Por: Carlos Silva
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
Mathieu van der Poel já gravou
o seu nome na história como um dos ciclistas mais versáteis e dominadores da
era moderna. É campeão do mundo de estrada, de ciclocrosse e de gravel, e já
venceu as mais prestigiadas clássicas do calendário - Milan-Sanremo, Volta à
Flandres e Paris-Roubaix. No entanto, há uma conquista que ainda lhe escapa: o
título olímpico de BTT.
Ao longo dos anos, o
neerlandês tem tentado conciliar a modalidade com o seu extenso calendário na
estrada e no ciclocrosse, mas sem sucesso. Para Richard Groenendaal, antigo
campeão mundial de ciclocrosse e profundo conhecedor do seu compatriota, o problema
é claro: falta dedicação exclusiva.
“O ciclismo de montanha é um
desporto muito especializado. Isso vai exigir adaptações para Mathieu van der
Poel. Mas não sei exatamente quais serão esses ajustes”, afirmou Groenendaal à
Wielerevue. “Ele teve sucesso no passado, ganhou campeonatos nacionais,
europeus e etapas da Taça do Mundo. Mas isso aconteceu quando ainda não era
ciclista do World Tour e podia combinar a época de BTT com o ciclocrosse.”
“Se quer
o ouro, tem de mudar o calendário”
Segundo o especialista, a
abordagem atual de Van der Poel impossibilita qualquer ambição real de
conquistar o ouro olímpico. “Nos últimos anos, ele só competiu em duas provas
de BTT: em Nove Mesto e no Campeonato do Mundo. Se ele quer realmente chegar ao
ouro, terá de ajustar drasticamente o seu calendário de estrada.”
Van der Poel concentra-se
sobretudo nas clássicas da primavera e por vezes adiciona a Volta a França e os
Campeonatos do Mundo aos seus objetivos principais. Juntar a isso a exigência
do ciclocrosse no inverno, onde continua a ser dominador, torna praticamente
impossível uma preparação ideal para o BTT.
“Se o percurso for semelhante
a uma pista de ciclocrosse refinada, ele terá hipóteses. Mas se for um circuito
duro, com longas subidas e secções técnicas, será muito difícil para o Van der
Poel”, acrescenta Groenendaal.
O dilema
das prioridades
Com o recorde de títulos
mundiais de ciclocrosse ao seu alcance e uma possível inclusão olímpica da
disciplina em 2030, Van der Poel dificilmente abdicará dessa vertente. A grande
dúvida reside, portanto, no que estará disposto a sacrificar na estrada.
“Também já combinei três
disciplinas, mas isso foi noutra época. Nessa altura, as corridas duravam duas
horas e meia a três horas e eu não me dava bem com a bicicleta de montanha. Não
era bem a minha disciplina”, recorda Groenendaal.
O antigo profissional acredita
que, se Van der Poel quiser realmente perseguir o sonho olímpico, terá de mudar
radicalmente de abordagem. “O ciclismo evoluiu. Ele também está a envelhecer.
Já ganhou tudo na estrada, por isso há espaço para se concentrar no BTT. Mas
isso exigirá mais tempo e um compromisso maior do que aquele que teve há oito
anos, quando foi campeão europeu.”
“Nem
todos temos de ter opinião sobre Van der Poel”
Ainda assim, Groenendaal
admite que a pressão constante e as opiniões externas não ajudam o neerlandês a
tomar decisões de forma serena. “Na verdade, penso que nem todos devemos ter
uma opinião sobre o que Van der Poel deve ou não deve fazer. Se ele tem ambições
olímpicas no ciclismo de montanha, saberá certamente o que fazer, pelo menos
muito melhor do que nós.”
Para Groenendaal, o equilíbrio
que Van der Poel encontrou entre as modalidades é também o segredo da sua
longevidade. “O ciclocrosse não requer muita energia. Ele faz isto num curto
espaço de tempo e precisa desse estímulo. É assim que se mantém motivado,
porque é a disciplina em que cresceu. A transição do ciclocrosse para a estrada
é fácil para ele, já que esses mundos são tecnicamente mais próximos. O
ciclismo de montanha é simplesmente um desporto completamente diferente.”
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