Por: Ivan Silva
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
A INEOS Grenadiers atravessa
uma fase de transformação profunda. A entrada da TotalEnergies como
patrocinador secundário em 2025 e principal a partir de 2027 marca o início de
uma nova era que poderá culminar com o fim da licença britânica da equipa e, na
prática, com o desaparecimento da última grande estrutura britânica do ciclismo
mundial.
O
declínio de um império
Durante mais de uma década, a
INEOS, sucessora da Sky, simbolizou a supremacia britânica nas Grandes Voltas,
com triunfos consecutivos na Volta a França por Bradley Wiggins, Chris Froome e
Geraint Thomas. Mas os tempos mudaram. O ciclismo britânico, outrora referência
mundial, vive agora um período de regressão acentuada.
O país conta atualmente com
apenas uma equipa profissional masculina, menos do que nações com escassa
tradição ciclística, como Marrocos, Roménia ou Irão. A Volta à Grã-Bretanha,
principal prova do calendário nacional, reduziu-se a seis etapas, reflexo da
falta de financiamento e de uma base estrutural cada vez mais frágil.
A iminente reforma de
Cavendish e Thomas, e o ocaso competitivo de Froome, simbolizam o fim de uma
geração dourada, e deixam um vazio que o sistema britânico não tem conseguido
preencher.
Dificuldades
em manter o ADN britânico
A própria INEOS tem sentido
essa erosão interna. A saída de Tom Pidcock e Ethan Hayter, dois dos maiores
talentos do Reino Unido, expôs o descontentamento com a gestão e a ausência de
um projeto coeso para os ciclistas britânicos. Atualmente, o núcleo da equipa é
cada vez mais internacional, com Carlos Rodríguez e Joshua Tarling como
exceções de relevo.
Nos últimos anos, a equipa
perdeu também a influência e a aura de invencibilidade que a caracterizavam até
2021. Apesar de continuar entre as formações mais poderosas do WorldTour,
deixou de ser o padrão de excelência que rivalizava com o domínio atual da UAE
Team Emirates - XRG e da Team Visma | Lease a Bike.
A nova
era TotalEnergies
A parceria com a TotalEnergies
representa, por um lado, um novo fôlego financeiro, mas, por outro, uma mudança
de identidade. O acordo prevê que a petrolífera francesa cubra um terço do
orçamento anual da equipa, cerca de €15 milhões, o mesmo valor que investe
atualmente na sua estrutura de segunda divisão.
O orçamento total manter-se-á
ligeiramente acima dos €50 milhões, sem aumento substancial, mas com uma clara
redistribuição: a INEOS reduzirá o investimento direto, enquanto a
TotalEnergies assume maior protagonismo.
A médio prazo, tudo indica que
a equipa poderá passar a ter licença francesa, algo que, segundo o Cyclingnews,
pode concretizar-se entre 2028 e 2029. Essa transição já se reflete no mercado
de transferências, com as contratações do campeão francês Dorian Godon e de
Kévin Vauquelin, dois símbolos da nova aposta francófona.
O
regresso ao topo passa por França
A aproximação à TotalEnergies
redefine a rota da equipa, de estrutura britânica dominadora para um projeto
europeu de matriz francesa. A eventual chegada de Paul Seixas, o supertalento
francês atualmente na Decathlon AG2R La Mondiale, reforçaria essa transição.
Com base em Nice e Mónaco,
onde residem muitos dos seus ciclistas, a INEOS já opera de facto num ambiente
francófono, e a integração plena na estrutura francesa parece agora um desfecho
natural.
Apesar das mudanças, o futuro
da equipa não está em risco. O financiamento está assegurado e o projeto mantém
estabilidade. O que está em causa é a identidade, num momento em que o ciclismo
britânico se afasta do topo e a França recupera espaço no coração da estrutura
que um dia simbolizou o auge do ciclismo do Reino Unido.
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