Por: Tiago Gama Alexandre/Observador
Foto: @Dario Belingheri/@Getty
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Foi um dos destaques da Volta
a Espanha. É um dos maiores nomes desta temporada no ciclismo de estrada.
Chama-se João Almeida, tem 27 anos e é a principal figura do ciclismo português
depois de Joaquim Agostinho. Foi precisamente este domingo que o ciclista de
A-dos-Francos recolocou Portugal no pódio da Vuelta, 51 anos depois de
Agostinho o ter feito pela última vez. O ano tem sido de sonho, com dez
vitórias e a conquista de três provas por etapas de uma semana, culminando com
o histórico triunfo no Angliru e o segundo lugar na corrida espanhola. Almeida
foi o principal adversário do extraterrestre Jonas Vingegaard (Visma-Lease a
Bike), por entre as dúvidas depois da queda sofrida na Volta a França e a falta
de apoio do bloco da UAE Team Emirates-XRG.
Terminada a competição, de
forma repentina, no último domingo, o português voltou a galgar posições no
ranking individual da União Ciclista Internacional (UCI) e é agora o quinto
melhor ciclista da atualidade, atrás dos incontornáveis Tadej Pogacar (Emirates)
e Vingegaard, e ainda de Mads Pedersen (Lidl-Trek) e Mathieu van der Poel
(Alpecin-Deceuninck). Se tivermos em conta apenas os voltistas, o Bota Lume é o
terceiro melhor, apenas superado pelos extraterrestres. Nas últimas ficou ainda
a saber-se que o grande objetivo de Almeida para a reta final da temporada são
os Campeonatos da Europa, que começam em França no início de outubro. Nesse
sentido, João Almeida será o líder da Seleção portuguesa, que conta ainda com
Afonso Eulálio (Bahrain-Victorious), António Morgado (Emirates),
Nelson Oliveira (Movistar, vai
estar apenas no contrarrelógio) e Rui Costa (EF Education-EasyPost), declinando
a presença nos Mundiais do Ruanda.
Em entrevista ao programa E o
Campeão é…, da Rádio Observador, Almeida recordou a vitória no Angliru como uma
“vitória histórica e especial”. “Foi muito bom. A sensação que tenho é que não
daria para vencer. Terminamos num belo segundo lugar e com aspirações para
fazer melhor no futuro. Até ao último quilómetro da etapa 20 sempre acreditei.
Aí atirei a toalha ao chão, porque o Vingegaard estava na frente. Nos últimos
dias sentia-me doente, estava engripado. Não tinha nada a perder. Dei o meu
máximo e tentei deixá-lo em dificuldades. Não deu. Colocação? Tem vindo a
melhorar bastante. Já foi muito pior. Coloco-me na posição de poupar energia. O
segredo é saber quando não gastar energia. A minha capacidade de ‘esticar’ é
bastante boa, mas às vezes estou muito no limite e não consigo. Prefiro deixar
para o fim o esticão. Tento sempre correr da forma mais inteligente que consigo
e deixar para o fim as chamadas Almeidadas”, acrescentou o ciclista da
Emirates.
Quanto às críticas que se
abateram sobre a equipa do Médio Oriente no decorrer da Vuelta, o português
considerou que, “talvez num diazinho”, sentiu a falta de apoio dos seus
colegas. “No geral estivemos excelentes e a equipa apoiou-me bastante. Chega a
um certo ponto em que é cada um por si e que ter um companheiro não faz
diferença. Não estivemos perfeitos, mas demos o nosso melhor. Fugas? Não se
pagou o preço.
Há etapas que não são para a
geral, que são para a fuga. As etapas que eles venceram foram dias para a fuga.
Contrarrelógio? Sendo um contrarrelógio plano, a vantagem estava do meu lado.
Em 27 quilómetros ganharia mais [tempo], mas acredito que não faria diferença
para ganhar a Vuelta. Em termos de segurança a organização fez bem. Ayuso? Já
sabíamos que ele ia sair da equipa [antes do início da Vuelta]. Não sei porque
é que a equipa quis anunciar nessa altura [durante a competição]. Penso que ele
queria oportunidades. Numa equipa com Pogacar não é fácil fazer toda a gente
feliz. É o melhor de sempre. O que ele faz quase ninguém fez”, sublinhou.
“De início, a liderança era
termos dois líderes. Ia ser bom porque a Visma só tinha um. Sabíamos a
realidade, que a preparação do Ayuso não tinha sido a melhor. Na etapa de
Andorra houve uma desconexão mental [de Ayuso] e as coisas ficaram mais
esclarecidas. Gestão? Ter a camisola vermelha implica ir à cerimónia do pódio,
entrevistas, conferências de imprensa… perde-se uma hora e meia na recuperação.
Tudo conta no final de 21
etapas e temos de priorizar a recuperação. Correr a Volta a Portugal?
Antigamente tinha mais interesse e valor. Hoje em dia não tem tanto. Tem vindo
a perder a sua essência e o seu valor. A grande montra é lá fora. No início, a evolução
deve ser feita cá, mas lá fora é onde há mais experiência e conhecimento. É
mais duro, mas a recompensa é maior. A Seleção foi muito importante para o meu
desenvolvimento. Pódio improvisado? Foi um belo pódio humilde, num parque de
estacionamento, em que os lugares era geleiras. Foi organizado pela Visma e a
Q36.5. Gostei porque foi simples, uma coisa de amigos. Foi um dos melhores
momentos da minha carreira”, completou.
Quanto ao futuro, João Almeida
assumiu o objetivo de “ganhar uma Grande Volta”, depois de já estar
“satisfeito” com o seu “palmarés de corridas de uma semana”. “Se é o Giro, Tour
ou Vuelta, não sei. Ainda não preparámos a próxima temporada e temos de conciliar
com o Tadej. Gostava de voltar ao Giro, porque tenho uma história especial com
o Giro. Gostava de voltar e discutir a corrida. A Volta a França é número um e
isso sente-se claramente. Mundial? É opção minha. Não ia chegar bem e a
preparação não ia ser boa. Preferi dar oportunidade a outro atleta. Fazer
número não fazia sentido. Gosto muito da minha equipas, mas ter a bandeira de
Portugal ao peito dá outra sensação. Só quem representa percebe o sentimento
que é. Estamos a representar o nosso país, sem interesses de patrocinadores, e
queremos dar o nosso melhor. Ficar nos dez primeiros [do Europeu] seria um bom
objetivo”, finalizou o Bota Lume.
Fonte: MSN
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