"No futebol eles treinam todos em equipa e competem contra outras equipas. No ciclismo, somos todos amigos"
Por: Lusa
Foto: Lusa
As 'rivalidades' no pelotão
'esgotam-se' nas corridas, com a maioria dos ciclistas, como o líder da
montanha e dos pontos Hugo Nunes, a treinar na companhia de 'adversários',
sempre com a preocupação de não revelar segredos das suas equipas.
"Cada um faz o seu
trabalho, cada um tem o seu treinador. Mas isto é um bocado diferente do
futebol, porque no futebol eles treinam todos em equipa e competem contra
outras equipas. No ciclismo, somos todos amigos, acabamos por treinar juntos e
é uma animação. É sempre melhor do que treinar sozinho", destaca à Lusa o
vencedor da terceira etapa.
Hugo Nunes treina com Diogo
Barbosa, Diogo Pinto e Francisco Campos, todos da AP
Hotels&Resorts-Tavira-Farense, e vão aparecendo "mais uns miúdos
sub-23, de equipas de clube" para se juntar aos profissionais, que, apesar
de rivais na estrada, se animam uns aos outros.
"Como não temos um centro
de estágios, e não estamos normalmente em estágios com a equipa, vamos optando
por ter colegas de treino que, por vezes, não são da nossa equipa.
Encontramo-nos para treinar porque acabamos por nos sentir mais seguros por não
estarmos na estrada sozinhos", explica Francisco Campos, primo por
afinidade do 'rei da montanha' e líder da classificação por pontos da Volta.
Mas nem a amizade forjada por
muitas horas passadas lado a lado na estrada impede que haja picardias, como
reconhece o sprinter da equipa algarvia: "Às vezes até nos chateamos um
bocadinho, quando um está a puxar muito e o outro quer ir mais devagar".
Talvez por isso, Adrián
Bustamante confesse que preferencialmente prefere treinar sozinho, sem a
companhia do amigo e compatriota Santiago Mesa (Efapel), com quem até divide
casa.
"Dia a dia, tenho de
cumprir um plano de treino, fazer trabalho específico. Prefiro estar
concentrado a fazer essas coisas. Mas quando tenho de fazer duas horas [a
rolar], e o treinador diz para eu ir até à praia, tomar um café e ir tranquilo,
então sim digo para ele vir. Às vezes, é complicado, porque eu tenho de fazer
duas horas e ele três ou quatro, mas diz-me 'acompanho-te durante duas e depois
segues", diz à Lusa, em jeito bem-disposto o colombiano da Gi
Group-Simoldes-UDO.
Durante as horas a pedalar
juntos, os ciclistas vão falando de tudo e mais alguma coisa, desde a vida
pessoal, aos resultados das corridas e, claro, das suas próprias equipas, num
delicado balanço que exclui "alguns pormenores mais privados", como
refere Nunes.
"Costumo treinar com
colegas para aí de três equipas diferentes. O Gonçalo Amado, o Daniel Dias
[ambos da Rádio Popular-Paredes-Boavista], o Rui e o Ivo Oliveira, que estão
numa equipa WorldTour, o João Silva, que está numa equipa sub-23 ainda. Temos o
que partilhamos e o que não partilhamos. Há coisas que não devem sair de dentro
de 'casa', por assim dizer. Mas há outras coisas que partilhamos uns com os
outros, vamos aprendendo e crescendo todos juntos", descreve à Lusa
António Ferreira.
Ainda assim, o ciclista da
Efapel garante que "a rivalidade existe sempre". "Mas temos de
nos lembrar que treino é treino e corrida é corrida", pontuou.
Ferreira tem o privilégio de
treinar com um campeão olímpico, revelando que ele e os outros costumam brincar
com Rui Oliveira, o ciclista da UAE Emirates que ganhou o ouro no madison ao
lado de Iúri Leitão em Paris2024.
"Às vezes, há pessoas que
não o conhecem à primeira na estrada e brincamos com isso. Dizemos que as
pessoas têm dificuldade em acreditar que ele é campeão olímpico. Por aí é
engraçado. É muito bom ter dois ciclistas como o Rui e o Ivo, que estão num
nível completamente diferente, a treinar connosco e poder ver de perto como é
que eles trabalham é muito bom", salientou.
Fonte: Record on-line
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