Por: Carlos Silva
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
No início desta semana, George
Hincapie anunciou a criação da Modern Adventure Pro Cycling, uma nova equipa de
ciclismo profissional com o objectivo de promover o crescimento da modalidade
nos Estados Unidos e além-fronteiras. A notícia, inicialmente recebida com
entusiasmo, rapidamente gerou polémica ao ser revelado que o The Move, um
podcast co-produzido por Hincapie e Lance Armstrong, será um dos patrocinadores
da equipa.
Embora Armstrong esteja banido
para sempre do desporto sob os regulamentos da Agência Antidopagem dos Estados
Unidos (USADA), um porta-voz da entidade confirmou à Cycling Weekly que o novo
projeto "está fora da jurisdição da UCI e de qualquer signatário do Código
da AMA", o que torna a parceria legalmente viável. Ainda assim, o
envolvimento mesmo que indireto de Armstrong fez reacender os alarmes em
relação à percepção pública e à integridade da nova estrutura.
Hincapie abordou directamente
o tema numa declaração ao Escape Collective: “Sou co-proprietário do podcast
juntamente com o Lance. Vi nisto uma oportunidade para promover a equipa
através desses canais e angariar mais apoio, sobretudo durante o Tour, quando
temos grande audiência. Não há qualquer outra afiliação para além dessa.”
O antigo gregário de Armstrong confirmou também que o processo de registo da equipa junto da UCI está em andamento e que todos os acordos de patrocínio estão a ser avaliados como parte dessa candidatura. “Temos sido totalmente transparentes quanto à estrutura e estamos a trabalhar com a nossa equipa jurídica para assegurar que tudo cumpre os requisitos. Estamos muito entusiasmados com o que estamos a construir e com a energia positiva que sentimos para apoiar o ciclismo nos EUA e além-fronteiras.”
Contudo, o espectro do passado
de Armstrong continua a pairar no ar. A associação do seu nome, mesmo que
apenas através de um podcast como o The Move, levanta dúvidas quanto à
oportunidade de permitir que figuras tão intimamente ligadas ao escândalo de doping
mais devastador da história da modalidade voltem a ter protagonismo.
O ciclismo tem feito um
esforço substancial, ao longo dos últimos 15 anos, para restaurar a sua
reputação e implementar uma cultura de transparência e responsabilidade. Muitos
dos actuais ciclistas profissionais construíram as suas carreiras neste novo paradigma
ético e não escondem o desejo de se afastar das figuras que personificaram a
era da EPO.
Embora The Move mantenha uma
audiência significativa, sobretudo durante as Grandes Voltas, o envolvimento de
Armstrong poderá representar um fardo indesejado para jovens ciclistas
americanos que ambicionem crescer dentro da nova estrutura. Mesmo que a UCI
valide o registo da equipa e todos os patrocínios, a ligação à figura de
Armstrong poderá dificultar futuras parcerias comerciais ou convites para
corridas de maior renome.
O projeto Modern Adventure Pro
Cycling está assim, numa zona cinzenta. Do ponto de vista regulamentar não há
nada de impeditivo para que o projecto possa seguir em frente. No plano ético e
reputacional, porém, o caminho será bem mais sinuoso.
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