Por: Carlos Silva
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
A China tem cerca de 1,4 mil
milhões de habitantes, 700 vezes mais do que, por exemplo, a Eslovénia. Ainda
assim, haverá oito eslovenos e apenas um ciclista chinês no World Tour em 2025.
Estatisticamente, deveria haver alguns chineses com nível para correr uma
Grande Volta, mas… A última vez que um corredor chinês alinhou numa foi há mais
de uma década e, nesse aspeto, o futuro não é risonho.
Não é estranho a China não ter
uma única estrela do ciclismo de estrada? O Domestique esteve à conversa com
manager da equipa China Anta - Mentech, Lionel Marie, que, após quatro
temporadas na formação continental chinesa, rumará à UAE Team ADQ em 2026.
“Claro que há algures por aí
um tipo com força para estar no Tour. Não sabemos é aonde”, sorriu Marie.
“Temos de os encontrar e esse é o problema. Onde é que eles estão? Vá lá,
rapazes, venham ter connosco…”
Um dos principais obstáculos
do ciclismo de estrada na China, além da concorrência de tantas outras
modalidades, é a falta de uma estrutura competitiva de base e um modelo de
desenvolvimento local, totalmente controlado pelas províncias. “Se um dia a federação
tiver o apoio do governo para o fazer, então tudo é possível”, disse Marie. “O
potencial é grande.”
Três
passos atrás por causa dos National Games
A equipa de Marie está sediada
na Turquia desde a sua criação, em 2022, trazendo talentos para competir em
provas menores na Europa.
Em 2025, porém, o duo mais
promissor – o trepador Xianjing Lyu e o sprinter Binyan Ma, ambos com vitórias
na Turquia no palmarés – nem sequer saiu da Ásia. Deixaram de competir? Não.
Mas as suas federações provinciais (Yunnan e Guangdong, respetivamente)
quiseram tê-los totalmente focados nos National Games, evento quadrienal muitas
vezes apelidado de “Jogos Olímpicos chineses”. O Lyu vai competir em BTT, que é
a disciplina mais popular na China. O Ma foi 4.º e ambos deverão ter liberdade
para regressar à Europa em 2026…
“Os National Games são no ano
a seguir aos Jogos Olímpicos de nenhuma forma me foi possível trazer todos os
bons corredores, porque as províncias lutam entre si toda a época”, explica
Marie. “Isso significa que não deixam os rapazes vir connosco, e essa foi uma
frustração este ano.”
“Essa mentalidade continua. O
objetivo principal são os Jogos Olímpicos e depois os National Games. Para os
Mundiais no Ruanda, a meta era obter um bom resultado no contrarrelógio misto,
mas tive de colocar um corredor que se tinha retirado há dois anos. Teve de
recomeçar a treinar em junho, quando o chamaram durante os campeonatos
nacionais. Foi um desafio, mas tentámos fazer o melhor com o que tínhamos.”
Quatro
anos bem-sucedidos
Mesmo assim, Marie pode
orgulhar-se de algumas conquistas da equipa no seu período à frente da China
Anta. Desde logo, Lyu tornou-se no primeiro chinês a concluir a prova de
estrada dos Jogos Olímpicos, no ano passado em Paris, antes de vencer os
campeonatos asiáticos na Tailândia, no início desta época.
“No ano passado queríamos
chegar aos Jogos, e este ano o nosso objetivo principal era ser campeão
asiático, por isso ficámos bastante satisfeitos”, disse Marie, embora reconheça
que um só corredor, agora com 27 anos, foi responsavel por fazer todo a calendário.
“Agora está a começar a ficar mais velho, mas o Xianjing Lyu é o melhor
ciclista chinês do momento”
A esperança passa por
descobrir mais corredores com talento numa fase mais precoce e colocá-los a
competir internacionalmente mais cedo. A seleção chinesa apresentou em Guangxi
seis corredores com menos de 25 anos, incluindo o trepador Rongqi Zhang de 19
anos.
Para a maioria, foi um
baptismo de fogo enfrentar profissionais do World Tour e, por isso, não
surpreendeu ver as camisolas chinesas sobretudo no gruppetto. Mas um chinês
deixou marca na corrida – o antigo corredor da China Anta que agora integra a
XDS Astana, Haoyu Su. Marie espera que mais ciclistas sigam os seus passos.
Mudança
de mentalidade
“Temos alguns rapazes com
grande potencial e a equipa está a dar cada vez mais credibilidade à China”,
disse Marie. “Também ajuda quando antigos corredores voltam às suas províncias,
porque podem explicar como se treina na Europa. Eles quase que se tornam
treinadores."
“Mas é um processo longo e
ainda há muito a fazer, porque a China é enorme. As províncias são muito
poderosas, por isso temos de ir devagar na melhoria de métodos de treino e de
preparação. Na província de Yunnan, por exemplo, construíram uma pista coberta
com um quilómetro, e fazem treinos de 200 km nessa pista. Imaginem, 200 voltas!
Destrói a cabeça dos rapazes… Mas os nossos estão, aos poucos, a ficar mais
fortes, e a equipa técnica também está a aprender.”
“É uma cultura completamente
diferente da europeia”, diz Marie. “Todas as bicicletas são feitas na China e
agora toda a gente quer encontrar um patrocinador chinês. Recebemos muitas
mensagens, ‘Podem ajudar-nos a trazer um ciclista chinês por causa do mercado
chinês?’ E se na Europa houver interesse em integrar ciclistas chineses por
essa via, então é um bom caminho para chegar um dia à Volta a França…”
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