sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

“Carta Aberta sobre o Plano de Recuperação e Resiliência”


Carta Aberta sobre o Plano de Recuperação e Resiliência foi subscrita pela Federação Portuguesa de Ciclismo, pela MUBi – Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta e pela Federação Europeia de Ciclistas, e enviada aos Ministros do Planeamento, Estado e das Finanças, Ambiente e da Ação Climática., Ministra de Estado e da Presidência, Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, Secretário de Estado do Planeamento e Secretário de Estado da Mobilidade

 

Assunto: Priorizar os investimentos na mobilidade em bicicleta no Plano de Recuperação e Resiliência

 

Exmos. Senhores Ministros, é necessário priorizar os investimentos na mobilidade em bicicleta no Plano de Recuperação e Resiliência. Recomendamos alocar à bicicleta um investimento mínimo correspondente a 10% do capital investido no sector dos transportes, e também incentivos à aquisição e utilização da bicicleta.

A pandemia de COVID-19 causou desafios sem precedentes ao nosso país, não só em termos de saúde pública, mas criando também dificuldades socioeconómicas com muitas pessoas a perderem o seu emprego.

Contudo, testemunhámos também sinais encorajadores de resiliência. Apesar do uso do transporte público ter reduzido dramaticamente, milhões de cidadãos europeus passaram a utilizar a bicicleta como o seu principal meio de transporte.

A procura de novas bicicletas levou à rutura de stocks em numerosas lojas. Muitas cidades europeias responderam construindo ciclovias pop-up ou com outras medidas que permitissem o distanciamento físico entre pessoas. O inventário de medidas COVID-191, gerido pela Federação Europeia de Ciclistas (ECF), identificou que anunciada a criação de mais de 2300 km de ciclovias-COVID por toda a União Europeia, com um compromisso de investimento que ultrapassou os mil milhões de euros. A bicicleta é o “novo normal”.

No âmbito da preparação do Plano de Recuperação e Resiliência, consideramos urgente e essencial que este inclua investimentos na promoção da mobilidade ativa e, em particular, do uso da bicicleta. Com a Estratégia Nacional para a Mobilidade Ativa Ciclável 2020-20302, o Governo assumiu o objetivo de convergência da quota modal de viagens em bicicleta no território nacional com a média europeia até 2030.

<Os documentos orientadores da Comissão Europeia recomendam o reforço na mobilidade ativa e inteligente sob a iniciativa emblemática “Recarregamento e Reabastecimento”3. Céline Gauer, chefe do Grupo de Trabalho Recuperação e Resiliência no Secretariado Geral da Comissão Europeia, confirmou publicamente, no recente evento Urban Mobility Days, que “as ciclovias são precisamente o tipo de investimento que queremos ve no Mecanismo de Recuperação e Resiliência. 

Ciclovias criam 30% mais empregos na sua construção do que   projetos rodoviários convencionais”.  Para além dos benefícios económicos, é sempre importante referir que o investimento na mobilidade ativa contribui também para os objetivos em matéria de alterações climáticas.

Deste modo pedimos que o Governo implemente políticas que atribuam às deslocações em bicicleta a possibilidade de terem vantagens relativamente aos veículos movidos a combustíveis fósseis, no Plano de Recuperação e   Resiliência. 

 

Especificamente recomendamos:

 

1. O investimento mínimo de 10% do capital investido no sector dos transportes deve ser alocado à mobilidade em bicicleta.

 

a. Investir na promoção da mobilidade em bicicleta através de campanhas inseridas num esforço mais alargado de mudar a cultura de mobilidade em Portugal, incluindo apoio de iniciativas educacionais e motivacionais para o uso utilitário da bicicleta abrangendo adultos trabalhadores e crianças no âmbito da mobilidade escolar.

 

b. Promover a implementação de alterações do espaço público no sentido de aumentar a segurança dos modos ativos, nomeadamente medidas de acalmia de tráfego, zonas 30 e de coexistência.

 

c. Investir em redes de infraestrutura para a bicicleta ao nível urbano, periurbano, intermunicipal e regional.

 

d. Transformar ciclovias pop-up em infraestruturas permanentes.

 

e. Promover a implementação de soluções de multimodalidade e mobilidade partilhada, como parqueamento para bicicletas nos terminais de transporte público, em particular nas estações de comboio, e sistemas de bicicletas partilhadas.

 

f. Apoiar a implementação de zonas de emissões reduzidas em centros urbanos.

 

 

 

2. Incentivos à aquisição e utilização da bicicleta.

 

a. Incentivos à aquisição de bicicletas. Onde têm sido aplicados, em particular os apoios à compra de bicicletas elétricas, têm sido muito bem-sucedidos no aumento da procura de mercado e tornado a utilização da bicicleta mais atrativa para novos grupos da população. Como referência para valores mínimos do apoio anuais4, sugerimos:

i. Bicicletas convencionais - apoio de 50%, com um limite máximo de 200 euros, para um total de 5000 bicicletas.

ii. Bicicletas com assistência elétrica - apoio de 50%, com um limite máximo de 500 euros, para um total de 5000 bicicletas.

iii. Bicicletas de carga - apoio de 50%, com um limite máximo de 750 euros, para um total de 500 unidades.

 

b. Programa de incentivo a movimentos pendulares casa-trabalho em bicicleta, a exemplo dos que já existem em vários países europeus. Este tipo de programas tem um grande potencial na transferência modal efetiva do automóvel para a bicicleta nas deslocações quotidianas, e comprovadamente resulta num excelente retorno positivo para a sociedade, nomeadamente em termos de saúde pública e também, e, por conseguinte, de redução do absentismo laboral. Com base em dados desses programas (20 cêntimos por quilómetro), estimamos que seria necessário um valor na ordem de 5 milhões de euros anuais para a operacionalização do programa em Portugal.

 

Na União Europeia, a utilização da bicicleta gera anualmente mais de 150 mil milhões de euros de benefícios sócio-económicos5, ao mesmo tempo que suporta 650 mil postos de trabalho6. Contribui para a saúde pública e provou ser um meio de transporte extremamente acessível e resiliente durante a pandemia de COVID-19. Projetos relativos à mobilidade em bicicleta permitirão alocar fundos e executar investimentos de forma relativamente célere.

Por último, com a Estratégia de Mobilidade Sustentável e Inteligente, da Comissão Europeia, a reafirmar o objetivo de redução de 90% das emissões do sector dos transportes até 20507 e o Conselho Europeu a ter adotado a meta de redução nas emissões de pelo menos 55% até 2030, não se vislumbra nenhuma forma de alcançar tais objetivos sem um aumento substancial no uso da bicicleta.

Ora, contrariamente a estas orientações, a presente versão do Plano de Recuperação e Resiliência - sem investimentos propostos para a mobilidade ativa - destina 723 milhões de euros a infraestruturas rodoviárias. Numa análise ao Plano português, o Wuppertal Institute e o E3G apontam que a versão preliminar só alcançava 27% do investimento em ação climática8, abaixo do limiar mínimo de 37% determinado por Bruxelas.

Fonte: Federação Portuguesa Ciclismo

Sem comentários:

Enviar um comentário

Ficha Técnica

  • Titulo: Revista Notícias do Pedal
  • Diretor: José Manuel Cunha Morais
  • Subdiretor: Helena Ricardo Morais
  • Periodicidade: Diária
  • Registado: Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº: 125457
  • Proprietário e Editor: José Manuel Cunha Morais
  • Morada: Rua do Meirinha, 6 Mogos, 2625-608 Vialonga
  • Redacção: José Morais
  • Fotografia e Vídeo: José Morais, Helena Morais
  • Assistência direção, área informática: Hugo Morais
  • Sede de Redacção: Rua do Meirinha, 6 Mogos, 2625-608 Vialonga
  • Contactos: Telefone / Fax: 219525458 - Email: josemanuelmorais@sapo.pt noticiasdopedal@gmail.com - geral.revistanoticiasdopedal.com