A época de Vasco Vilaça foi marcada por uma intensidade quase palpável, não só pelas competições sucessivas ou pela exigência física, mas pelo peso invisível das expectativas: as dele próprio, as de quem gosta dele, e as que foram surgindo à medida que os números ficavam claros no ranking mundial. Durante meses, viveu entre o foco absoluto e um nervoso miudinho que o acompanhava antes de cada prova, como se “Lose Yourself”, do Eminem, estivesse sempre a tocar algures no fundo da cabeça.
Apesar de tudo, houve momentos
que trouxeram leveza. A semana em Yokohama, por exemplo, foi como um espaço de
descontração num ano que só viria a tornar-se mais sério. As expectativas eram
baixas, o ambiente descontraído, e o Vasco permitiu-se brincar e rir, quase
como se estivesse a começar do zero. Mas esse estado de espírito não durou
muito: a partir daí, a luta pelo pódio mundial tomou conta de tudo. E tudo é
mesmo quase tudo.
Para a história fica um 2025
repleto de resultados fantásticos, mas nem tudo foram sorrisos, A queda em Abu
Dhabi, nas estafetas mistas, ficou-lhe atravessada, não apenas por si, mas
pelos colegas. A prova estava a correr tão bem, e sentir que a equipa não teve
o desfecho que merecia pesou-lhe mais que qualquer falha individual. E houve
ainda dias como Alghero, onde sprintou para o último lugar, algo inédito. Ainda
assim, recusa falar sobre merecer ou não merecer:
“Houve muitas provas em que
queria mais, mas merecer? Não. O que merecia era trabalhar mais para a próxima”
Mas também houve momentos que
o marcaram pela positiva. Em Fréjus, ao perceber que tinha subido a segundo do
ranking mundial, Vasco viu confirmar-se algo que até então parecia demasiado
frágil para acreditar: estava mesmo a correr bem. Aquele instante deu-lhe a
validação de que precisava para continuar, mesmo quando a época se tornava cada
vez mais densa.
No fundo, o maior ensinamento
que tirou deste ano foi sobre si próprio: “Aprendi que sou resiliente, que
consigo manter foco e consistência numa temporada longa, com várias provas e
muita pressão. Que consigo responder quando conta mais, mesmo com desgaste
físico e mental”. No fundo, percebeu que consegue não por ser fácil, mas
precisamente porque não é.
As emoções culminaram na
Austrália. O pódio daquele dia carregava mais do que um resultado: tinha os
pais na plateia, a equipa da federação a gritar por ele, o Ricky e o Pituca que
o tinham ajudado decisivamente, e um mar ensurdecedor de adeptos, a maioria a
torcer pelo Hauser. Foi ali, no meio desse turbilhão, que esteve mais perto de
chorar — de alívio, de orgulho, de exaustão, de felicidade. E com ele, nós,
todos nós, os amantes do desporto, os fãs do triatlo, os que nunca duvidaram de
que Portugal voltaria a escrever o seu nome nas mais belas páginas da
modalidade.
Fora das competições, Vasco
manteve os seus rituais simples: a primeira mensagem depois de cada prova
seguia sempre para o grupo “Família Vilaça”, uma tradição inabalável, assim
como responder aos tik toks da Gemma. O snack de eleição continuou a ser o mesmo
de sempre, Red Bull e arroz com ketchup; e, com o seu humor habitual, admite
que “trocaria de corpo com o Pituca só para perceber como é dormir abraçado ao
Ricky”.
Mas o que nunca lhe saiu do
coração foram as pessoas. A relação diária com o Pituca e com o Ricardo,
incondicional nos bons e maus dias. Na hora do balanço, aproveita para fazer um
agradecimento: “Ao Bruno Salvador, ao
Bruno Pais e ao nosso presidente, Fernando Feijão. Acreditaram em mim durante
toda a época e apoiaram todas as minhas decisões e pequenos caprichos, para
sonharmos juntos até à finalíssima na Austrália. Conseguimos usar os recursos
disponíveis da forma mais benéfica, nas provas e nos estágios. Foi incrível.
Obrigado!”
No fim, esta época foi mais do
que um conjunto de provas: foi uma viagem emocional que o pôs à prova,
levantou, derrubou e reconstruiu. Uma época intensa, imperfeita e profundamente
humana, exatamente o tipo de época que faz um atleta crescer. E Vasco Vilaça
sai dela com uma certeza tranquila: o melhor ainda está para vir.
Texto
elaborado com base num questionário com as seguintes perguntas:
1 Como descreves esta época
numa palavra?
2. Qual foi o momento em que
pensaste: “Ok, isto está mesmo a correr bem”?
3. E o momento em que só te
apetecia largar tudo e ir comer um pastel de nata?
4. Há alguma prova que tenha
ficado atravessada, aquela que ainda hoje pensas “eu merecia mais ali”?
5.O que é que mais aprendeste
sobre ti nesta época?
6. Quem foi o primeiro a
receber uma mensagem depois da melhor prova da época?
7. Se a tua época tivesse uma
banda sonora, que música seria?
8. Qual foi o momento mais
divertido da época, dentro ou fora da competição?
9. E aquele momento em que
quase choraste (de raiva, cansaço ou alegria)?
10. Qual foi o snack mais
bizarro que comeste, este ano, antes ou depois de competir?
11. Se pudesses trocar de
corpo com outro triatleta por um dia, quem escolhias e porquê?
12. Há alguma pessoa ou gesto
que te tenha tocado particularmente durante a época?
Fonte: Federação Triatlo
Portugal

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