Por: Carlos Silva
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
O antigo patrão da
TotalEnergies, Jean-René Bernaudeau, lançou um aviso sério ao ciclismo moderno:
a pressa em encontrar novos prodígios pode estar a eliminar uma geração inteira
de ciclistas que necessitam de mais tempo para atingir o seu auge. Numa entrevista
ponderada ao Cyclism'Actu, o francês defendeu que o ciclismo deve voltar a
valorizar o desenvolvimento gradual, apontando o exemplo de Jordan Jegat como
prova de que a paciência ainda compensa.
“Não
podemos considerar um ciclista acabado aos 22 anos”
Bernaudeau lamenta o ritmo
acelerado com que o ciclismo moderno consome o talento. “O ciclismo está sempre
à procura de ‘jóias raras’, mas as pessoas têm de compreender que campeões como
Paul Seixas são exceções”, afirmou. “Não podemos considerar que um ciclista
está acabado aos 22 anos. Hoje em dia, há cerca de quinze ex-profissionais em
França com essa idade e isso é trágico.”
O caso de Jordan Jegat, que
terminou entre os dez primeiros da Volta a França de 2025, ilustra bem a sua
tese. Para uma equipa de orçamento limitado, aquele resultado foi um feito
notável e, para Bernaudeau, uma validação do modelo de “duplo projeto” que
defende desde 1991, incentivando os jovens a conciliarem os estudos com o
ciclismo.
“O Jordan representa a
esperança para aqueles que foram postos de lado”, explicou. “O enduro atinge a
maturidade mais tarde, por volta dos 25 ou 30 anos. Não podemos simplesmente
deixar de lado aqueles que crescem mais devagar.”
A
pirâmide amadora em risco de colapso
Para além do caso individual
de Jegat, Bernaudeau deixou um alerta estrutural sobre o estado do ciclismo
francês. Na sua opinião, a base que sustentou a modalidade durante décadas está
em declínio acelerado.
“A pirâmide do ciclismo amador
corre o risco de se desmoronar”, advertiu. “Sem clubes, não há campeões. Na
Vendeia, temos sorte. Há bases sólidas, voluntários e uma verdadeira cultura do
ciclismo. Isso é muito precioso.”
O francês teme que a
profissionalização desenfreada do World Tour, associada ao aumento dos custos
operacionais, esteja a destruir o ecossistema que permitia o crescimento dos
jovens. As equipas menores e os clubes lutam para sobreviver, enquanto o topo da
pirâmide se torna cada vez mais inacessível.
Apesar das dificuldades,
Bernaudeau reafirma que o ADN da sua estrutura assenta em valores colectivos.
“Nunca apostamos tudo num só homem”, sublinhou. “Os nossos capitães, aqueles
que não recebem a glória nem o dinheiro, são os nossos pilares.”
Essa filosofia, acrescenta,
explica a longevidade e coesão da equipa, que continua a formar ciclistas
consistentes e resilientes, mesmo sem os recursos das grandes estruturas do
World Tour.
O futuro
depois da TotalEnergies
Com o patrocínio da
TotalEnergies a terminar em 2026, o dirigente confirmou que as negociações para
garantir a continuidade da equipa já estão em andamento. “As negociações são
feitas em silêncio”, disse. “Quando houver algo para anunciar, eu anuncio. Mas
sim, o projeto vai continuar.”
Para já, Bernaudeau prefere
focar-se na próxima etapa de desenvolvimento da equipa. A ascensão de Jegat, a
regularidade de Emilien Jeanniere e o espírito de grupo dão-lhe motivos para
estar optimista.
“Quando se ganha, não se dão
lições aos outros. E quando se fica em segundo lugar, mantém-se a esperança
viva. Se no próximo ano tivermos honrado as pessoas que tornam as vitórias
possíveis, a temporada já terá sido um sucesso”, concluiu.
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