Por: Miguel Marques
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
António Morgado é um ciclista
com uma confiança enorme e acredita que em 2026 pode dar um grande salto. O
português vai passar a trabalhar com Javier Sola, também treinador de Tadej
Pogacar, e falou sobre correr com o esloveno, a estreia na Volta a Itália ao
lado de João Almeida e até sobre a sua corrida de sonho.
Morgado chegou descontraído ao
estágio deste ano, a sua terceira época na UAE Team Emirates - XRG, onde
integra um bloco luso com Ivo Oliveira, Rui Oliveira e João Almeida. Tem
praticamente todo o calendário de 2026 definido desde o início.
“Vou começar como no ano
passado, começo com estas duas clássicas desta zona (Clássica Camp de Morvedre
e Grande Prémio Castellón – Rota da Cerâmica), Volta à Comunidade Valenciana,
depois faço Maiorca, Algarve, algumas clássicas”, disse Morgado ao CiclismoAtual,
CyclingUpToDate e ao TopCycling. Confirmou também presença na Figueira
Champions Classic. “Depois Giro, Volta à Áustria, Volta à Alemanha. Vou começar
Luxemburgo e depois faço algumas corridas em Itália”.
O seu parceiro de treinos,
tanto em Andorra como em casa, em Portugal, Almeida, será um dos líderes com
quem trabalhará este ano, na estreia de Morgado em Grandes Voltas na Volta a
Itália. “Sim, acho que é este ano. Espero estar ao lado do João [Almeida], ao
mais alto nível”.
Assume um papel totalmente de
gregário, com vontade de aprender, ajudar o compatriota e evoluir com as
exigências de uma corrida de três semanas. “A Volta a Itália é uma corrida onde
vou para aprender e para ajudar o João a 100%. Não vou com ambição de vencer
[para mim]. Estou lá para ajudar e espero estar em grande forma. É uma
oportunidade que vou viver. Estou muito feliz com a oportunidade”.
Morgado revelou-nos grande
parte do alinhamento da equipa para a Corsa Rosa: “Não sei muito, mas acho que
Jan Christen, [Igor] Arrieta, uma equipa jovem… o Florian [Vermeersch]”. Além
disso, podemos confirmar que tanto Adam Yates como Jay Vine também estarão na
partida, enquanto o último elemento do oito dificilmente estará já definido.
O português, puncheur por
natureza, impressionou em 2024 ao terminar quinto na Volta à Flandres, sempre
em progressão, num notável exercício de resistência.
Em 2025 abriu a época com
triunfo no Grande Prémio Castellón – Rota da Cerâmica, pódios na Clássica da
Comunidade Valenciana e no Troféu Calvià, e uma vitória muito celebrada na
Figueira Champions Classic, a principal prova portuguesa de um dia. Foi ainda
terceiro na De Brabantse Pijl, atrás de Remco Evenepoel e Wout van Aert. A
segunda metade do ano trouxe menos resultados, explicados por problemas
pessoais e de saúde.
“Tive problemas a mais. Quem
sabe, sabe… Depois o campeonato nacional de contrarrelógio foi complicado. Um
azar tirou-me um mês de bom trabalho, depois covid e problemas de estômago… Mas
o meu objetivo era recuperar, e acho que agora estou melhor e mais preparado
para a próxima temporada”.
Novo
treinador, novo Morgado?
Isto implica também uma grande
mudança na forma como se prepara. “Sim, mudei de treinador. Estava comigo há
três anos. Acho que é uma grande mudança para mim”. Morgado vai agora trabalhar
com Javier Sola, treinador responsável pela evolução de Tadej Pogacar desde
2024. “Acho que foi uma mudança importante. Vai iniciar um bom capítulo para a
equipa. Acho que encaixa melhor no meu tipo de treino, é algo que sempre quis,
estou muito feliz por finalmente poder treinar com o Javier Sola”.
Recorda a vitória na Figueira,
talvez o ponto alto de 2025. Venceu com um ataque a solo na penúltima subida do
dia, apesar de ser vigiado desde o arranque. “Sabia que se não fosse ao sprint,
ganhava o [Paul] Magnier. Tinha de fazer alguma coisa, ninguém queria fazer
nada, por isso ataquei e fui. Há dias bons e dias maus para todos, foi um dia
bom e consegui aproveitar. Claro que também há dias em que estás bem e ficas
para trás”.
O estilo ofensivo já é marca
da casa, com explosividade num pelotão onde os puncheurs vão perdendo espaço.
“Claro que gosto de atacar, mas para atacar também tenho de estar bem
fisicamente. Gosto de ser ofensivo, mas sei que se não for ofensivo não vou ganhar
a corrida. Sei que, se estiver num grupo que me favorece ao sprint, vou tentar.
Mas quando me sinto bem gosto de estar sozinho, gosto de grupos pequenos, gosto
de ir ao máximo. Claro que há vezes em que a tática da equipa não pede isso, ou
temos de resguardar a roda”.
Apesar de ter apenas 21 anos e
de estar longe do topo da hierarquia da UAE, Morgado traça ambições altas. “O
ano passado foi misto, estive quase a cumprir um objetivo na altura, que era
chegar aos 1000 pontos UCI, um objetivo um bocado estranho, mas chegar aos 1000
pontos e acabar no top 100. E é isso, não é fácil ganhar quando és ciclista.
Quando estás de fora, as pessoas acham que é fácil ganhar, é muito complicado…
Ganhei três corridas, mas ainda não é o que quero”.
O que quer então? A resposta
surpreende para um corredor de um país sem tradição nas clássicas do empedrado.
“Quero ser vencedor, não me interessa se é em corridas rolantes ou em subida,
quero ganhar. É isso que me motiva e o que quero fazer. Quero ser um killer, ir
lá e ganhar. Uma corrida que quero muito vencer é a Volta à Flandres, o mais
cedo possível”. Brinca dizendo que agora gosta de empedrado, mas o de Flandres
em específico.
“Vou fazer algumas corridas na
Bélgica”, diz, confirmando que a Flandres volta a estar no seu calendário. Há
dois anos foi quinto, “mas não tínhamos o melhor corredor do mundo (refere-se a
Pogacar). Agora tenho muito orgulho em ajudá-lo. Agora tenho muito orgulho em
ajudá-lo”. E o português não tem dúvidas de que, em Roubaix, é inevitável que o
Campeão do Mundo acabe por triunfar. “Ele vai ganhar um dia, de certeza”.
O sonho de ser um grande
voltista ou trepador ficou para trás? “Não sei, uma pessoa nunca pode prever o
futuro, mas acho que, se conseguir chegar ao nível que eu e os meus treinadores
pensamos que já alcançámos, vou conseguir ajudar o João em algumas etapas [no
Giro]. Sou dos primeiros a pôr mãos à obra, mas acho que posso fazer coisas
boas”. Ser um bom trepador importa, mas Morgado quer assumir um papel qualquer
que seja o terreno.
“Claro que, se eu puder fazer
a diferença entre o João ganhar o Giro ou cumprir esse objetivo, claro que vou
dar tudo por ele. Se for para trabalhar, trabalho, e é isso”. Para tal, fará
também trabalho específico para se adaptar às subidas brutais da Volta a
Itália. “O plano é perder peso a partir de agora. Agora estou a voltar de
férias… Já estive aqui, sei que consigo. Não perdi peso nos últimos anos”.
Morgado correu Flandres e
Paris-Roubaix com Tadej Pogacar esta primavera, mas não o vê como alguém fora
do comum, apesar do estatuto no pelotão e no desporto em geral. “É uma pessoa
normal. Estamos em missão para ganhar. Sabemos ao que vamos”.
Depois de integrar a equipa
para a época de 2024, Morgado ficou famoso por subir lado a lado com Pogacar
num estágio da equipa, impressionando quem o rodeava. Recorda esse momento,
antes mesmo de correr com as cores da UAE pela primeira vez: “Acho que passaram
a olhar para mim de forma diferente. Tentaram rebentar-me um bocado, mas
acabaram por rebentar eles próprios. Acho que começaram a olhar para mim com
respeito, que é necessário. Mas acho que ainda me vão respeitar mais”.
Por fim, falou também do Alto
de Montejunto, a subida da sua terra, que esteve em destaque na Volta a
Portugal deste ano: “Sim, é a serra onde cresci. Adoro essa sensação, passo lá
muito tempo e vou continuar a passar. E é uma sensação, por isso é um prazer
estar lá. Posso fazer o mesmo trabalho noutra montanha, mas nunca gostei tanto…
Aquele bocadinho, cerca de 10 minutos…” Morgado sobe pelo lado de Vila Verde,
gracejando que tem o KOM, melhor que Almeida, com cerca de 13 minutos de
escalada. “Vou para a mais constante, é aí que faço as minhas séries. É onde eu
e o João fazemos as nossas séries”.
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