Por: Ivan Silva
Em parceria com: https://ciclismoatual.com
A Volta a Espanha 2025 chegou
ao fim de forma turbulenta, coroando Jonas Vingegaard vencedor, mas sem a
celebração habitual. O que deveria ter sido uma etapa final festiva em Madrid
transformou-se numa procissão inacabada, interrompida pelos protestos pró-palestinianos
que impediram a realização da 21ª etapa e levaram ao cancelamento da cerimónia
de pódio. Em vez do tradicional champanhe, o pelotão deixou Madrid em clima de
frustração e desilusão.
O jornalista belga Renaat
Schotte (Sporza) foi direto ao ponto: “Nestas circunstâncias, é difícil
organizar um grande evento como o Tour.” Para ele, a edição de 2025 expôs a
vulnerabilidade estrutural do ciclismo às manifestações públicas e criou um
precedente perigoso para as Grandes Voltas.
Israel -
Premier Tech no centro da controvérsia
A Israel - Premier Tech foi
alvo das manifestações durante toda a corrida. “A equipa tinha sete ciclistas
em prova, o que representa 4,5% do pelotão. Inicialmente, o protesto era
obviamente dirigido a esses ciclistas, mas o pelotão inteiro acaba por ser a
vítima”, explicou Schotte.
A formação encontrou-se num
impasse: retirada da corrida desvirtuava a competição, mas a sua permanência
manteve a pressão política. “A UCI não respondeu, o que significa que houve um
impasse e a equipa teve de decidir por si própria”, acrescentou.
Segundo Schotte, o problema
ultrapassou qualquer questão de provocação. “Não creio que isso tenha
funcionado como um pano vermelho extra para o touro. Simplesmente, houve uma
tal concentração de manifestantes que a corrida nem sequer pôde realizar-se. Os
organizadores não tiveram outra opção senão parar a corrida.”
Lições
para o Tour 2026
As atenções viram-se agora
para a Volta a França 2026, que terá início em Barcelona. Para a ASO,
organizadora das duas provas, a lição é clara: será necessário negociar
garantias políticas e reforçar a segurança. “O Tour começa no próximo ano em
Barcelona. Penso que a ASO vai pedir garantias aos políticos espanhóis”, disse
Schotte.
O contraste com a Volta a
França de 2025 é evidente. Apesar de ser o maior palco do ciclismo, a prova não
sofreu perturbações significativas. Mas, após o que aconteceu na Vuelta, os
organizadores estarão preocupados com a segurança da Grand Départ em Espanha.
Ausência de pódio, ausência de
memória
A Vuelta terminou sem pódio
nem celebração final, algo inédito na história recente do ciclismo. “Hoje não
vai haver cerimónia. É uma coisa terrível para um ciclista. Não se ganha uma
Vuelta todos os dias”, lamentou Schotte.
Para Jonas Vingegaard, João
Almeida, Tom Pidcock e os restantes protagonistas, a imagem que ficará será a
ausência de consagração. Alguns defendem a hipótese de uma cerimónia
alternativa no outono, mas Schotte deixa claro que “isso nunca substituirá a verdadeira
sensação de subir ao pódio como vencedor final”.
A Vuelta 2025 fecha assim como
uma edição histórica, mas pelas razões erradas. E lança uma sombra sobre o
futuro imediato das Grandes Voltas no atual clima geopolítico.
Pode visualizar este artigo
em: https://ciclismoatual.com/ciclismo/o-tour-vai-pedir-garantias-aos-politicos-espanhois-partida-da-volta-a-franca-2026-em-barcelona-esta-em-risco-apos-protestos-na-vuelta