primeiro dia de montanha antes da entrada em
Andorra.
Etapa de
Andorra: curta, mas decisiva
A etapa em Andorra não termina
numa grande chegada em alto, mas Ares destaca-a como uma das mais bonitas da
Vuelta: apenas 104 quilómetros, com Envalira, Beixalis, Ordino e La Comella
antes de Andorra la Vella. Com diferenças ainda curtas, pode começar a
estabelecer hierarquias e obrigar os líderes a assumir responsabilidades muito
cedo.
Bloco
mediterrânico e primeiros grandes finais em alto
A sexta etapa termina em
Castellón com o Bartolo, incluindo três quilómetros de sterrato bem antes da
meta. A sétima acaba em Valdelinares, a localidade mais alta de Espanha, com um
final em subida exigente. A nona termina em Aitana, com cerca de 5000 metros de
desnível acumulado, tornando-a um dia-chave e muito duro.
Sierra
Nevada e Granada a fechar uma Vuelta muito andaluza
Andaluzia:
Calar Alto, La Pandera e o contra-relógio
A etapa doze termina em Calar
Alto, acima dos 2100 metros, após subir Velefique com 31 quilómetros ainda por
cumprir. No segundo fim de semana sobe-se La Pandera, com 4300 metros de
desnível acumulado. A etapa 18 é um contrarrelógio de 32 quilómetros entre o
porto e Jerez de la Frontera, um traçado longo com precedentes históricos
relevantes.
Etapas
finais decisivas: Peñas Blancas e Sierra de Güéjar
Após o contra-relógio chega
Peñas Blancas, evocando a vitória de Carapaz. Segue-se a etapa rainha, com o
Collado del Alguacil, rampas até 21 por cento, subida até aos 1800 metros e
ligação com Zayas e El Purche. Será o grande dia de montanha antes do final em
Granada.
Desnível
total e estrutura do percurso
A Vuelta supera os 58 000
metros de desnível acumulado. Há poucas oportunidades para sprinters e um claro
desequilíbrio a favor dos trepadores. Ares destaca que não há muitas etapas
extremas encadeadas, exceto no final, o que considera positivo porque incentiva
corrida mais ofensiva e evita excesso de cautela.
Importância
da táctica e da atitude em corrida
Insiste que, mais do que o
percurso, serão os corredores, os diretores e as estratégias a definir como a
corrida se desenrola. Recorda que muitas etapas aparentemente banais produzem
grandes batalhas, enquanto outras muito aguardadas por vezes rendem pouco.
Participação:
incógnitas e nomes confirmados
A participação é o outro
ponto-chave. Roglic estará presente e procurará uma quinta Vuelta, que seria um
recorde histórico, embora já não seja intocável. A presença de Pogacar é
improvável, mas não impossível, e dependerá em grande medida de como terminar o
Tour. Vingegaard é considerado muito improvável.
Outros
candidatos e presença espanhola
Almeida liderará a UAE na
Vuelta. Enric Mas tem a corrida como principal objetivo. Outras opções
referidas incluem Carlos Rodriguez, Mikel Landa, Juan Ayuso, Bernal e Carapaz.
Ayuso surge como incógnita, enquanto Del Toro não estará presente, pois correrá
a Volta a França.
Um
cenário aberto com muitas incógnitas
Sem Pogacar ou Vingegaard, a
corrida parece mais aberta. O cenário é muito atrativo, mas, com nove meses
ainda por decorrer, quase tudo permanece no campo da especulação, exceto o
percurso, que já é conhecido. As expectativas dependerão de como evoluir a
temporada.
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