Por: Carlos Silva
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
Às vésperas da Volta a França
de 2025, a UCI voltou a despertar descontentamento generalizado no seio do
ciclismo profissional. Numa declaração oficial em que o organismo máximo da
modalidade tentou destacar os efeitos positivos das suas recentes medidas de
segurança, a falta de autocrítica ficou evidente e não passou despercebida aos
ciclistas, dirigentes e jornalistas especializados.
Thijs Zonneveld, uma das vozes
mais críticas da modalidade, foi contundente na sua reação: "Mais uma vez,
está a colocar a responsabilidade pela segurança nos ciclistas. E os outros
71%? E o papel e a responsabilidade dos organizadores das corridas e da própria
direção?"
Também Richard Plugge,
diretor-geral da Team Visma | Lease a Bike, sublinhou a mesma incongruência,
recorrendo aos próprios dados do comunicado da UCI. "Deixe-me reformular:
a causa mais comum, ou o factor contribuinte mais significativo, é o ambiente
da corrida (71%), enquanto o erro do ciclista é responsável por apenas 29% dos
incidentes."
A crítica tem fundamento e
encontra eco em diversos episódios recentes. Não é preciso recuar muito para
recordar casos em que os organizadores de provas falharam na proteção do
percurso ou forçaram os ciclistas a correr em condições que colocavam em risco
a sua integridade física.
Há exemplos aparentemente
inócuos, como o desfecho controverso na etapa da Volta ao País Basco em que
Alex Aranburu foi inicialmente desclassificado e depois reconduzido à vitória.
Mas também há situações bem mais graves, como a queda de Mikel Landa durante a
Grande Partenza da Volta à Itália, em solo albanês. Nessa ocasião, uma curva
perigosa numa descida rápida carecia de qualquer barreira de proteção. A
instalação de redes de segurança, como as utilizadas em estações de esqui,
poderia ter atenuado as consequências da queda, que comprometeu a corrida e a
época do trepador basco.
Com a Volta a França à porta,
o timing da UCI levanta ainda mais dúvidas sobre a sua sensibilidade perante as
preocupações do pelotão. A percepção é clara: o organismo continua a apontar o
dedo aos ciclistas quando as falhas estruturais dos percursos e a gestão
deficiente de riscos por parte dos organizadores permanecem como causas
predominantes dos incidentes. O debate sobre a segurança, que permanece longe
de estar encerrado, parece estar prestes a intensificar-se nas estradas da
corrida mais mediática do mundo.
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