quarta-feira, 12 de novembro de 2025

"O ciclismo moderno está a matar o talento que precisa de tempo para crescer" O patrão da TotalEnergies faz um apelo à uma mudança de atitude”


Por: Carlos Silva

Em parceria com: https://ciclismoatual.com

O antigo patrão da TotalEnergies, Jean-René Bernaudeau, lançou um aviso sério ao ciclismo moderno: a pressa em encontrar novos prodígios pode estar a eliminar uma geração inteira de ciclistas que necessitam de mais tempo para atingir o seu auge. Numa entrevista ponderada ao Cyclism'Actu, o francês defendeu que o ciclismo deve voltar a valorizar o desenvolvimento gradual, apontando o exemplo de Jordan Jegat como prova de que a paciência ainda compensa.

 

“Não podemos considerar um ciclista acabado aos 22 anos”

 

Bernaudeau lamenta o ritmo acelerado com que o ciclismo moderno consome o talento. “O ciclismo está sempre à procura de ‘jóias raras’, mas as pessoas têm de compreender que campeões como Paul Seixas são exceções”, afirmou. “Não podemos considerar que um ciclista está acabado aos 22 anos. Hoje em dia, há cerca de quinze ex-profissionais em França com essa idade e isso é trágico.”

O caso de Jordan Jegat, que terminou entre os dez primeiros da Volta a França de 2025, ilustra bem a sua tese. Para uma equipa de orçamento limitado, aquele resultado foi um feito notável e, para Bernaudeau, uma validação do modelo de “duplo projeto” que defende desde 1991, incentivando os jovens a conciliarem os estudos com o ciclismo.

“O Jordan representa a esperança para aqueles que foram postos de lado”, explicou. “O enduro atinge a maturidade mais tarde, por volta dos 25 ou 30 anos. Não podemos simplesmente deixar de lado aqueles que crescem mais devagar.”

 

A pirâmide amadora em risco de colapso

 

Para além do caso individual de Jegat, Bernaudeau deixou um alerta estrutural sobre o estado do ciclismo francês. Na sua opinião, a base que sustentou a modalidade durante décadas está em declínio acelerado.

“A pirâmide do ciclismo amador corre o risco de se desmoronar”, advertiu. “Sem clubes, não há campeões. Na Vendeia, temos sorte. Há bases sólidas, voluntários e uma verdadeira cultura do ciclismo. Isso é muito precioso.”

O francês teme que a profissionalização desenfreada do World Tour, associada ao aumento dos custos operacionais, esteja a destruir o ecossistema que permitia o crescimento dos jovens. As equipas menores e os clubes lutam para sobreviver, enquanto o topo da pirâmide se torna cada vez mais inacessível.

Apesar das dificuldades, Bernaudeau reafirma que o ADN da sua estrutura assenta em valores colectivos. “Nunca apostamos tudo num só homem”, sublinhou. “Os nossos capitães, aqueles que não recebem a glória nem o dinheiro, são os nossos pilares.”

Essa filosofia, acrescenta, explica a longevidade e coesão da equipa, que continua a formar ciclistas consistentes e resilientes, mesmo sem os recursos das grandes estruturas do World Tour.

 

O futuro depois da TotalEnergies

 

Com o patrocínio da TotalEnergies a terminar em 2026, o dirigente confirmou que as negociações para garantir a continuidade da equipa já estão em andamento. “As negociações são feitas em silêncio”, disse. “Quando houver algo para anunciar, eu anuncio. Mas sim, o projeto vai continuar.”

Para já, Bernaudeau prefere focar-se na próxima etapa de desenvolvimento da equipa. A ascensão de Jegat, a regularidade de Emilien Jeanniere e o espírito de grupo dão-lhe motivos para estar optimista.

“Quando se ganha, não se dão lições aos outros. E quando se fica em segundo lugar, mantém-se a esperança viva. Se no próximo ano tivermos honrado as pessoas que tornam as vitórias possíveis, a temporada já terá sido um sucesso”, concluiu.

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