Por: Ivan Silva
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
A Volta à Holanda 2025 viveu
um dos episódios mais caóticos da sua história recente. A 3ª etapa foi
cancelada a meio da corrida, na tarde de sexta-feira, após uma sucessão de
incidentes de segurança que colocaram em risco o pelotão e obrigaram a organização
a interromper a prova.
De acordo com o WielerFlits,
os ciclistas foram parados depois de veículos entrarem em sentido contrário no
percurso, um cenário de enorme perigo que levou à decisão imediata de abandonar
a etapa. O incidente ocorreu depois de uma colisão já registada durante a
partida neutralizada, envolvendo um carro e vários ciclistas, um prenúncio do
caos que se seguiria.
Falha
organizacional e ausência policial
O diretor da prova, Thijs
Rondhuis, com vasta experiência na organização através da TIG Sports,
dirigiu-se aos diretores desportivos num discurso emotivo, reconhecendo a
gravidade da situação e assumindo a responsabilidade pela decisão.
“O que aconteceu hoje foi que
25 agentes de trânsito previstos para a zona neutra simplesmente não
apareceram”, explicou Rondhuis. “Isso tornou a neutralização caótica. A partir
do quilómetro zero, tudo estava totalmente seguro, mas depois deparámo-nos com
várias situações em que outros condutores ignoraram os sinais de paragem. Foram
mandados parar, voltaram a arrancar, e isso é a linha vermelha. Sem o apoio da
polícia, não podemos garantir a segurança.”
A falta de policiamento
revelou-se o fator decisivo. Sem controlo adequado das estradas, vários
veículos entraram inadvertidamente na rota da corrida, tornando impossível
garantir condições seguras para o pelotão.
“Estamos a parar por duas
razões”, acrescentou Rondhuis. “A primeira, e de longe a mais importante, é a
segurança. A segunda é que temos de usar esta situação para garantir que, no
futuro, teremos presença policial suficiente para continuar a organizar corridas
como a Amstel Gold Race, a ZLM Tour e a Volta à Holanda.”
A mensagem foi clara e
contundente: “Sem polícia, as corridas não são possíveis.”
A crise
do policiamento nas corridas neerlandesas
Nos últimos anos, várias
organizações de corridas nos Países Baixos têm enfrentado dificuldades
logísticas e financeiras devido à crescente escassez de agentes policiais
disponíveis para acompanhar eventos desportivos. Em algumas provas, têm sido
usadas equipas civis de controlo de trânsito, mas o incidente desta sexta-feira
mostrou os limites desse modelo.
Rondhuis admitiu que a
organização tentou “fazer funcionar” o evento sem apoio policial direto, uma
decisão motivada pela necessidade de contenção de custos e burocracia, mas
reconheceu o erro:
“Toda a gente sabe que temos
tentado realizar esta corrida sem o apoio da polícia. No sábado e no domingo a
situação será completamente diferente, estaremos noutras províncias onde a
segurança está garantida. Mas quando a segurança não pode ser garantida, não
podemos continuar. Há uma linha vermelha. Sem a polícia, não podemos correr.”
Regresso
com garantias de segurança
Após o cancelamento, o diretor
da corrida apresentou desculpas públicas a ciclistas e equipas, garantindo que
as etapas 4 e 5 decorrerão em total segurança.
“No sábado, vamos correr em
Drenthe, à volta do VAM-berg. Essa etapa será totalmente protegida pela Motor
Escort Team Assen, que também geriu a Elfstedenrace e a Dwars door Drenthe.
Garanto-vos pessoalmente a vossa segurança. No domingo, corremos num circuito
fechado em Arnhem, também aí garanto a segurança.”
Visivelmente emocionado, Rondhuis concluiu:
“Neste momento, estou mais
perto das lágrimas do que do riso. Mas não pode haver discussão quando se trata
de segurança. Tentámos, pensei que era possível, mas afinal não é. Por vezes,
temos de admitir que algo não funciona. A corrida termina aqui. Continuaremos
no sábado. E, mais uma vez, as minhas desculpas.”
As suas palavras foram
recebidas com aplausos e compreensão por parte das equipas, num raro momento de
unidade entre organizadores e pelotão.
Reflexão
para o futuro do ciclismo neerlandês
O incidente da Volta à Holanda
lança um alerta profundo sobre o futuro da segurança nas corridas nos Países
Baixos, um país com uma longa tradição no ciclismo de estrada, mas que enfrenta
crescentes desafios organizativos.
A mensagem de Rondhuis ecoa
por todo o pelotão: sem o apoio institucional e policial, o modelo atual de
corridas em estrada está em risco. E se a Volta à Holanda de 2025 ficará
marcada por um dia negro, poderá também tornar-se o ponto de viragem para um novo
debate sobre como garantir que o ciclismo neerlandês continua seguro,
sustentável e viável.
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