quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

“A época de Vasco Vilaça: tudo o que é intenso não lhe é estranho”


A época de Vasco Vilaça foi marcada por uma intensidade quase palpável, não só pelas competições sucessivas ou pela exigência física, mas pelo peso invisível das expectativas: as dele próprio, as de quem gosta dele, e as que foram surgindo à medida que os números ficavam claros no ranking mundial. Durante meses, viveu entre o foco absoluto e um nervoso miudinho que o acompanhava antes de cada prova, como se “Lose Yourself”, do Eminem, estivesse sempre a tocar algures no fundo da cabeça.

Apesar de tudo, houve momentos que trouxeram leveza. A semana em Yokohama, por exemplo, foi como um espaço de descontração num ano que só viria a tornar-se mais sério. As expectativas eram baixas, o ambiente descontraído, e o Vasco permitiu-se brincar e rir, quase como se estivesse a começar do zero. Mas esse estado de espírito não durou muito: a partir daí, a luta pelo pódio mundial tomou conta de tudo. E tudo é mesmo quase tudo.

Para a história fica um 2025 repleto de resultados fantásticos, mas nem tudo foram sorrisos, A queda em Abu Dhabi, nas estafetas mistas, ficou-lhe atravessada, não apenas por si, mas pelos colegas. A prova estava a correr tão bem, e sentir que a equipa não teve o desfecho que merecia pesou-lhe mais que qualquer falha individual. E houve ainda dias como Alghero, onde sprintou para o último lugar, algo inédito. Ainda assim, recusa falar sobre merecer ou não merecer:

 

“Houve muitas provas em que queria mais, mas merecer? Não. O que merecia era trabalhar mais para a próxima”

 

Mas também houve momentos que o marcaram pela positiva. Em Fréjus, ao perceber que tinha subido a segundo do ranking mundial, Vasco viu confirmar-se algo que até então parecia demasiado frágil para acreditar: estava mesmo a correr bem. Aquele instante deu-lhe a validação de que precisava para continuar, mesmo quando a época se tornava cada vez mais densa.

No fundo, o maior ensinamento que tirou deste ano foi sobre si próprio: “Aprendi que sou resiliente, que consigo manter foco e consistência numa temporada longa, com várias provas e muita pressão. Que consigo responder quando conta mais, mesmo com desgaste físico e mental”. No fundo, percebeu que consegue não por ser fácil, mas precisamente porque não é.

As emoções culminaram na Austrália. O pódio daquele dia carregava mais do que um resultado: tinha os pais na plateia, a equipa da federação a gritar por ele, o Ricky e o Pituca que o tinham ajudado decisivamente, e um mar ensurdecedor de adeptos, a maioria a torcer pelo Hauser. Foi ali, no meio desse turbilhão, que esteve mais perto de chorar — de alívio, de orgulho, de exaustão, de felicidade. E com ele, nós, todos nós, os amantes do desporto, os fãs do triatlo, os que nunca duvidaram de que Portugal voltaria a escrever o seu nome nas mais belas páginas da modalidade.

Fora das competições, Vasco manteve os seus rituais simples: a primeira mensagem depois de cada prova seguia sempre para o grupo “Família Vilaça”, uma tradição inabalável, assim como responder aos tik toks da Gemma. O snack de eleição continuou a ser o mesmo de sempre, Red Bull e arroz com ketchup; e, com o seu humor habitual, admite que “trocaria de corpo com o Pituca só para perceber como é dormir abraçado ao Ricky”.

Mas o que nunca lhe saiu do coração foram as pessoas. A relação diária com o Pituca e com o Ricardo, incondicional nos bons e maus dias. Na hora do balanço, aproveita para fazer um agradecimento:  “Ao Bruno Salvador, ao Bruno Pais e ao nosso presidente, Fernando Feijão. Acreditaram em mim durante toda a época e apoiaram todas as minhas decisões e pequenos caprichos, para sonharmos juntos até à finalíssima na Austrália. Conseguimos usar os recursos disponíveis da forma mais benéfica, nas provas e nos estágios. Foi incrível. Obrigado!”

No fim, esta época foi mais do que um conjunto de provas: foi uma viagem emocional que o pôs à prova, levantou, derrubou e reconstruiu. Uma época intensa, imperfeita e profundamente humana, exatamente o tipo de época que faz um atleta crescer. E Vasco Vilaça sai dela com uma certeza tranquila: o melhor ainda está para vir.

 

Texto elaborado com base num questionário com as seguintes perguntas:

 

1 Como descreves esta época numa palavra?

2. Qual foi o momento em que pensaste: “Ok, isto está mesmo a correr bem”?

3. E o momento em que só te apetecia largar tudo e ir comer um pastel de nata?

4. Há alguma prova que tenha ficado atravessada, aquela que ainda hoje pensas “eu merecia mais ali”?

5.O que é que mais aprendeste sobre ti nesta época?

6. Quem foi o primeiro a receber uma mensagem depois da melhor prova da época?

7. Se a tua época tivesse uma banda sonora, que música seria?

8. Qual foi o momento mais divertido da época, dentro ou fora da competição?

9. E aquele momento em que quase choraste (de raiva, cansaço ou alegria)?

10. Qual foi o snack mais bizarro que comeste, este ano, antes ou depois de competir?

11. Se pudesses trocar de corpo com outro triatleta por um dia, quem escolhias e porquê?

12. Há alguma pessoa ou gesto que te tenha tocado particularmente durante a época?

Fonte: Federação Triatlo Portugal

Sem comentários:

Enviar um comentário

Ficha Técnica

  • Titulo: Revista Notícias do Pedal
  • Diretor: José Manuel Cunha Morais
  • Subdiretor: Helena Ricardo Morais
  • Periodicidade: Diária
  • Registado: Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº: 125457
  • Proprietário e Editor: José Manuel Cunha Morais
  • Morada: Rua do Meirinha, 6 Mogos, 2625-608 Vialonga
  • Redacção: José Morais
  • Fotografia e Vídeo: José Morais, Helena Morais
  • Assistência direção, área informática: Hugo Morais
  • Sede de Redacção: Rua do Meirinha, 6 Mogos, 2625-608 Vialonga
  • Contactos: Telefone / Fax: 219525458 - Email: josemanuelmorais@sapo.pt noticiasdopedal@gmail.com - geral.revistanoticiasdopedal.com