Com a intenção de que o empresário não fosse incriminado no esquema de doping da equipa de ciclismo
Por: Lusa
Foto: Ricardo Jr.
O Ministério Público (MP) acusou
um inspetor da Polícia Judiciária (PJ) e Adriano Quintanilha, patrão da antiga
W52-FC Porto, de gizarem um plano para que o empresário não fosse incriminado
no esquema de doping da equipa de ciclismo.
A acusação do MP, a que a
agência Lusa teve acesso esta quarta-feira, sustenta que Adriano Sousa,
conhecido como Adriano Quintanilha, e o inspetor da PJ "decidiram
criar" um Código de Conduta falso, visando atestar que Quintanilha e a
Associação Calvário Várzea, que esteve na origem da W52-FC Porto e da qual era
presidente, desconheciam o esquema de doping em investigação no processo Prova
Limpa.
O documento foi depois dado
aos ciclistas e ao então diretor desportivo da equipa, Nuno Ribeiro, para
assinarem, com o objetivo de distanciar Adriano Quintanilha e a Associação
"da então indiciada conduta do diretor desportivo da equipa e dos seus ciclistas".
Fonte da Polícia Judiciária
indicou hoje à Lusa que o inquérito teve origem numa denúncia apresentada pela
própria PJ.
A investigação surge na
sequência das buscas realizadas em abril de 2022, no âmbito da Operação Prova
Limpa.
"O arguido Adriano Sousa,
alarmado com as consequências penais e disciplinares que aquelas condutas
acarretariam para si e para a Associação sua representada, decidiu delinear um
plano que visasse eximi-lo, a si e à Associação, de qualquer eventual responsabilidade
dos factos em investigação naquele processo", refere a acusação.
Segundo o MP, o empresário, de
72 anos, contactou então "o seu amigo, que sabia ser inspetor da Polícia
Judiciária, a exercer funções na Diretoria do Norte, e que sabia partilhar
consigo o mesmo sentimento de apego à equipa W52-FC Porto e ao ciclismo".
O inspetor da PJ, de 56 anos,
"ciente do pretendido pelo arguido, decidiu criar e executar, em conjunto
com este, um plano que permitisse alcançar os fins visados" pelo amigo.
Nesse sentido, os dois
arguidos "decidiram criar um documento que visasse atestar que Adriano
Quintanilha e a Associação "desconheciam as práticas que estavam em
investigação" no processo Prova Limpa "e que por isso nenhuma
responsabilidade penal, contraordenacional ou disciplinar lhes podia ser
assacada".
Assim, "na concretização
do plano delineado e com o propósito de diminuírem as repercussões negativas da
existência do processo" para a associação e para Adriano Quintanilha, os
dois arguidos "decidiram criar um Código de Conduta com data anterior a
abril de 2022", mês da realização das buscas e das apreensões efetuadas na
Operação Prova Limpa.
"Decidiram ainda os dois
arguidos, que desse documento constariam, em particular, cláusulas cujo
conteúdo atestasse que qualquer comportamento do diretor desportivo e dos
ciclistas que fosse violador das regras antidopagem teria sido tomado à revelia,
contraindicação e com o total desconhecimento da Associação e,
consequentemente, do seu presidente, o aqui arguido Adriano Sousa",
sustenta o MP.
Na posse do documento, datado
de janeiro de 2022, os dois arguidos, "sempre em comunhão de intenções,
decidiram entregá-lo ao diretor desportivo, Nuno Ribeiro, e aos ciclistas da
equipa, em particular os que haviam sido visados nas buscas, para que estes o
assinassem, bem sabendo que a data aposta no documento não correspondia à data
da elaboração e da assinatura do referido documento".
Segundo o MP, para convencer
Nuno Ribeiro e os ciclistas a assinarem o documento, Adriano Quintanilha alegou
que "estariam a proteger a equipa de ciclismo, a sua participação enquanto
ciclistas da W52-FC Porto e o seu trabalho".
A acusação diz que um dos
ciclistas só assinou o documento porque foi ameaçado por Quintanilha de que não
receberia o ordenado.
A Calvário Várzea, Adriano
Quintanilha e o inspetor da PJ estão acusados de falsificação de documento.
Quintanilha está também acusado de coação, enquanto o inspetor está igualmente
acusado de favorecimento pessoal.
O processo está na instrução,
fase facultativa requerida pelos arguidos.
Fonte: Record on-line
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