terça-feira, 1 de julho de 2025

“Ben O'Connor revela o preço de ser ciclista profissional: "É a coisa que mais sinto falta"


Por: Carlos Silva

Em parceria com: https://ciclismoatual.com

Pela primeira vez na sua carreira, Ben O’Connor será o líder de uma equipa australiana na Volta a França. Aos 29 anos, o trepador natural de Perth fecha um ciclo emocional ao encabeçar a Team Jayco AlUla na maior corrida do calendário mundial, naquele que será também a sua primeira Grande Volta ao serviço da formação do seu país natal.

"É a maior corrida do mundo e terei orgulho em liderar a corrida para a classificação geral com a Team Jayco AlUla", disse O’Connor, num comunicado oficial. "Espero que possamos acabar em Paris com um resultado muito bom. Penso que será interessante ver como um australiano se porta numa equipa australiana, lutando até Paris pela classificação geral."

Depois de alguns anos como figura de confiança da Decathlon AG2R La Mondiale nas Grandes Voltas, O’Connor mudou-se para a Jayco em 2025 com a ambição clara de assumir o protagonismo. Quarto classificado na Volta a França de 2021, o australiano regressa agora à prova com credenciais reforçadas: em 2024, subiu ao pódio da Volta a Espanha e conquistou a medalha de prata nos Mundiais de estrada, apenas batido por Tadej Pogacar. O desafio de liderar a única equipa World Tour australiana numa corrida tão simbólica para o país não lhe passa ao lado.

"É algo pelo qual estou realmente ansioso, algo de que me orgulho muito e algo que também quero promover para o ciclismo na Austrália", reforça.

A ligação de Ben O’Connor ao ciclismo nasceu muito antes das vitórias. Cresceu nos subúrbios soalheiros de Perth, rodeado de campos abertos, falésias, redes de críquete e campos de ténis, onde o rio era o epicentro da aventura. "Estávamos sempre junto ao rio ou dentro dele, e isso era uma coisa tão fixe", recorda. "Era uma espécie de escape na natureza dentro dos subúrbios da cidade."

O espírito de aventura já corria nas veias da família. Os pais de O’Connor emigraram do Reino Unido para a Austrália nos anos 80 com pouco mais do que vontade de recomeçar. "O meu pai sempre quis partir o mais depressa possível e a minha mãe estava convencida da ideia. Não tinham dinheiro, não tinham absolutamente nada", recorda. "É uma loucura como tudo mudou."

Apesar de reconhecer a herança britânica, Ben sente que as suas raízes estão na Austrália. "Quando era jovem, ia muito [a Liverpool], mas já há algum tempo que não vou, talvez há 10 anos."

 

Do Swan River às estradas de França

 

O seu primeiro contacto com o ciclismo competitivo foi quase acidental: viu a bicicleta de estrada do pai de um amigo e sentiu uma atração imediata. Os pais compraram-lhe uma bicicleta e sem treinador, sem clube e sem companhia, já que o amigo recusava pedalar com ele por considerá-lo "muito perigoso", começou a dar voltas sozinho à beira do Swan River. "Foi assim que comecei", resume.

Essa persistência solitária revela algo essencial sobre o seu percurso: a carreira de O’Connor não nasceu moldada por academias ou estruturas de alto rendimento, mas sim pela vontade de pedalar e descobrir os próprios limites.

Hoje, como quase todos os trepadores do pelotão, Ben reside em Andorra, onde pode treinar em altitude e preparar-se para os desafios mais duros da temporada. Mas essa escolha tem um preço emocional.

"É a coisa de que mais sinto falta por viver em Andorra, a coisa de que mais sinto falta por estar na Europa... a praia", admite. Não se trata apenas de nostalgia. "Sinto falta do oceano, sinto falta do som do mar, da profundidade, da frescura. Adoro o facto de estar sempre a mudar."

Até no prato se nota a distância do seu país. "Também sinto falta do marisco australiano e da variedade de peixe que temos. Temos tantos recifes, um oceano profundo e imenso, os bancos de areia. Podia falar durante muito tempo sobre o peixe de que sinto falta. O peixe australiano não tem rival."

Com um historial de consistência e com uma capacidade como trepador reconhecida, O’Connor parte para esta Volta a França com ambições legítimas de terminar dentro do top-10. Mais do que isso, esta é uma oportunidade para mostrar que a aposta da Jayco AlUla faz sentido e que o ciclismo australiano tem, em casa, um rosto credível para os grandes palcos.

Depois de anos a pedalar pelas montanhas da Europa e a carregar o peso das expectativas de outros, é chegada a hora de Ben O’Connor testar o seu próprio teto, desta vez como chefe de fila de uma equipa que fala a sua língua e que partilha a sua origem.

A estrada até Paris começa agora. A travessia promete ser longa, dura e cheia de interrogações, tal como o próprio percurso que levou O’Connor de Perth até ao topo do ciclismo mundial.

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