Por: Miguel Marques
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
O ciclismo é um desporto
extremamente exigente, dos mais duros do mundo. No pelotão feminino não há
exceções. Há muitas atletas que sofrem demasiado para competir ao mais alto
nível, época após época, como Veronica Ewers. A ciclista da EF Education-Oatly,
de 31 anos, decidiu afastar-se temporariamente da competição por esse motivo.
Ewers revelou recentemente que
análises sanguíneas confirmaram que os seus níveis hormonais estavam “ainda
praticamente inexistentes”, apesar dos esforços de recuperação. A partir daí,
percebeu que não podia continuar a tentar treinar e competir enquanto o corpo
mal respondia.
A própria ciclista foi direta:
“Não tenho menstruação desde 2014. Os meus ossos estão fracos. A minha função
gastrointestinal é uma porcaria”. Estas conclusões, somadas aos efeitos
persistentes do seu distúrbio alimentar, deixaram-na no limite.
A norte-americana já tinha
passado grande parte de 2024 a tentar melhorar a saúde, e regressou ao pelotão
em 2025 com a ambição de conciliar competição e recuperação. Mas depressa
percebeu que era uma combinação impossível.
Sem competir na segunda metade
de 2024 e longe das melhores em 2025, não era assim que Ewers imaginava a sua
carreira profissional. Sobretudo depois de ter sido 4ª na geral na Volta a
Itália Feminina há apenas dois anos. Por isso, não estava disposta a aceitar
resultados destes à custa de complicações graves de saúde.
“Tentar render, o que
fisicamente não consigo até as minhas hormonas recuperarem (estabilizarem),
enquanto tento recuperar, o que não consigo enquanto continuar a tentar render
ao mais alto nível, era como bater com a cabeça na parede”, escreveu.
Teve de escolher e optou pela
recuperação total. “Não vou competir nem treinar em 2026”, anunciou.
Uma
década de sequelas
Ewers relatou de forma crua no
Substack como o distúrbio alimentar, que começou com ansiedade na infância e
piorou na universidade, evoluiu para comportamentos restritivos e depois
bulímicos que marcaram os seus 20 anos.
Dessa fase carrega uma longa
lista de consequências: dez anos sem menstruar, fragilidade óssea, problemas
digestivos constantes e um episódio de quase falência renal em 2023 após
desidratação num treino.
O ciclismo, que inicialmente
lhe trouxe estabilidade, acabou também por ser um ambiente onde hábitos nocivos
regressaram. “A competição não acabava na corrida de ciclismo”, escreveu.
“Continuava na cozinha e à mesa”. Esse “demónio”, como o define, reapareceu
sobretudo em momentos de lesão e solidão.
Com apoio de especialistas,
Ewers trabalha agora para recuperar peso e estabilizar as hormonas. Sabe que
afastar-se do desporto implica também reconstruir a identidade. “Não sei quem
sou quando não sou atleta”, admite, garantindo, contudo, que não deixará o
distúrbio voltar a dominar a sua vida.
A sua intenção, porém, não é
dizer adeus para sempre: “O meu objetivo é regressar um dia e mostrar ao mundo
do que sou capaz com um corpo funcional. O meu corpo precisa de um reinício
completo antes de eu poder estar no meu melhor. Estou farta de ser mediana”,
concluiu.
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