sábado, 22 de novembro de 2025

"Paris tem um cheiro diferente... e a corrida também" Lenda do ciclismo lamenta alterações na Volta a França”


Por: Carlos Silva

Em parceria com: https://ciclismoatual.com

A Volta a França de 2025 introduziu uma mudança que entusiasmou grande parte dos adeptos de ciclismo. Na histórica etapa 21, em Paris, o tradicional percurso ao longo dos Campos Elísios, habitualmente reservado aos sprinters, foi substituído por um formato de clássica com Montmartre como subida decisiva, onde Wout van Aert superou Tadej Pogacar para encerrar a edição. O sucesso levou à confirmação de que a fórmula se repetirá em 2026, ainda que com menor inclinação. A inovação continua a gerar entusiasmo, mas também motivou críticas por parte dos puristas.

Entre essas vozes está Marcel Kittel, um dos melhores sprinters puros da última década, vencedor de 14 etapas na Volta a França, que lamenta a transformação do Tour. No podcast Domestique Hotseat, o alemão falou de forma particularmente sincera sobre aquilo que considera ser uma erosão do espaço competitivo reservado aos homens rápidos.

Para Kittel, a redução das oportunidades para os sprinters representa uma ameaça ao equilíbrio histórico da corrida. "Costumava haver oito ou dez hipóteses", recorda. "Agora, se tivermos sorte, há quatro." Mais do que um simples ajuste no percurso, vê uma perda gradual do território que definia a sua especialidade.

 

Etapas planas em risco

 

O antigo campeão é claro ao defender que não se pode exigir espetáculo em etapas que não o permitem. "Se uma etapa é completamente plana, não se pode esperar um milagre só porque há sprinters", explicou. Considera injusta a pressão sobre as equipas para animarem a corrida em dias onde o pelotão necessita de recuperar e onde o traçado não favorece ataques ou caos tático.

"A etapa é tão emocionante quanto o percurso o permite", sublinha. Quando os raros dias planos se tornam etapas de transição com dureza excessiva, os sprinters ficam sem espaço para construir a sua estratégia de sobrevivência na montanha em troca de prémios nos sprints finais.

Mas é quando aborda o fim do Tour que a emoção transparece mais. Para Kittel, o sprint nos Campos Elísios não era apenas tradição, era a recompensa lógica após três semanas de sacrifício. "Perdeu-se uma grande tradição", lamenta, num tom que denuncia a dimensão pessoal da crítica.

 

A memória de Paris através do olhar de um sprinter

 

Com 89 vitórias profissionais, incluindo 14 no Tour, quatro na Volta a Itália e uma na Vuelta, Kittel fala com autoridade. Ganhou duas vezes na chegada parisiense, e cada detalhe permanece vivo na sua memória.

Recorda o momento em que a atmosfera mudava antes da última batalha: "Entrar em Paris, chegar aos Campos Elísios, cruzar a linha da meta pela primeira vez... sente-se imediatamente que está a começar um momento crucial." A descrição torna-se quase sensorial. "Paris tem um cheiro diferente. Sobretudo os Campos Elísios. Cheira a comida e a perfume. Não é como as outras chegadas do Tour."

 

Um ciclismo em mudança

 

Kittel reconhece que o ciclismo evoluiu e que os sprinters atuais têm de se adaptar. "Têm de ser mais versáteis. A competição também mudou: praticamente todas as equipas têm agora o seu próprio sprinter e cada oportunidade é mais valiosa precisamente porque há menos."

"Cada sprint é mais difícil do que antes", admite. Com menos dias à sua medida, os velocistas enfrentam maior pressão em cada tentativa.

O alemão não pede um regresso ao passado, nem critica a inovação por princípio. A sua mensagem é diferente: o Tour não pode esquecer o que o tornou único. As etapas para sprinters eram parte essencial do equilíbrio natural da corrida, funcionavam como contraste, oportunidade, recuperação e tensão pura no derradeiro dia.

"É uma parte do que faz com que a Volta seja a Volta", conclui.

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